- ID
- 3894319
- Banca
- COMVEST - UNICAMP
- Órgão
- UNICAMP
- Ano
- 2019
- Provas
- Disciplina
- Português
- Assuntos
Em 1961, o poeta António Gedeão publica o livro Máquina
de Fogo. Um dos poemas é “Lágrima de Preta”. Musicado
por José Niza, foi gravado por Adriano Correia de Oliveira,
em 1970, e incluído no seu álbum “Cantaremos”. A canção
foi censurada pelo governo português.
Lágrima de preta
Encontrei uma preta
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar
Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.
Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.
Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.
Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é
costume:
Nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.
(António Gedeão, Máquina de fogo. Coimbra: Tipografia da Atlântida,1961, p. 187.)
Os versos anteriores articulam as linguagens literária e
científica com questões de ordem ética e política.
Considerando o contexto de produção e recepção de
“Lágrima de Preta” (anos 1960 e 1970, em Portugal), o
propósito artístico desse poema é