O que houve com Valentim, deixando-o sem despedir-se, perdendo-se na multidão, ele jamais saberia. Só, novamente só,
com as suas trevas e o porrete de apalpar o chão. Passo a passo, muito devagar, retornou e tão só em si mesmo que não
percebeu sequer os que, a seu lado, regressavam às casas. Andou assim, sempre a pensar nos enforcados, até que reconheceu
o Largo da Palma pela aspereza das pedras e o macio da grama. Tudo o que queria, afinal, era o seu lugar no canto do pátio da
igreja.
E, ao aproximar-se, ao sentir o cheiro do incenso, pensou que naquele momento já cortavam as cabeças e as mãos dos
enforcados. Colocadas em exposição, no Cruzeiro de São Francisco ou na Rua Direita do Palácio, até que ficassem os ossos. O
Largo da Palma, porque sem povo e sem movimento, seria poupado. Ajoelhou-se, então, pondo as mãos na porta da igreja.
E, única vez em toda a vida, agradeceu à Santa da Palma ter nascido cego.
FILHO, Adonias. O Largo da Palma. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005. p. 96-97.
Inserindo-se o fragmento destacado na leitura global da novela “Os enforcados”, é correto afirmar: