TEXTO 2
Michel Foucault, um filósofo francês, quando comenta,
numa de suas obras, as restrições que as formas de fazer
ciência impõem a uma pretensa liberdade dos cientistas, diz
que, nos séculos XVI e XVII, na Inglaterra, surgiu uma nova
forma de vontade de verdade.
Ela obrigava o sujeito do conhecimento a ter determinadas atitudes. Por exemplo, ver mais do que ler, verificar mais do que comentar. Essas características da nova ciência de então se devem basicamente ao fato de que, na Idade Média, a atitude era exatamente a oposta: liam-se os clássicos e a Bíblia (ler e comentar), mas os fatos do mundo, num certo sentido, não eram vistos (até porque, para certos casos, exigem-se aparelhos que não existiam). A forma nova deu origem à ciência moderna (que ainda exige, embora de forma completamente diferente, que se observem os fatos).
Pois bem, eu me pergunto se, em relação aos fatos da linguagem e da língua, ainda não somos, muitos de nós, medievais: quando aparece um fato novo, vamos aos livros para ver se eles os registram. Se não, o fato passa a ser considerado um erro. Não nos ocorre que os livros podem ser imperfeitos ou feitos com determinados objetivos, que impedem o registro de certos fatos.
(Sírio Possenti. A cor da língua e outras croniquinhas de
Linguística. Campinas (SP): Mercado de Letras, 2001, p. 61).
O segmento que poderia ser visto como uma espécie
de síntese do conteúdo global do Texto 2 é: