- ID
- 4118494
- Banca
- CESPE / CEBRASPE
- Órgão
- Prefeitura de Boa Vista - RR
- Ano
- 2004
- Provas
- Disciplina
- Antropologia
- Assuntos
Considere que a seguinte descrição tenha sido reproduzida do
diário de campo de um antropólogo que faz pesquisa na própria
cidade em que vive.
Abro a janela de meu apartamento e olho para a rua. Na
padaria em frente, vejo duas empregadas domésticas que
acabaram de comprar o pão e conversam com o balconista na
porta da padaria vazia. A conversa parece ser alegre pelo rumor
das vozes e dos risos que me alcançam. Há pequenos toques
corporais entre o balconista e uma das empregadas. Na esquina,
vejo um pequeno agrupamento de homens. São os trabalhadores
da construção civil que estão terminando um edifício próximo.
Vestem roupas de trabalho sujas e rasgadas. Falam sobre futebol
e riem muito. Dá para ouvir daqui o que falam devido ao elevado
tom das vozes. Estão sentados, comendo as refeições que
trouxeram de casa. São 11 horas da manhã e ainda não decidi o
que farei para o almoço. Eles comem rapidamente com as
colheres que trouxeram junto com as marmitas. Na entrada de
meu edifício, dois moradores trocam algumas palavras. Não
consigo ouvir o que falam porque conversam num baixo tom de
voz. Mantêm uma certa distância física um do outro. Vestem
ternos e levam consigo um exemplar do jornal Valor Econômico.
São economistas que trabalham num grande banco no centro da
cidade. Na praça ao lado, vejo um grupo de jovens da vizinhança.
Vestem calças jeans e tênis. Alguns portam uma camiseta larga,
outros estão sem camisa, apreciando o Sol. É dia e horário de
aula, mas eles estão deitados em círculo no gramado. Fazem
poucos movimentos corporais, riem de vez em quando. No mais,
permanecem quietos e deitados no gramado enquanto fumam
coletivamente um mesmo cigarro. Fico preocupado com a
segurança do bairro. Volto ao meu trabalho de transcrever
entrevistas. Almoço só por volta de uma da tarde. Os talheres
estavam todos sujos, de modo que tive de comer com colher, a
única peça disponível. À tarde, vou à sede de um grande jornal
conversar com um jornalista que faz reportagens sobre a cidade.
Eu o encontro em meio a uma entrevista com um importante
cantor-compositor popular que nasceu e se criou no mesmo bairro
em que estou morando. Compartilho com eles a análise
antropológica que estou desenvolvendo sobre a vida cotidiana no
bairro com base em minhas observações e conversas com os
moradores. Minhas conclusões são contestadas pelos dois. Cada
um apresenta sua interpretação própria da vida no bairro. Todas
me parecem razoáveis, bem fundadas em observações e vivências
de muito tempo no local.
Julgue o item subseqüente, referentes às práticas culturais no
contexto urbano, considerando o caso hipotético acima
apresentado.
O texto sugere que o antropólogo tem familiaridade com as
práticas culturais de seu bairro, mas essa familiaridade não
significa necessariamente que ele conheça o ponto de vista e
a visão de mundo dos atores que aparecem no diário nem as
regras que balizam e orientam as interações entre eles.