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ID
3855640
Banca
IPEFAE
Órgão
IPSJBV - SP
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto para a questão.

“Master Gourmetização.” Desde que o picolé virou “paleta”, muita água passou pelo moinho da ressignificação. O cafezinho é hoje servido em estabelecimentos com tecnologia da Nasa, por “baristas” pós-graduados na Esalq e PhDs em “Mindfulness”, uma conversa sobre cervejas deixa um simpósio de enólogos parecendo papo de boteco e um mero brigadeiro tem mais pedigree do que o cachorro da rainha da Inglaterra. Pois neste programa – o Master Chef do marketing contemporâneo – três grupos compostos por profissionais de publicidade e comunicação competem para reformular algo que ainda não tenha sido tocado pelos ubíquos raios gourmetizadores. Digamos: o aviãozinho de papel, o sertanejo universitário, o nabo. O plano de ação deve incluir a descrição das lojas (ou cooperativas ou coletivos ou comunidades ou...) dos novos “produtos” e ações de marketing disfarçadas. Como, por exemplo, plantar numa coluna social fotos do Rodrigo Hilbert ou da Björk lançando seus aviõezinhos de papel especialmente projetados por Philippe Starck e customizados pelo Ai Weiwei. (Já vejo hipsters radicalizando e dizendo que todo aviãozinho de papel que tenha que dobrar o papel é uma concessão, que o aviãozinho de raiz é o A4 intocado, o aviãozinho ideia, o aviãozinho potência).
“Problematize já!”. Imagens ou frases aparentemente neutras são mostradas para os telespectadores, que deverão enviar vídeos de até dois minutos gravados em seus celulares (na horizontal) provando que aquilo é absolutamente ofensivo para algum grupo. Por exemplo, a foto de um pardal comendo uma minhoca: “Escolher, entre tantos pássaros que se alimentam de frutos ou sementes justamente aquele que come minhoca é uma tentativa de normalizar o carnivorismo e assinar embaixo do agronegócio que...”. A foto de um paralelepípedo: “Um igual ao outro, do lado do outro! Massificação! Padronização! Comunismo! Vai pra Cuba!”. A frase “Ivo viu a uva”: “A sentença ignora completamente toda a população de deficientes visuais que jamais viu uma uva. Por que não ‘Ivo tocou a uva’? Ou, para o caso de pessoas sem mãos, quem sabe, ‘Ivo sentiu a presença da uva’?” Um nabo: “Pouca vergonha! Isso aqui é um jornal família, mais respeito com o cidadão de bem!”.

FONTE: “Programas de TV que não existirão”, Antônio Prata, Folha de São Paulo

Na crônica acima o autor

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