Observe o trecho dramático abaixo:
“EDMUNDO (mudando de tom, apaixonadamente)
– Mãe, às vezes eu sinto como se o mundo estivesse
vazio, e ninguém mais existisse, a não ser nós, quer
dizer, você, papai, eu e meus irmãos. Como se a
nossa família fosse a única e primeira. (numa
espécie de histeria) Mas não, não! (mudando de
tom) Eu acho que o homem não devia sair nunca do
útero materno. Devia ficar lá, toda a vida,
encolhidinho, de cabeça para baixo, ou para cima,
de nádega, não sei.” (RODRIGUES, N. Álbum de
família. Teatro completo. Rio de Janeiro: Nova
Aguilar, 1994. p. 556-7)
“Álbum de família” é uma das mais famosas
peças de Nélson Rodrigues e trata de temas
obsessivos de sua poética teatral, como, no caso, a
fixação do filho na mãe. Nessa peça toda a família
está condenada a autoconsumir-se de uma maneira
avassaladora por meio de paixões incestuosas
irrefreáveis. No trecho acima, o filho tenta, numa
desesperada fala, reunir forças, para convencer a
mãe de sua verdade endógama, e a ação dramática
impõe uma contradição fundamental entre uma
afirmação e outra que: