SóProvas


ID
4068649
Banca
VUNESP
Órgão
Prefeitura de São José dos Campos - SP
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Um pouco de gentileza

    Pessoas bem educadas pedem “por favor”. A ideia prática por trás da polidez sempre foi esta: se você pede com bons modos, tem mais chance de conseguir o que quer. Funcionava.

    Em algum momento, que não consigo localizar no tempo exato da minha vivência, mas calculo que tenha sido pela metade dos anos 1960, o desrespeito, e logo a grosseria, e daí a pouco a arrogância, e já, já a truculência, contrabandeados para a vida civil e aprendidos em culturas de fora, instalaram-se nos modos do morador civilizado das nossas cidades, aquele que dava lugar no bonde às senhoras e aos mais velhos, dizia “bom dia” aos que passavam, pedia licença, não economizava o “por favor”, deixava entrar primeiro as damas, abria a porta do carro para a namorada, e tantas gentilezas extintas ou em extinção.

    Noto, circulando pela cidade, que há sinais de amabilidade por aí, uma cordialidade escrita. Pedidos e avisos delicados, dirigidos aos cidadãos passantes. Pode ser uma retomada, por que não?

    Uma placa bem no centro do muro do estacionamento de uma farmácia na Pompeia: “Este estabelecimento cuida da sua saúde, portanto o aspecto de limpeza é muito importante. Por favor, não piche. Contamos com a sua colaboração”. O muro tem estado limpo de rabiscos nestes dois anos em que venho andando por lá a caminho da hidroginástica.

    Há quem junte humor e ironia ao pedido, sem perder a delicadeza. Em uma aréola na Pompeia (Sabem o que é uma aréola? Pois aprendi que o pequeno ajardinado que circula o pé das árvores nas calçadas se chama aréola. Quem terá posto nome tão delicado quanto apropriado ao jardinzinho?), então, eu dizia, em uma aréola na Pompeia, encontro fincada uma plaquinha com os dizeres: “Senhor Cão, favor não fazer suas necessidades neste local”.

    Bem perto dali, em um ajardinado que contorna um poste, fincaram um repique* com nova dose de humor: “Senhor Cão, favor não deixar seu dono fazer xixi aqui”.

    Quem mora perto de boteco, sabe que não é fácil a convivência. Reclamações resultam inúteis. Quando a iniciativa de serenar os alegrados fregueses parte dos donos, e num tom amável, o resultado é melhor. Está dando certo em um boteco de Belo Horizonte, onde se lê: “Pedimos a colaboração dos frequentadores quanto às palmas, à cantoria etc. para não termos problemas com a vizinhança”.

    Em um posto de gasolina no Pari: “Senhor ladrão, favor passar outra hora. Seu colega já levou tudo”. Será que adianta? Até quem tem mais de 100 anos e boa memória se lembra do aviso nas casas do pequeno comércio de bairro: “Fiado, só amanhã”. Achávamos graça nessa habilidade com as palavras.

    Até nas estradas, lugar de bravatas e desafios, encontro pacíficos. Em um automóvel em Itaboraí, no Rio de Janeiro: “Calma... Eu sou 1000 e ando a gás...”.

(http://vejasp.abril.com.br/materia/ivan-angelo-um-pouco-degentileza-cronica. Publicado em 12.02.2016. Adaptado)

*repique: advertência, aviso

Considere os trechos do texto.


•  ... o desrespeito, e logo a grosseria, e daí a pouco a arrogância, e já, já a truculência... (2º parágrafo)

•  Quem terá posto nome tão delicado quanto apropriado ao jardinzinho? (5º parágrafo)


Nesses trechos há, respectivamente:

Alternativas
Comentários
  • GABARITO -B

    I) o desrespeito, e logo a grosseria, e daí a pouco a arrogância, e já, já a truculência... (2º parágrafo)

    Temos uma gradação ou sequência no sentido aumentativo. Claramente o autor cita o quanto a falta de gentileza e os bons modos foram desaparecendo e se incorporando na vida das pessoas.

    "logo a grosseria, e daí a pouco a arrogância, e já, já a truculência, contrabandeados para a vida civil e aprendidos em culturas de fora, instalaram-se nos modos do morador civilizado das nossas cidades..."

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    II. Quem terá posto nome tão delicado quanto apropriado ao jardinzinho? (5º parágrafo)

    O apropriado vai ao encontro do termo delicado a tal ponto que podemos dizer que há uma equivalência entre eles.

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    Bons estudos!

  • Assertiva B

    sequência de ideias cuja intensidade é crescente; equivalência entre as ideias.

    O desrespeito, e logo a grosseria, e daí a pouco a arrogância, e já, já a truculência... (2º parágrafo)

    Quem terá posto nome tão delicado quanto apropriado ao jardinzinho? (5º parágrafo)

  •  -... o desrespeito, e logo a grosseria, e daí a pouco a arrogância, e já, já a truculência... (2º parágrafo)

    Gera uma gradação crescente

    -Quem terá posto nome tão delicado quanto apropriado ao jardinzinho? (5º parágrafo)

    A palavra "quanto" está empregada como uma Conjunção Comparativa (Orac. Subord. Adverb.) comparando a palavra delicado com apropriado.

    É possível substituir também por: "como", "do mesmo modo que"...