SóProvas


ID
3877582
Banca
FUMARC
Órgão
Prefeitura de Matozinhos - MG
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

DÉMODÉ*
Mário Viana

    Na próxima faxina, vai ser preciso empurrar para o fundo do armário os barquinhos de maionese, os picles espetados no repolho e as taças de coquetel de camarão. Com jeitinho, também cabem o bilboquê e o ioiô que apitava. É necessário espaço para acomodar tudo aquilo que sai de moda. Por exemplo: as expressões “com licença”, “por favor” e “obrigado” estão, todas, caindo no mais completo desuso, feito uma calça de Tergal ou uma camisa Volta ao Mundo.
    Atualmente, gentileza só gera gentileza em fotinho de rede social. Na real, o que vale de verdade é a versão urbana da lei da selva. Incontáveis vezes, sou pego de surpresa na sala do cinema ou do teatro por uma pessoa plantada de pé, ao meu lado, esperando que eu abra caminho para sua passagem. Eu cedo e ela passa, sem emitir um som. Faz sentido: se não pede licença, a criatura não sabe agradecer. Nos ônibus e metrôs também há o bônus da mochila, cada vez maior e mais pesada. Deduzo que todas elas são recheadas de livros, cadernos, pares de tênis, roupa de frio, marmita, duas melancias, um bote inflável (nunca se sabe quando a chuva vem) e, desconfio ainda, o corpo embalsamado do bicho de estimação. Só isso explica a corcova sólida e intransponível que bloqueia corredores a qualquer hora do dia ou da noite. Nem adianta apelar para a antiga fórmula do “com licença”. Ela perdeu o significado.
    Outro item fadado à vala comum dos esquecidos é a letra R, usada no final de algumas palavras para significar o infinitivo de um verbo. Fazer, beijar, gostar, perder, seguir — você sabe que são verbos justamente por causa da última letra. Pois não é que as redes sociais, mancomunadas com a baixa qualidade do ensino, estão aniquilando a função do R? No Twitter, é um verdadeiro festival de “vou faze bolo pq o Zé vem me visita”.
    Para decifrar alguns posts — marcados também pela absoluta ausência de vírgulas, acentos e pontos —, é preciso anos de estágio nos livros de José Saramago e Valter Hugo Mãe. Apegar-se à ortografia tradicional é perda de tempo e beira a caretice reclamar. Uma vez, corrigi alguém no Twitter e fui espinafrado até a última geração. “O Twitter é meu e eu escrevo do jeito que quise” — sem o R, claro. Não se trata de ataque nostálgico. O tempo dos objetos passa, a língua tem lá sua dinâmica e até mesmo as fórmulas de etiqueta mudam conforme o tempo ou o lugar — até hoje, os chineses arrotam para mostrar que gostaram da refeição. Mas prefiro acreditar que um pouco de gentileza sem pedantismo nunca vai fazer mal a ninguém.
    Escrever certo deveria ser princípio fundamental para quem gosta de se comunicar. Ironicamente, nunca se escreveu tanto no mundo: nas ruas, salas de espera, ônibus, em qualquer lugar, há sempre alguém mandando um torpedo no seu smartphone do último tipo. Às vezes, chego ao fim do dia exausto de ter “conversado” com gente do mundo inteiro. Espantado, eu me dou conta de não ter aberto a boca. Foi tudo por escrito — e-mail, post, Twitter, torpedo. Se isso acontecer com você, faça como eu: cante alto, solte um palavrão, fale qualquer coisa sem sentido, principalmente se estiver sozinho em casa. Apenas ouça o som que sai da sua garganta. Impeça que sua voz, feia ou bonita, vire um item fora de moda.

Disponível em: https://vejasp.abril.com.br/cultura-lazer/cronica-demode-mario-viana/ Acesso em: 13 set. 2018. 

*Démodé: fora de moda

I. Daqui ___ alguns anos estaremos sem água, se não mudarmos de postura.
II ___ dias que não o vemos.
III Todos chegaram ___ tempo.

A alternativa que preenche corretamente as lacunas das orações é

Alternativas
Comentários
  • Gabarito: D

    I. Daqui a alguns anos estaremos sem água, se não mudarmos de postura → Preposição "a" indicando projessão temporal (algo que ainda virá a ocorrer).

    II.  dias que não o vemos → Verbo "haver" indicando tempo decorrido, trata-se de um verbo impessoal, não possui sujeito.

    III. Todos chegaram a tempo → Somente preposição "a" usada antes do substantivo masculino "tempo" para marcar uma locução adverbial de tempo com base masculina. 

    ➥ FORÇA, GUERREIROS(AS)!!

     

  • I.Quando o "a " está sozinho e a segunda palavra está no plural = CRASE.

    II. Há = no sentido de tempo decorrido

    III.o Tempo palavra masculina

  • A questão é sobre o acento indicativo de crase. Vejamos:

    I. Daqui ___ alguns anos estaremos sem água, se não mudarmos de postura. 

    A é preposição usada para indicar tempo FUTURO.

     .

    II ___ dias que não o vemos. 

    é verbo impessoal que indica tempo PASSADO. (= Faz dias que não o vemos.)

    O verbo “haver” no sentido de "O FERA" (Ocorrer, Fazer, Existir, Realizar-se e Acontecer) é impessoal e por não possuir sujeito ele fica na 3ª pessoa do singular.

     .

    III Todos chegaram ___ tempo.

    "A tempo" é uma locução adverbial masculina, logo, não há que se falar em crase!

     .

    Gabarito: Letra D

  • Oi, Mateus!!

    (sou fã de seus comentários ❤️)

    Acho que tu quiz dizer:

    I.Quando o "a " está sozinho e a segunda palavra está no plural = SEM CRASE.

    Abç!!!

  • I - é proibido o uso de crase antes de pronomes indefinidos. " algum(a)(s), alguém, nenhum(a)(s), ninguém, todo(a)(s), tudo, outro(a)(s), outrem, muito, tanto, pouco, certo, vários, quanto, qualquer, quaisquer, nada, cada, algo.