Texto para as questão
21 de maio
Passei uma noite horrivel. Sonhei que eu residia
numa casa residivel, tinha banheiro, cozinha, copa e
até quarto e criada. Eu ia festejar o aniversário de
minha filha Vera Eunice. Eu ia comprar-lhe umas
panelinhas que há muito ela vive pedindo. Porque eu
estava em condições de comprar. Sentei na mesa para
comer. A toalha era alva ao lirio. Eu comia bife, pão
com manteiga, batata frita e salada. Quando fui pegar
outro bife despertei. Que realidade amarga! Eu não
residia na cidade. Estava na favela. Na lama, as
margens do Tietê. E com 9 cruzeiros apenas. Não
tenho açucar porque ontem eu saí e os meninos
comeram o pouco que eu tinha.
[...] Quem deve dirigir é quem tem capacidade.
Quem tem dó e amisade ao povo. Quem governa o
nosso país é quem tem dinheiro. Quem não sabe o
que é fome, a dor, e a aflição do pobre. Se a maioria
revoltar-se, o que pode fazer a minoria? Eu estou ao
lado do pobre, que é o braço. Braço desnutrido.
Precisamos livrar o paiz dos politicos
açambarcadores.
Disponível em: JESUS, Carolina Maria de. Quarto de despejo:
diário de uma favelada. 10. ed. São Paulo, Ática, 2014.
(fragmento).
A autora, embora tenha tido baixa
escolaridade, revela ter certo grau de contato com as
práticas da escrita, provavelmente por meio da
leitura de livros e jornais. Apesar das várias
inadequações ortográficas identificadas no texto,
percebe-se um esforço de Carolina no sentido de
adequar sua linguagem ao contexto da norma escrita
padrão, sofisticando, assim, sua linguagem. Dos
excertos abaixo extraídos do texto, todos servem
como exemplo desse esforço da autora para adequar
seu texto à norma-padrão da Língua Portuguesa,
exceto: