SóProvas


ID
4116376
Banca
IDECAN
Órgão
Prefeitura de Apiacá - ES
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

A língua como ela é

    Nos últimos dias tive uma experiência muito gratificante cumprindo o meu papel de professora de língua portuguesa – sim, gosto de enfatizar que dou aula de língua e não de gramática da língua. Pois é, nos últimos dias ensinei a nossa língua portuguesa a estrangeiros ávidos por aprender o idioma oficial do país que sediou o maior evento esportivo do planeta. São pessoas de todas as partes com um objetivo em comum: interagir, comunicar-se em português.

    Como práxis, nas aulas iniciais, ensinamos o verbo “ser” e “estar”; para nós brasileiros, o famoso e enfadonho verbo to be das aulinhas de inglês. Então, a lição inicial é fazer com que os iniciantes entendam a diferença entre ambos os verbos, já que na língua do Tio Sam tal diferença só é percebida no contexto comunicativo. As explicações acontecem com exemplos reais, a fim de mostrar-lhes a língua como ela é.

    Nas aulas para estrangeiros o “tu” e o “vós” são abolidos, completamente descartados, e isso é o sonho linguístico de toda e qualquer criança brasileira. Imaginem o tormento: conjugação do verbo “ir”, no presente do indicativo “tu vais”, “vós ides” e a criança inconformada e chorosa pergunta: “Mãe, alguém fala isso? Eu não falo”. Pois é, sábia conclusão! A criança, com seu conhecimento linguístico inato, não reconhece o idioma descrito na Gramática e intui que aquelas conjugações trarão uma imensa dor de cabeça e possíveis notas vermelhas.

    A língua como ela é não se apresenta, com pretérito-mais-que-perfeito, como insiste a Gramática Normativa e seus exemplos surreais: “O vento fechou a porta que o vento abrira.” Abrira?

    Com o futuro também temos problemas. Não, não sou vidente, não me refiro ao amanhã, refiro-me ao tempo gramatical. Ele, como a GN sugere, não participa dos nossos planos, visto que um casal, ao sonhar com o ninho de amor, não enrola a língua para conjugar o verbo “querer” e, em vez de dizer “Nós quereremos um apartamento de frente para o mar”, usam a corriqueira forma composta “Vamos querer...”. A partir disso, façamos uma reflexão: por que não mostrar aos nossos pupilos os tempos verbais no contexto da nossa realidade linguística? O tempo futuro pode ser dito com a forma composta (verbo auxiliar no presente + verbo principal no infinito) acompanhada pelo advérbio de tempo que situa a ideia. Sendo assim, dizemos: “Vou viajar amanhã”. E falar assim é menos futuro? É tanto quanto em “Viajarei amanhã”, com o detalhe de que está caindo em desuso na fala do dia a dia.

    Ah! Como é gostoso ensinar a língua viva! Aquela que não está engessada nos compêndios gramaticais! Porém, os gramáticos que elaboram tais manuais afirmariam categoricamente: ensinar português para estrangeiros é diferente de ensinar português a uma criança nativa, afinal, ela já sabe português. Concordo! Claro que não precisamos ensinar as diferenças entre ser e estar, levar e trazer, conhecer e saber, confusões típicas de um aprendiz não nativo.

    Sugerir e advogar a favor do ensino real da língua significa retirar o que não é utilizado ou é raramente visto na escrita, é ignorar regras inúteis que não influenciam na compreensão da língua. Um exemplo clássico é o pronome oblíquo no começo da oração. Os puristas da língua consideram um erro crasso, mas que mal pode haver em dizer “Me empresta o seu livro do Veríssimo”? E por que não escrever assim também? É uma tendência nossa o uso da próclise, enquanto os portugueses preferem a ênclise. O nosso olhar para com os fenômenos linguísticos se compara ao estudo de um biólogo ou de um botânico, que não diz que aquela flor é mais ou menos bela por causa do formato das pétalas ou da coloração. Falar “empresta-me” não é mais ou menos bonito, é diferente, e em ambos os casos a comunicação acontece.

    Portanto, a minha singela conclusão é que precisamos de gramáticas que não tenham espaço para mesóclise, pronome possessivo “vosso”, lista de substantivos coletivos, tipos de sujeito e predicado, enfim, uma série de bobagens e gramatiquices que não ensinamos para os estrangeiros, porque não são relevantes para comunicação, também porque não fazem parte da língua como ela é.

(Disponível em http://conhecimentopratico.uol.com.br/linguaportuguesa/gramatica-ortografia/53/artigo344826-1.asp Acesso em: 08 set 2016.)

Observe a passagem a seguir: “... nos últimos dias ensinei a nossa língua portuguesa a estrangeiros ávidos por aprender o idioma oficial do país que sediou o maior evento esportivo do planeta (1º§). A figura de linguagem presente na passagem é a mesma que se encontra em:

Alternativas
Comentários
  • Em palavras breves, as figuras de linguagem são recursos expressivos utilizados com objetivo de gerar efeitos no discurso. Dentro do extenso grupo em que se arrolam esses recursos, existem quatro subdivisões: figura de palavra, figura de construção, figura de sintaxe e figura de som.

    Leiamos o trecho:

    "... nos últimos dias ensinei a nossa língua portuguesa a estrangeiros ávidos por aprender o idioma oficial do país que sediou o maior evento esportivo do planeta

    No trecho em destaque consta a perífrase, que consiste no uso de palavras para referir-se a alguma coisa por sua característica. Exs.: Cidade da Luz (Paris), Rei das Selvas (Leão), Planeta Água (Terra), etc. A frase "o maior evento esportivo do planeta" é perífrase para Copa do Mundo, sediada pelo Brasil em 2014.

    a) “Última flor do Lácio, inculta e bela.” (Olavo Bilac)

    Correto. Neste célebre verso de Bilac, o poeta serviu-se da mesma figura de linguagem acima para referir-se à língua portuguesa, especificamente no segmento sublinhado.

    b) “Beijou sua mulher como se fosse a única.” (Chico Buarque)

    Incorreto. Há comparação (ou símile). Esta figura, semelhante à metáfora, estabelece comparação entre elementos. Usualmente apresentará conectivos para este fim, a exemplo de “como”, “tal como”, “qual”, etc. Exs.:

    “Por ali ficou feito gato sem dono.” (Monteiro Lobato)

    “Meu coração tombou na vida/tal qual uma estrela ferida/pela flecha de um caçador.” (Cecília Meireles)

    “A sombra das roças é macia e doce, é como uma carícia.” (Jorge Amado)

    c) “Uma talhada de melancia com seus alegres caroços.” (Clarice Lispector)

    Incorreto. Consta a personificação, animismo ou prosopopeia. Esta figura diz respeito à atribuição de ações, qualidades ou sentimentos humanos a seres inanimados. Também é utilizada para emprestar vida e ação, não necessariamente humanas, a seres inanimados. Note ser impossível a melancia ter caroços alegres, visto que a alegria é predicado que pertence um ser vivo. Outros exemplos:

    “O carrinho tem pouco serviço e passa mor parte do tempo no depósito.” (Monteiro Lobato)

    “Os sinos chamam para o amor.” (Mario Quintana);

    “(...) o sol, no poente, abre tapeçarias...” (Cruz e Sousa);

    d) “A Igreja era grande e pobre. Os altares, humildes.” (Carlos Drummond de Andrade)

    Incorreto. Consta a personificação, animismo ou prosopopeia. Esta figura diz respeito à atribuição de ações, qualidades ou sentimentos humanos a seres inanimados. Também é utilizada para emprestar vida e ação, não necessariamente humanas, a seres inanimados. Observe que "humilde" e "pobre" referem-se, em primeiro lugar, a seres. Os exemplos da alternativa anterior aplicam-se aqui.

    Letra A

  • Acho que a banca diz dizer que isso é uma HIPÉRBOLE. A alternativa A tbm há uma hipérbole - ULTIMA FLOR DO LÁZIO

  • Colegas, segue o link para nos manifestarmos oficialmente sobre a PEC 32/2020 que trata sobre a Reforma Administrativa. Acesse a página da Câmara e clique em "Discordo Totalmente": forms.camara.leg.br/ex/enquetes/2262083/resultado

  • Lazio é localizada na Itália, acredito que seja um Hipérbole por conter um exagero. Assim como dizer: A última flor do Brasil.
  • A expressão o maior evento esportivo do planeta (no contexto seria as olimpíadas de 2016) = a figura de palavra Antonomásia/ Perífrase.

    A expressão "Última flor do Lácio, inculta e bela" é o primeiro verso de um famoso poema de Olavo Bilac, poeta brasileiro que viveu no período de 1865 a 1918. Esse verso é usado para designar o nosso idioma: a última flor é a língua portuguesa, considerada a última das filhas do latim. ( ou seja outra Antonomásia/ Perífrase).

    posso tá errado ? posso... mas faz muito mais sentido que hipérbole. Gabarito letra A

  • É uma hipérbole. O que se encontra também na alternativa A

  • perífrase :

    ocorre pela substituição de uma ou mais palavras por outra expressão. Essa substituição é feita mediante uma característica ou atributo marcante sobre determinado termo (ser, objeto ou lugar).

    país do carnaval celebrou mais uma conquista política. (Brasil)

    cidade maravilhosa foi palco das olimpíadas 2016. (Rio de Janeiro)

  • Perífrase ou Antonomásia 

    • - Trata-se de uma expressão que designa um ser através de alguma de suas características ou atributos, ou de um fato que o celebrizou. É a substituição de um nome por outro ou por uma expressão que facilmente o identifique:
    1. A Cidade Maravilhosa (= Rio de Janeiro) continua atraindo visitantes do mundo todo. 
    2. A Cidade-Luz (=Paris)
    3. O rei das selvas (=o leão)

    Observação: quando a perífrase indica uma PESSOA, recebe o nome de ANTONOMÁSIA. Exemplos: 

    • O Divino Mestre (= Jesus Cristo) passou a vida praticando o bem.
    • O Poeta dos Escravos (= Castro Alves) morreu muito jovem.
    • O Poeta da Vila (= Noel Rosa) compôs lindas canções.
  •  o maior evento esportivo do planeta

    PERÍFRASE= REFERENCIA A LUGAR,NOMES DE ALGO

    EXEMPLO: cidade luz -- Paris

    “Última flor do Lácio, inculta e bela.” (Olavo Bilac)

    A alternativa que sobrou que faz referencia

    “Beijou sua mulher como se fosse a única.” (Chico Buarque)

    comparação( simile)-- usa conectivos

    “Uma talhada de melancia com seus alegres caroços.” (Clarice Lispector)

    personificação,prosopopeia,animismo---- vida a ser inanimado

    “A Igreja era grande e pobre. Os altares, humildes.” (Carlos Drummond de Andrade)

    tem a omissão de um termo----- ZEUGMA

    na elipse, o elemento omitido fica subentendido pelo contexto. No zeugma, essa omissão se dá especificamente com um elemento que já apareceu explicitamente em momento anterior no enunciado. Portanto, o elemento omitido fica subentendido por se tratar de uma repetição no discurso.

    “Eu adoro filmes de terror. Meu namorado, os de comédia.”

  • Metonímia. Gab: A