O reformador da natureza
Américo Pisca-Pisca tinha o hábito de botar defeito em todas
as coisas. O mundo para ele estava errado e a Natureza só
fazia tolices.
-Tolices, Américo?
- Pois então?!... Aqui neste pomar você tem a prova disso.
Lá está aquela jabuticabeira enorme sustendo frutas pequeninas
e mais adiante vejo uma colossal abóbora presa ao caule duma
planta rasteira. Não era lógico que fosse justamente o contrário?
Se as coisas tivessem de ser reorganizadas por mim, eu trocaria
as bolas – punha as jabuticabas na aboboreira e as abóboras na
jabuticabeira. Não acha que tenho razão?[...]
- Mas o melhor – concluiu – é não pensar nisso e tirar uma
soneca à sombra destas árvores, não acha?
E Américo Pisca-Pisca, pisca-piscando que não acabava
mais, estirou-se de papo para cima à sombra da jabuticabeira.
Dormiu. Dormiu e sonhou. [...] De repente, porém, no melhor do
sono, plaft!, uma jabuticaba cai do galho bem em cima do seu
nariz. Américo despertou de um pulo. Piscou, piscou. Meditou
sobre o caso e afinal reconheceu que o mundo não estava tão
mal feito como ele dizia. E lá se foi para casa, refletindo:
- Que espiga! ... Pois não é que se o mundo tivesse sido
reformado por mim, a primeira vítima teria sido eu mesmo? Eu,
Américo Pisca-Pisca, morto pela abóbora por mim posta em
lugar de jabuticaba? Him! Deixemo-nos de reformas. Fique tudo
como está que está tudo muito bom.
Adaptado de: LOBATO, Monteiro. A reforma da natureza. 17 ed. São
Paulo: Editora Brasiliense S.A. : 1980, p. 8 - 10.
A humanidade, nem sempre com a ingenuidade de Américo
Pisca-Pisca, e muitas vezes em nome dos avanços tecnológicos
e científicos, faz também as suas “reformas”. Sobre algumas
ações antrópicas ao meio ambiente, pode-se afirmar: