- ID
- 4037173
- Banca
- INSTITUTO AOCP
- Órgão
- Câmara de Maringá- PR
- Ano
- 2017
- Provas
- Disciplina
- Português
- Assuntos
Texto 1
O livreiro Garnier
Segunda-feira desta semana, o livreiro
Garnier saiu pela primeira vez de casa para ir
a outra parte que não a livraria. Revertere ad
locum tuum — está escrito no alto da porta do
cemitério de S. João Batista. Não, murmurou
ele talvez dentro do caixão mortuário, quando
percebeu para onde o iam conduzindo, não
é este o meu lugar; o meu lugar é na Rua do
Ouvidor 71, ao pé de uma carteira de trabalho,
ao fundo, à esquerda; é ali que estão os meus
livros, a minha correspondência, as minhas
notas, toda a minha escrituração.
Durante meio século, Garnier não fez outra
coisa senão estar ali, naquele mesmo lugar,
trabalhando. Já enfermo desde alguns anos,
com a morte no peito, descia todos os dias de
Santa Teresa para a loja, de onde regressava
antes de cair a noite. Uma tarde, ao encontrálo na rua, quando se recolhia, andando
vagaroso, com os seus pés direitos, metido
em um sobretudo, perguntei-lhe por que não
descansava algum tempo. Respondeu-me
com outra pergunta: Pourriez-vous résister, si
vous étiez forcé de ne plus faire ce que vous
auriez fait pendant cinquante ans? Na véspera
da morte, se estou bem-informado, achandose de pé, ainda planejou descer na manhã
seguinte, para dar uma vista de olhos à livraria.
Essa livraria é uma das últimas casas da
Rua do Ouvidor; falo de uma rua anterior e
acabada. Não cito os nomes das que se foram,
porque não as conhecereis, vós que sois mais
rapazes que eu, e abristes os olhos em uma
rua animada e populosa, onde se vendem, ao
par de belas jóias, excelentes queijos [...]
ASSIS, Machado de. O livreiro Garnier. In: SANTOS, Joaquim Ferreira
dos. (Organização e introdução). As Cem Melhores Crônicas Brasileiras. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007, p. 41-43. Fragmento.
No texto 1, predomina elementos de