Texto 2
O que é a paixão senão um sentimento imenso que nos tira a razão? Quando estamos apaixonados, não
queremos nada, além daquilo ou daquele que nos hipnotizou.
Ficamos cegos e nada mais faz sentido. Tudo em nossa volta se transforma em um nevoeiro, cinza e
espesso, permitindo ver apenas o que tanto queremos.
Todos nos apaixonamos, seja por alguém ou por algo, e de repente nossos corações perdem a harmonia
das batidas. De repente somos fisgados por algo que nos conquistou.
Não somente os jovens, adultos ou velhos se apaixonam. As crianças também. E, assim, um dia caí na
armadilha de um cupido mal-intencionado.
Eu era criança, não lembro minha idade, mas lembro que aqui no hospital amanhecera. Dava para sentir o
calor da luz do sol e o silêncio que pairava no ambiente do quarto onde, sozinho, eu ficava.
Em instantes, alguém, que estava ali para cuidar de mim, entra no quarto. Havia uma vitrola e, para permitir
um momento agradável, essa que veio ser minha cuidadora pôs um disco para tocar. Não tenho certeza, mas era um
vinil com canções românticas de uma dessas novelas.
Não sei como foi, mas lembro até hoje o nome dessa que, naquele dia, me ofertou grande afeto. Seu nome
era Silvana, e lembro que ela tinha cabelos compridos e loiros.
Enquanto a música tocava, eu sentia que algo não estava certo com ela. Parecia que, apesar de estar diante
de mim, estava com seu coração em outro mundo.
Mesmo assim, eu me sentia bem e feliz. Depois do banho e do café da manhã, ela sai do quarto para outras
tarefas. Embalado pelas músicas da vitrola, fico vislumbrando a paisagem da janela. Bem ao longe, em cima do
prédio da Faculdade de Medicina, em frente ao Instituto onde fico, uma bandeira do Brasil dança ao ritmo do vento
que a embala.
Muitos momentos, quando se é garoto, são como fotografias, nas quais o maior sentimento que se expressa
é a solidão.
A música parou de tocar, e assim voltei meu olhar para o quarto em que somente eu estava presente. Não
demorou muito para que Silvana voltasse e colocasse outro disco. Poucas horas depois, irei dormir feliz, pois o
carinho e o afeto que Silvana me permitiu deixarão um doce conforto. Como o filho de que a mãe cuida, fecho meus
olhos, tranquilo e feliz.
Mas, infelizmente, nada dura para sempre. Veio outra pessoa cuidar de mim no dia seguinte, e no lugar do
afeto que Silvana trazia, não veio o desprezo, mas alguém em quem eu mal poderia encontrar conforto. Aos soluços,
pedi de volta a Silvana que tinha cuidado de mim no dia anterior. A resposta das minhas súplicas foi que ela não viria
mais.
(Paulo Henrique, Minha primeira paixão. Disponível em: www.folha.uol.com.br.Adaptado)
Ao falar da experiência da paixão, o narrador do texto 2 a caracteriza como: