O trecho abaixo pertence ao conto “Conversa de bois”, do livro Sagarana, de Guimarães Rosa, cujo recurso narrativo é o diálogo entre boisde-carga, que conversam entre si enquanto trabalham:
Todavia, ninguém boi tem culpa de tanta má-sorte, e lá vai ele tirando, afrontado pela soalheira, com o frontispício abaixado, meio guilhotinado pela canga-de-cabeçada, gangorrando no cós da brocha de couro
retorcido, que lhe corta em duas a barbela; pesando de-quina contra as
mossas e os dentes dos canzis hiselados; batendo os vazios; arfando ao
ritmo do costelame, que se abre e fecha como um fole; e com o focinho,
glabro, largo e engraxado, vazando baba e pingando gotas de suor. Rebufa e sopra:
— Nós somos bois... Bois-de-carro.. Os outros, que vêm em manadas, para ficarem um tempo-das-águas pastando na invernada, sem
trabalhar, só vivendo e pastando, e vão-se embora para deixar lugar aos
novos que chegam magros, esses todos não são como nós...
— Eles não sabem que são bois... — apoia enfim Brabagato, acenando
a Capitão com um esticão da orelha esquerda.
(ROSA, João Guimarães. “Conversa de bois”. Sagarana.
Editora Nova Aguilar, Rio de Janeiro, p. 214.)
No trecho citado, há uma diferenciação entre os “bois-de-carro” e os
“outros, que vêm em manadas”. De acordo com o boi Brabagato, estes
“outros” “não sabem que são bois…”. Brabagato presumiu isso, pois: