Texto 3 - Memória coletiva
Em 1925, quando a era das comunicações começava a se acelerar, o filósofo francês Maurice Halbwachs
aventou a ideia de uma “memória coletiva”: o conjunto de lembranças que um grupo de pessoas compartilha sobre
um evento marcante e que, somado a fatos e imagens de domínio público, forma um tecido muito mais extenso e
bem tramado do que a simples soma das recordações individuais. Esse tecido é tão forte, aliás, que pode ser
compartilhado até mesmo por gerações que não assistiram aos acontecimentos. É um fenômeno presente na
maneira como os judeus lembram o Holocausto ou os americanos revivem a Guerra do Vietnã. Na vida brasileira, o
ano de 1970 é um desses polarizadores da memória coletiva: o ano em que o país reuniu a mais brilhante escalação
da história do futebol, em que esse time derrotou de maneira quase heroica cada um dos seus adversários [...], em
que a população experimentou, na Copa do Mundo, seu primeiro grande evento de mídia – e também um ano em
que a ditadura militar arrancava as pessoas de suas casas e sumia com elas, em que tudo era dito aos sussurros e
em que essa euforia de uma torcida nacional foi usada como cortina de fumaça para o desgoverno e se misturou a
ele. [...] E está aí, em boa medida, a beleza de O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias (Brasil, 2006) [...]: na
maneira como ele ao mesmo tempo separa e une esses dois fios da memória.
No começo de 1970, Mauro (Michel Joelsas), de 12 anos, é tirado às pressas de sua casa em Belo Horizonte
e levado para o apartamento do avô, no bairro paulistano do Bom Retiro. Os pais, aflitos, dizem que estão saindo de
férias e, quando puderem, voltarão para buscá-lo, de preferência a tempo de assistirem juntos à Copa. Vão-se
embora sem conferir se o avô recebeu o menino em segurança. Mas ele não está em casa, nem vai voltar. Mauro
vira então atribuição da vizinhança. Mora meio na casa vazia do avô, meio no apartamento ao lado, do velho Shlomo
(Germano Haiut), zelador da sinagoga local – o Bom Retiro reunia então uma forte comunidade judaica, a que Mauro
nem sabia pertencer. Janta com uma pessoa, almoça com outra, brinca com as crianças do bairro e, o tempo todo,
mantém um olho grudado no futebol e o outro no telefone, à espera de uma ligação dos pais que não chega nunca.
[...]
(BOSCOV, Isabela. Disponível em: http://arquivoetc.blogspot.com.br/2006/10/memria-coletiva.html.)
Tendo em vista o teor do conteúdo assim como os recursos de construção linguística utilizados,
pode-se afirmar que o texto 3, principalmente,