SóProvas


ID
3982900
Banca
Exército
Órgão
CMM
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

TEXTO II
PEQUENOS DELITOS
Walcyr Carrasco
    Compras do mês. Percorro as prateleiras do supermercado olhando gulosamente tudo aquilo que é bom mas engorda. Um senhor magro e grisalho para diante dos iogurtes. Olha em torno, cautelosamente. Agarra uma garrafinha sabor morango, abre e vira na boca, bem depressa. Esconde a embalagem. Disfarço, mas sigo o homem. Podem me chamar de abelhudo. Sou. Minha desculpa é que só tento entender o comportamento humano para escrever depois. Dali a pouco o homem pega um pacote de bolachas. Abre. Come algumas. A sobremesa? Na banca de frutas. Uvas itália tiradas do cacho. Um pêssego pequeno. Devora. Esconde o caroço no bolso. Nem sei como consegue fazer a digestão, tal a rapidez. Não, não se trata de nenhum MSS — Movimento dos Sem-Supermercado ou coisa que o valha. É um senhor com jeito de vovozinho e trajes de classe média. Termina as compras de barriga cheia e com expressão de vitória.
    — Faço de tudo para não praticar pequenos delitos — conta uma amiga.
    — É uma responsabilidade pessoal.
    Culposamente, lembro de quando vou comprar fruta seca. Adoro uva passa. Com a desculpa de experimentar, pego uma. Duas. Três. Trezentas! Outra amiga é absolutamente contra camelôs. Diz que emporcalham a cidade. Há uma semana chegou com um brinquedo para os filhos.
    — Paguei baratinho — contou animada.
    — Era de uma banquinha do centro da cidade. Espantei-me.
    — Você não é contra?
    — Sou contra, mas não sou burra!
    Pode? Hoje em dia se fala muito em ética. Mas, quando podem dar o golpe nas pequenas coisas, muita gente se sente orgulhosa. Conheço uma livraria, em Pinheiros, onde sempre se aceita devolução. Recentemente uma senhora levou seu exemplar. A gerente não reconheceu o livro. A cliente teimou. Ela verificou todas as notas. Simplesmente o título não havia sido negociado. Insistiu: 
    — Eu troco, desde que a senhora me diga a verdade. Não é daqui, é?
A mulher reconheceu: havia comprado o exemplar há tempos, em outro lugar. Mesmo assim, aceitou a troca e saiu satisfeitíssima com um livro novo. Outra cliente levou o livro de atividades do filho, acompanhada pela criança. Trocou. Dias depois se descobriu que os questionários internos estavam preenchidos a mão. Era golpe.
    — Que exemplo essa mulher dá ao filho? — admira-se a moça.
   E quando o troco vem errado? Confesso que a minha primeira reação é de alegria! De repente, tenho mais dinheiro do que pensava. Em seguida lembro que a diferença será paga pelo caixa. Devolvo. Já vi gente feliz da vida porque o dono da loja fez confusão nos preços. Outra coisa que odeio é emprestar e não receber. Há uma predisposição, para não pagar pequenas dívidas. Mesmo quem empresta fica sem jeito. — São só cinco reais... não faço questão.
    Como se fosse feio receber o que é seu! Já ouvi, uma vez que reclamei.
    — Pão-duro! Você liga pra mixaria?
    Tenho um conhecido que jamais tem dinheiro para dar ao manobrista. Sempre pede um trocado. Se eu não tenho, pede desculpas ao homem.
    — Da próxima vez, dou em dobro. Ou então:
    — Saí sem talão de cheques. Hoje você paga o jantar, o próximo é meu. Ah, que raiva! De facadinha em facadinha, faz uma bela economia.
    Surrupiar um queijinho no supermercado parece não ter sequer importância. Mas os pequenos delitos, quando somados, tornam a vida na cidade grande ainda mais selvagem.

Fonte: https://comissaodecultura.files.wordpress.com/2011/06/walcyr-carrasco-pequenos-delitos-e-outras-crc3b4nicas.pdf

Analise as afirmações com relação à função do que na crônica de Walcyr Carrasco: 

I. A palavra que pertence à classe de pronome relativo em: ''− Que exemplo essa mulher dá ao filho?'' (12º parágrafo).
II. Em ''Confesso que a minha primeira reação é de alegria!'' (13º parágrafo), o que introduz uma oração subordinada substantiva.
III. A palavra que é uma conjunção subordinativa comparativa em: ''Outra coisa que odeio é emprestar e não receber''. (13º parágrafo).
IV. Em: ''Já ouvi, uma vez que reclamei.'' (15º parágrafo) o termo sublinhado é uma conjunção coordenativa por ligar orações sintaticamente equivalentes.
V. Na oração: ''Em seguida lembro que a diferença será paga pelo caixa.'' (13º parágrafo), o que introduz uma oração subordinada substantiva. 

Está correta a alternativa: 

Alternativas
Comentários
  • Analise as afirmações com relação à função do que na crônica de Walcyr Carrasco:

    I. A palavra que pertence à classe de pronome relativo em: ''− Que exemplo essa mulher dá ao filho?'' (12º parágrafo) errado,o que funciona como pronome interrogativo.

    II. Em ''Confesso que a minha primeira reação é de alegria!'' (13º parágrafo), o que introduz uma oração subordinada substantiva. correta.

    III. A palavra que é uma conjunção subordinativa comparativa em: ''Outra coisa que odeio é emprestar e não receber''. (13º parágrafo). errado funciona como pronome relativo (outra coisa a qual odeio ).

    IV. Em: ''Já ouvi, uma vez que reclamei.'' (15º parágrafo) o termo sublinhado é uma conjunção coordenativa por ligar orações sintaticamente equivalentes. errada, é uma oração subordinada substantiva objetiva direta (ouvir o que? Ouvir que reclamei.

    V. Na oração: ''Em seguida lembro que a diferença será paga pelo caixa.'' (13º parágrafo), o que introduz uma oração subordinada substantiva. correta.

    Está correta a alternativa:

    A

    I e V

    B

    II e V

    C

    I e II

    D

    II e IV

    E

    I, II e III

    Gab letra D