Essa coisa da realidade, essa dificuldade, esse suposto confronto entre poesia e realidade, talvez ele não exista verdadeiramente, ou será que existe? Manuel Bandeira tem razão quando diz que estamos imersos em poesia e isso é uma grande verdade. Ao mesmo tempo, João Cabral também está certo quando diz, nos versos finais de Uma faca só lâmina, que a realidade arrebenta com toda palavra; isso também é uma verdade. São contradições? São. Mas o que importa é que ambos dizem verdades. É que a realidade é uma coisa muito difícil, imensamente difícil de saber. As palavras, quer dizer, essa coisa da fala, como se fosse um canto geral, uma música, uma verdadeira música que o homem diz nas circunstâncias mais banais, têm um sentido de uma intensidade admirável; não há no mundo palavra que seja uma palavra perdida, ao contrário das balas. As palavras acertam fundo; todo o discurso humano é um canto realmente extraordinário. Isso ultrapassa o país, isso ultrapassa as fronteiras. Agora, o ouvido é pequeno, o ouvido é insuficiente, o ouvido realmente não dá, não tem a medida do diapasão desse canto, que é o canto da realidade, do qual, no entanto, não desistimos, não desanimamos de escutar onde quer que estejamos.
Francisco Alvim. In: Flora Süssekind e Tânia Dias (org.).
Cultura brasileira hoje: diálogos. Rio de Janeiro:
Fundação Casa de Rui Barbosa, 2018. p. 236.
Internet:<http://www.casaruibarbosa.gov.br/>
(com adaptações).
Com base no texto acima, assinale a alternativa correta acerca de literatura, cultura e realidade.