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ID
3979684
Banca
UFMT
Órgão
UFMT
Ano
2017
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

INSTRUÇÃO: Leia o texto abaixo e responda à questão.


Tempos modernos ?

O que acontece quando uma pessoa que vive à caça da informação em tempo real, cidadã de Nova York, se vê completamente desconectada, presa entre dunas do maior deserto do mundo?

    O Sahara talvez seja como a própria tristeza: aqui não há começo nem fim. Não se sabe onde nasce o céu ou onde morre o horizonte. E para mim, que moro em Manhattan, aquela ilha apertada, com começo, meio, fim e gente, muita gente, passar uma noite aqui, nesta imensidão, é como pousar na Lua. No deserto, quem manda é o silêncio. Ele nos cala. E é ele que nos faz sentir o quão longe estamos de tudo o que conhecemos e o quão perto estamos do que somos. [...].
     Sahara, em árabe, quer dizer deserto. Aqui, sente-se a vida mais longa, estirada – e as noites mais curtas. Imponentes e magistrais, as dunas nos intimidam. São gigantes de areia cujo tamanho não conseguimos decifrar. Dizem, porém, que algumas chegam a 159 metros de altura. [...].
     Esta vastidão faz parte de poemas, lendas e batalhas dos tuaregs, povos tribais que até hoje fazem daqui a sua terra. É impressionante como eles sabem onde é norte, sul, e como calculam as distâncias, guiando-se pelas estrelas. É como se, para eles, tudo fosse sinalizado, como se houvesse placas por todos os lados neste mar de areia. [...] Nesta noite, aqui no deserto, celebro dez anos do dia em que cheguei a Nova York. Dez anos. O tempo voou e eu nem percebi. Agora, ele está congelado, petrificado. Ironicamente, foi preciso um deserto para tamanha façanha.
(MENAI, T. Trip. Ano 19, n.º 140.) 

Na composição de um texto, as figuras de linguagem são recursos estilísticos muito importantes. Sobre figuras presentes nesse texto, assinale a alternativa que apresenta correta correlação entre a figura dada e o trecho do texto.

Alternativas
Comentários
  • Em palavras breves, as figuras de linguagem são recursos expressivos utilizados com objetivo de gerar efeitos no discurso. Dentro do extenso grupo em que se arrolam esses recursos, existem quatro subdivisões: figura de palavra, figura de construção, figura de sintaxe e figura de som.

    a) Metáfora → São gigantes de areia cujo tamanho não conseguimos decifrar.

    Correto. Do ponto de vista puramente formal, consiste na transferência de um termo para uma esfera de significação que não é sua, em virtude de uma comparação implícita, ou seja, que não apresenta elementos comparativos do tipo "como", "qual", "tal como", "tal qual". Em suma, para se reconhecer a metáfora, deve-se levar em conta a relação de similitude, semelhança. Exs.:

    “Incêndio — leão ruivo, ensanguentado.” (Castro Alves)

    “Meu pensamento é um rio subterrâneo.” (Fernando Pessoa)

    Todavia, nem sempre está implícita essa comparação, como se veem nos exemplos a seguir extraídos de Moderna Gramática Portuguesa, de Evanildo Bechara: “sol da liberdade”, “vale de lágrimas”, “negros pressentimentos”,“não ponha a carroça diante dos bois”.

    b) Prosopopeia → O Sahara talvez seja como a própria tristeza: aqui não há começo nem fim.

    Incorreto. Essa figura consiste na atribuição de ações, qualidades ou sentimentos humanos a seres inanimados. Também é utilizada para emprestar vida e ação, não necessariamente humanas, a seres inanimados. Exs.:

    “O carrinho tem pouco serviço e passa mor parte do tempo no depósito.” (Monteiro Lobato)

    “Os sinos chamam para o amor.” (Mario Quintana);

    “(...) o sol, no poente, abre tapeçarias...” (Cruz e Sousa);

    “Um frio inteligente (...) percorria o jardim...” (Clarice Lispector)

    Na frase em tela, consta comparação (veja o conectivo comparativo "como").

    c) Comparação → Imponentes e magistrais, as dunas nos intimidam.

    Incorreto. Semelhante à metáfora, esta figura de linguagem estabelece comparação entre elementos. Usualmente apresentará conectivos para este fim, a exemplo de “como”, “tal como”, “qual”, etc. Exs.:

    “Por ali ficou feito gato sem dono.” (Monteiro Lobato)

    “Meu coração tombou na vida/tal qual uma estrela ferida/pela flecha de um caçador.” (Cecília Meireles)

    “A sombra das roças é macia e doce, é como uma carícia.” (Jorge Amado)

    “Vêm a granel como carga incômoda...” (Monteiro Lobato)

    Na frase em tela, consta prosopopeia.

    d) Hipérbato → No deserto, quem manda é o silêncio. Ele nos cala.

    Incorreto. Essa figura define a inversão da ordem natural das palavras na oração, ou da ordem das orações no período. Ex.: “Ouviram do Ipiranga as margens plácidas/De um povo heroico o brado retumbante.” Em ordem: “As margens plácidas do Ipiranga ouviram o brado retumbante de um povo heroico”.

    Na frase em tela, consta novamente a prosopopeia.

    Letra A

  • Hipérbato é o nome da  em que ocorre a quebra da estrutura lógica do enunciado e, por isso, também é conhecido como inversão. Seu nome vem do grego e significa “transposto” ou “ao contrário”, já que inverte a posição dos termos que compõem o enunciado. Essa inversão exige maior atenção do leitor para entender o discurso.

  • Não conseguir "decifrar" o tamanho das dunas. Está aí o sentido metafórico!

  • Não entendi o porquê de ser a alternativa A.

    Coloquei a D. Invertendo ficaria "O silêncio é quem manda no deserto". Por favor, alguém pra me ajudar nessa questão. Fiquei agora em dúvida. Fui penando nesse conceito de hipérbato...

    O hipérbato é uma figura de sintaxe que modifica a disposição dos termos em um enunciado.

  • Metáfora: é uma figura de linguagem muito utilizada para fazer comparações por semelhança. É o uso de uma palavra com o significado de outra. É um tipo de comparação subjetiva, momentânea. Consiste no uso de uma palavra ou uma expressão em um sentido incomum, manifestando de maneira implícita uma relação de semelhança entre dois termos.

    Ex.: Tempo é dinheiro/Meu pensamento é um rio subterrâneo.

    Prosopopeia: significa atribuir a seres inanimados (sem vida) características de seres animados ou atribuir características humanas a seres irracionais. É uma figura de linguagem usada para tornar mais dramática a comunicação.

    Exemplos:

    • Árvores pedem socorro.
    • O jardim olhava as crianças sem dizer nada.
    • A raposa disse algo que convenceu o corvo.

    Comparação: é uma figura de linguagem caracterizada pela analogia explícita entre termos de um enunciado, já que conta com a presença de conjunção ou locução conjuntiva comparativa. 

    Hipérbato: recurso estilístico que consiste na inversão da ordem habitual das palavras de uma frase. Ele é caracterizado pela inversão brusca da ordem direta dos termos de uma oração ou período.

    Exemplos: Feliz ele estava (na ordem direta a frase ficaria: Ele estava feliz)

    Calma tenho eu tido (eu tenho tido calma).

    Fontes:

    https://mundoeducacao.uol.com.br/gramatica/comparacao.htm

    https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/hip%C3%A9rbato

    https://www.todamateria.com.br/hiperbato/

  • E a letra D não é um hipérbato? oxe