Em tempo voltemos nossa atenção novamente para a pergunta acima em relação às condicionalidades impostas pelo cotidiano à prática profissional: estaríamos presos às amarras do cotidiano? De acordo com Heller (1992), outra importante característica proeminente desse espaço social é sua vertente hierárquica mutável, que difere da heterogeneidade, pois está ancorada nos diferentes momentos históricos, podendo ser entendida como os processos de valoração que constituímos a partir da sociabilidade pautados nas estruturas econômico-sociais. Dessa maneira, é a partir da realidade sóciohistórica apreendida pelos valores que elegemos, enquanto indivíduos no espaço micro e coletivamente num espaço macro, o que tem maior centralidade – ou não – na configuração do nosso cotidiano (HELLER, 1992). Nesse direcionamento, é na característica hierárquica mutável que valoramos nosso cotidiano. É também nesse processo de valoração hierárquico, mutável por processos individuais e coletivos, dentro de limites impostos pelas estruturas econômicas, sociais e históricas, que vamos imprimindo à nossa prática profissional aquilo que terá maior relevância em nossa cotidianidade e influenciando, de uma maneira ou de outra, nos rumos da vida, o que ressalta a importância dos processos de mediação existentes no próprio cotidiano profissional. Tendo como base essa definição e levando em conta os apontamentos de Heller (1992), podemos afirmar que as mediações presentes no cotidiano, valoradas por nossas escolhas hierárquicas, que poderiam elevar o sujeito da sua condição individual à genericidade, 8 muitas vezes não são apreendidas nem colocadas em ação de forma consciente e crítica no cotidiano. Tais ações perdem-se no âmbito da imediaticidade, ou seja, os sujeitos acabam por não perceber o vínculo imediato entre pensamento e ação, pois estão absortos “na repetição automática de modos de comportamento” (BARROCO, 2005, p. 38)
http://www.cressrn.org.br/files/arquivos/2248mpw4202l9W8dS658.pdf