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ID
3981199
Banca
FAEPESUL
Órgão
Prefeitura de Biguaçu - SC
Ano
2017
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto para a questão
A vida e as estações


Eu queria que a vida fosse dividida em quatro estágios, mas que não acabasse nunca.
A infância é como a primavera. É pura novidade e um calor que não sufoca nem faz pensar bobagens. Tem uma inocência quase cafona, uma singeleza clássica, e traz no íntimo a certeza de que pela frente vem coisa boa. A gente quer que passe logo, mas sabe que nunca mais será tão protegido, a mordomia não será
eterna. É quando as coisas acontecem pela primeira vez, é quando num arbusto verde vemos surgir alguns vermelhos, é surpresa, a primeira de uma série. A adolescência é como o verão. Quente, petulante, libidinosa.
Parece que não vai haver tempo para fazer tudo o que se quer e o que se teme. É musical e fotogênica. Dúvidas, dúvidas, dúvidas em frente ao mar.
Mergulha-se no profundo e no raso. Pouca roupa, pouca bagagem. Curiosidade. Vontade que dure para sempre, certeza de que passa.
Noção do corpo. Festas e religião. Amor e fé.
A maturidade é como o outono. Um longo e instável outono,
que alterna dias quentes e frios, que nos emociona e nos gripa. Há mais beleza e o ar é mais seco, porém é quando se colhem os melhores abraços. Ficar sozinho passa a não ser tão aterrorizante. Fugimos para a praia, fugimos para a serra, as ideias aprendem a se movimentar, a fazer a mala rápido, a trocar de rota se o desejo se impuser, e não é preciso consultar o pai e a mãe antes de errar. É o outono que tentamos conservar.
O inverno é como a velhice. Tem sua beleza igualmente, exige lã, bolsa de água quente, termômetro e uma janela bem vedada. O que não queremos que entre? Maus presságios. O inverno é frio como despedida de um grande amor, mas sabemos que tudo voltará a ser ameno. Queremos que passe, temos medo que termine. Ficar sozinho volta a ser aterrorizante. O inverno é branco, é cinza, é prata. É grisalho. E, de repente, também passa.
Eu queria que tudo fosse verdade, que a vida fosse assim dividida em quatro estágios que mais parecem estações do ano, mas que não acabasse, que depois do inverno viesse outra primavera, e outro verão, e outro outono, que nunca são iguais, mas sempre se repetem, sempre voltam, são tão certos quanto o sol e a lua, todo dia, toda noite.
Eu queria.
Martha Medeiros

No parágrafo em que fala sobre a velhice, Martha Medeiros declara: “O inverno é como a velhice. (...) é frio como despedida de um grande amor (...). O inverno é branco, é cinza, é prata. É grisalho. E, de repente, também passa”.
Considerando esse contexto, é possível perceber que a autora suaviza as características da velhice no tom poético do inverno. Isso confirma que o parágrafo em questão é marcado por uma figura de linguagem, denominada:

Alternativas
Comentários
  • Gabarito B

    a autora suaviza as características da velhice...

    EUFEMISMO: suaviza palavras desagradáveis.

  • Em palavras breves, as figuras de linguagem são recursos expressivos utilizados com objetivo de gerar efeitos no discurso. Dentro do extenso grupo em que se arrolam esses recursos, existem quatro subdivisões: figura de palavra, figura de construção, figura de sintaxe e figura de som.

    Leiamos o fragmento:

    “O inverno é como a velhice. (...) é frio como despedida de um grande amor (...). O inverno é branco, é cinza, é prata. É grisalho. E, de repente, também passa.”

    Acima, constam-se quatro figuras de linguagem: comparação, metáfora, anáfora e eufemismo. É este último que o enunciado define como suavização da velhice. Essa característica de abrandamento da mensagem pertence ao eufemismo.

    a) Anáfora.

    Incorreto. Embora exista anáfora no trecho, não é esta que se ajusta à definição do enunciado. Essa figura de linguagem caracteriza a repetição de uma palavra ou grupo de palavras no início de duas ou mais frases sucessivas, para enfatizar o termo repetido. Ex.:

    "Vi uma estrela tão alta,

    Vi uma estrela tão fria!

    Vi uma estrela luzindo

    Na minha vida vazia.

    Era uma estrela tão alta!

    Era uma estrela tão fria!

    Era uma estrela sozinha

    Luzindo no fim do dia."

    (Manuel Bandeira)

    b) Eufemismo.

    Correto. Vide detalhamento inicial;

    c) Personificação.

    Incorreto. É atribuição de ações, qualidades ou sentimentos humanos a seres inanimados. Também é utilizada para emprestar vida e ação, não necessariamente humanas, a seres inanimados. Exs.:

    “O carrinho tem pouco serviço e passa mor parte do tempo no depósito.” (Monteiro Lobato)

    “Os sinos chamam para o amor.” (Mario Quintana);

    “(...) o sol, no poente, abre tapeçarias...” (Cruz e Sousa);

    “Um frio inteligente (...) percorria o jardim...” (Clarice Lispector)

    d) Anacoluto.

    Incorreto. É o rompimento da estruturação lógica da oração. Exs.:

    “O relógio da parede eu estou acostumado com ele.” (Rubem Braga)

    “Essas criadas de hoje, não se pode confiar nelas.” (Aníbal Machado)

    “Eu, não me importa a desonra do mundo.” (Camilo Castelo Branco)

    e) Aliteração.

    Incorreto. É a repetição de fonema vocálico (em relação a vogais) ou consonântico (em relação a consoantes) igual ou parecido, para descrever ou sugerir acusticamente o que temos em mente, quer por meio de uma só palavra, quer por unidades mais extensas. Exs.:

    Bramindo o negro mar, de longe brada.” (Luís de Camões)

    Vozes veladas, veludosas vozes [...].” (Cruz e Sousa)

    Boi bem bravo. Bate baixo, bota baba, boi berrando.” (Guimarães Rosa)

    Letra B

  • O enunciado nos deu a resposta da questão. Segue em destaque o BIZU: "`[...] é possível perceber que a autora suaviza as características da velhice [...]".