[...] Mendonça gostava sobretudo da variedade no viver; não tolerava os mesmos
prazeres nem os mesmos charutos; para os apreciar tinha necessidade de os alternar
freqüentemente. Se fosse possível, era capaz de fazer-se monge durante um mês, antes do
carnaval, trocar o hábito por um dominó, e atar as últimas notas das matinas com os prelúdios da
contradança. A fidelidade à moda custava-lhe um pouco, quando esta não ia a passo com a
impaciência. Em sua opinião, o que distinguia o homem do cão era a faculdade de fazer que uma
noite se não parecesse com outra. O Rio de Janeiro não lhe oferecia a mesma variedade de
recursos que Paris; tendo o gênio inventivo e fértil, não lhe faltaria meio de fugir à uniformidade
dos hábitos.
ASSIS, Machado de. Helena. São Paulo: FTD, 1992. p. 67. (Coleção Grandes Leituras)
O personagem em foco