Essa questão envolve conhecimentos acerca da temática do fracasso escolar. Deve-se indicar a alternativa correta a respeito da produção do fracasso escolar, de acordo com os estudos da autora Maria Helena Patto.
A)O fracasso escolar possui causas orgânicas e deve ser atribuído exclusivamente aos problemas do aluno.
ERRADO - A autora critica essa concepção que aponta as causas orgânicas para explicar o fracasso escolar. De cunho biológico, ela baseia-se na tomada de indicadores de inteligência como parâmetros nas decisões dos educadores sobre o educando. Assim, o fracasso escolar é concebido no âmbito de uma condição patologizante, em termos de incapacidade. Tal concepção contribui para a segregação das diferenças, na medida em que o insucesso é atribuído ao aprendente a partir de suas limitações cognitivas. Atribui-se ao aluno a provável falta de aptidão necessária ao processo de aprendizagem, em função de um déficit orgânico. Essa visão evoluiu para o uso da medicalização como forma de correção de possíveis desvios. Posteriormente, os estudos sobre o fracasso escolar avançaram, passando a buscar compreender o fenômeno do fracasso escolar segundo uma concepção que o considere em sua rede de determinações, articulada a um conjunto de variáveis. O fracasso escolar passou a ser analisado enquanto um sintoma social, o considerando nos contextos individual, cultural e escolar.
B)As famílias desestruturadas configuram o principal motivo dos problemas de aprendizagem, que explica o fracasso da criança na escola.
ERRADO – Essa é uma das concepções criticadas pela autora. Tal concepção coloca a dinâmica do ambiente familiar como fator gerador do fracasso escolar. A tese de um ambiente familiar desfavorável como produtor do fracasso escolar resultou da psicologização da prática educativa, com o empréstimo de termos do campo da psicologia, que buscava explicar as dificuldades de aprendizagem em função da dinâmica nas relações familiares, especialmente no início da vida. Isso resultou na adoção de especialistas pelas escolas, responsáveis por operarem tanto no campo da prevenção quanto no da “correção" dos problemas de aprendizagem, supostamente decorrentes da vivência do aluno em ambientes familiares desordenados. Nesse contexto, a escola passa a adotar o modelo de intervenção psicológica no processo educativo, entendendo o fracasso como resultado de um desajuste no âmbito das relações familiares, e, portanto, passível de tratamento clínico. Patto ressalta que, se na abordagem genética o fracasso seria entendido como anormalidade, quando se considera o contexto familiar na sua desordem, o fracasso passa a ser o resultado de um desajuste, originando o rótulo criança-problema. A autora aponta para a necessidade de se quebrar o estigma de que o fracasso é culpa do aluno ou de sua família e alerta para a proporção muito maior dos determinantes institucionais e sociais na produção do fracasso escolar do que problemas emocionais, orgânicos e neurológicos.
C) O fracasso escolar é um problema social e politicamente produzido.
CORRETO - Maria Helena Patto, uma das principais estudiosas da temática, aponta que o fracasso escolar é um problema social e politicamente produzido, resultando de fatores sociopolíticos, resultantes da política educacional hegemônica, seletiva, elitista e excludente. A complexidade do fracasso escolar resulta das dimensões históricas, políticas, socioeconômicas, ideológicas e institucionais, bem como das dimensões pedagógicas, articuladas às concepções que fundamentam as dinâmicas do cotidiano escolar. Portanto, é preciso compreender o contexto no qual o fracasso foi produzido para, a partir disso, intervir.
D)As crianças com dificuldades de aprendizagem devem ser medicadas para se adaptarem na escola e evitarem o fracasso escolar.
ERRADO – Essa concepção, baseada na busca de causas orgânicas para explicar o fracasso escolar, também é alvo de críticas da autora. Essa vertente aponta as causas orgânicas para explicar o fracasso escolar, utilizando a mensuração de indicadores de inteligência como parâmetros nas decisões dos educadores sobre o educando. O fracasso escolar passa a ser definido enquanto condição patologizante, como incapacidade, o que contribuiu para a segregação das diferenças. O insucesso era atribuído ao aluno a partir de suas limitações cognitivas. Nessa abordagem, de cunho biológico, atribui-se ao aluno a falta de aptidão necessária ao processo de aprendizagem, em função de um déficit orgânico. Essa visão evoluiu para a prática da medicalização como forma de correção de possíveis desvios. A autora aponta, ainda, que a partir da década de 1930, a psicologia adotou a prática de diagnóstico e tratamento dos desvios psíquicos, passando, assim, a justificar o fracasso ou a tentar impedi-lo por meio de programas psicológicos preventivos, baseados no diagnóstico precoce de distúrbios no desenvolvimento psicológico infantil, predominando a explicação psicologizante das dificuldades de aprendizagem.
E)As crianças de classes sociais mais baixas possuem uma carência cultural e, portanto, estão fadadas ao fracasso escolar sem que nada possa ser feito.
ERRADO – A autora também tece críticas à teoria da carência cultural como explicação para o fracasso escolar. Essa teoria se baseava na ideia de que certos valores, hábitos, crenças e habilidades tidas como típicas de uma classe social seriam mais adequados para um desenvolvimento psicológico sadio. Preconceitos e estereótipos norteiam uma prática pedagógica em que os indivíduos de classes menos favorecidas são considerados mais inconstantes, agressivos e desinteressados. A criança, produto da privação cultural, demonstra deficiências nas funções relacionadas às operações cognitivas. No âmbito dessa teoria está a tese de que a escola seria inadequada para as crianças carentes, já que professores da classe média se utilizavam de métodos destinados a crianças das classes favorecidas. É importante notar que na teoria da diferença cultural a responsabilidade da escola pelo fracasso fica limitada à sua inadequação à clientela.
Fontes: PATTO, M. H. S. A produção do fracasso escolar: histórias de submissão e rebeldia. São Paulo: T. A. Queiroz, 1993.
BOSSA, Nádi. Fracasso escolar: um olhar psicopedagógico. São Paulo:
Artes médicas, 2011.
Portanto, a letra C é a alternativa correta.
Gabarito do Professor: Letra C.
Gabarito: C
Comentando as alternativas:
A
O fracasso escolar possui causas orgânicas e deve ser atribuído exclusivamente aos problemas do aluno.
O fracasso escolar - altos índices de repetência e evasão, baixo rendimento - possui diversas variáveis - em relação ao aluno: esforço, interesse e atitudes; em relação ao meio: condição financeira, cultural e estrutura familiar; em relação aos professores/escola: a gestão da escola, as práticas docentes, a formação dos professores. - não sendo possível relacionar de forma direta e exclusiva aos problemas do aluno.
B
As famílias desestruturadas configuram o principal motivo dos problemas de aprendizagem, que explica o fracasso da criança na escola.
É mais amplo e complexo do que a questão estrutural da família. É um fator que impacta, mas não pode ser apontado como o principal motivo do fracasso da criança.
C
O fracasso escolar é um problema social e politicamente produzido.
As diferenças sociais e de oportunidade provocam o fracasso escolar.
D
As crianças com dificuldades de aprendizagem devem ser medicadas para se adaptarem na escola e evitarem o fracasso escolar.
A medicação deve ser feita apenas com acompanhamento médico e em casos em que seja realmente necessária.
E
As crianças de classes sociais mais baixas possuem uma carência cultural e, portanto, estão fadadas ao fracasso escolar sem que nada possa ser feito.
Por mais que seja mais difícil para os que não tem poder aquisitivo, não é impossível que alcance sucesso escolar. A escola tem o papel fundamental de formar cidadãos críticos e preparados para transformar a realidade, reduzindo, inclusive, as diferenças sociais.