Leia o texto a seguir para responder à questão.
O mundo como pode ser: uma outra globalização
Podemos pensar na construção de um outro mundo a partir de uma globalização mais humana. As bases
materiais do período atual são, entre outras, a unicidade da técnica, a convergência dos momentos e o
conhecimento do planeta. É nessas bases técnicas que o grande capital se apoia para construir uma
globalização perversa. Mas essas mesmas bases técnicas poderão servir a outros objetivos, se forem postas a
serviço de outros fundamentos sociais e políticos. Parece que as condições históricas do fim do século XX
apontavam para esta última possibilidade. Tais novas condições tanto se dão no plano empírico quanto no plano
teórico.
Considerando o que atualmente se verifica no plano empírico, podemos, em primeiro lugar, reconhecer
um certo número de fatos novos indicativos da emergência de uma nova história. O primeiro desses fenômenos
é a enorme mistura de povos, raças, culturas, gostos, em todos os continentes. A isso se acrescente, graças ao
progresso da informação, a “mistura” de filosofia, em detrimento do racionalismo europeu. Um outro dado de
nossa era, indicativo da possibilidade de mudanças, é a produção de uma população aglomerada em áreas cada
vez menores, o que permite um ainda maior dinamismo àquela mistura entre pessoas e filosofias. As massas, de
que falava Ortega y Gasset na primeira metade do século (A rebelião das massas, 1937), ganham uma nova
qualidade em virtude de sua aglomeração exponencial e de sua diversificação. Trata-se da existência de uma
verdadeira sociodiversidade, historicamente muito mais significativa que a própria biodiversidade. Junte-se a
esses fatos a emergência de uma cultura popular que se serve dos meios técnicos antes exclusivos da cultura de
massas, permitindo-lhe exercer sobre esta última uma verdadeira revanche ou vingança.
É sobre tais alicerces que se edifica o discurso da escassez, afinal descoberta pelas massas. A
população, aglomerada em poucos pontos da superfície da Terra, constitui uma das bases de reconstrução e de
sobrevivência das relações locais, abrindo a possiblidade de utilização, ao serviço dos homens, do sistema
técnico atual.
No plano teórico, o que verificamos é a possiblidade de produção de um novo discurso, de uma nova
metanarrativa, um grande relato. Esse novo discurso ganha relevância pelo fato de que, pela primeira vez na
história do homem, se pode constatar a existência de uma universalidade empírica. A universalidade deixa de ser
apenas uma elaboração abstrata na mente dos filósofos para resultar da experiência ordinária de cada pessoa.
De tal modo, em mundo datado como o nosso, a explicação do acontecer pode ser feita a partir de categorias de
uma história concreta. É isso, também, que permite conhecer as possiblidade existentes e escrever uma nova
história.
SANTOS, Milton. Por uma outra globalização. 13. ed. São Paulo: Record, 2006. p. 20-21. (Adaptado).
Considere o seguinte recorte:
“As massas, de que falava Ortega y Gasset na primeira metade do século (A rebelião das massas, 1937),
ganham uma nova qualidade em virtude de sua aglomeração exponencial e de sua diversificação”.
O discurso do outro é apresentado nesse trecho por meio de uma