A LINGUAGEM
A linguagem humana é inseparável do homem e segue-o
em todos os seus atos. É um instrumento graças ao qual o
homem modela seu pensamento, seus sentimentos, suas
emoções, seus esforços, sua vontade e seus atos. É o
instrumento graças ao qual influencia e é influenciado, a
base última e mais profunda da sociedade humana. Mas é
também um recurso indispensável do homem, seu refúgio
nas horas solitárias em que o espírito luta com a existência,
e quando o conflito se resolve no monólogo do poeta e na
meditação do pensador.
Antes mesmo do primeiro despertar da nossa consciência,
as palavras já ressoavam à nossa volta, pronta para
envolver os primeiros germes frágeis de nosso pensamento
e nos acompanhar inseparavelmente através da vida. Está
presente desde as mais humildes ocupações da vida
cotidiana, aos momentos mais sublimes e mais íntimos dos
quais a vida de todos os dias retira, graças às lembranças
encarnadas pela linguagem, força e calor.
A linguagem não é um simples acompanhante do homem,
mas um fio profundamente tecido na trama do pensamento
e do convívio social; para o indivíduo, ela é o tesouro da
memória e a consciência vigilante transmitida de pai para
filho.
Para o bem e para o mal, o desenvolvimento da linguagem
está tão inexplicavelmente ligado ao da personalidade de
cada indivíduo, da terra natal, da nação, da humanidade, da
própria vida, que é possível indagar-se se ela não passa de
um simples reflexo ou se ela não é tudo isto: a própria fonte
de desenvolvimento dessas coisas.
É por isso que a linguagem cativou o homem enquanto
objeto de deslumbramento e de descrição, na poesia e na
ciência.
Louis Hjelmslev. Prolegômenos a uma teoria da linguagem. São
Paulo: Perspectiva, 1975. Adaptado
O Texto 3 tem como objetivo central: