SóProvas


ID
4131265
Banca
COVEST-COPSET
Órgão
UFPB
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

TEXTO 1


Não existe criatura sobre a face da terra que não reflita todo dia sobre a própria língua, embora nem sempre se dê conta disso. Às vezes até “colocamos no ar” pedaços dessa reflexão. Certamente você já se pilhou dizendo ao seu interlocutor: “me deixa dizer isso de outro modo”, “esse assunto, digamos assim, terá outros desdobramentos”, “por assim dizer, tudo o que preciso agora é que você me empreste uma grana”, “agora estou pensando em calar a boca”, etc., etc.

Os linguistas chamam esses lances de “atividade epilinguística”. Complicado? Não, se você pensar que “epi” é uma preposição-prefixo tomada de empréstimo ao grego, e que quer dizer “a respeito de, sobre”. Uma atividade epilinguística é isso aí: ao mesmo tempo que você fala, você reflete a respeito das formas linguísticas que usou, para ver se estão adequadas à situação de fala em que se encontra. E seu cérebro dá conta de tudo isso. Por outras palavras, ninguém é “burro” se consegue falar.

Outros linguistas dispõem esse tipo de atividade no campo da Psicopragmática. Esse é um rumo de estudos que considera o uso da língua “para-si-mesmo”: você pensa em português, sonha em português, e nessas situações está usando a língua para si mesmo. Não para o outro. Abrindo um parêntese: o divertido nessa história é que, enquanto sonhamos, constituímos um interlocutor, que nos diz coisas de que não sabíamos.

Mas como é isso? Não fomos nós mesmos que inventamos o sonho e o interlocutor?! Então por que não sabíamos o que o “locutor inventado” nos ia dizer? Não, não, não pense que isto é coisa de maluco! Pondo de lado que todo mundo tem dessas “maluquices”, essas perguntas nos mostram que a língua é um fenômeno basicamente mental, criado por nossa mente, e a mente é um setor do conhecimento hoje em dia sujeito a muita pesquisa.

Outro exemplo: alguém pergunta sobre determinado assunto a respeito do qual não se tem uma noção clara. É normal, nesses casos, que a resposta seja mais ou menos assim:

-- Bem... o caso é que... não... o caso é que tudo isso tá muito enrolado.

O que foi que o locutor negou? Ele nem tinha dado a resposta ainda! O que se negou aqui foi o pensamento, negou-se o que ia ser dito, mediante uma “negação psicopragmática”. Outros fatos epilinguísticos e psicopragmáticos são estudados por uma disciplina chamada Análise da Conversação.

Enfim, depois de pensar calado, “falando com os nossos botões”, somente depois disso é que sentimos a necessidade de nos comunicar com outros. Aqui está a outra natureza das línguas, que não existiria sem a primeira: a língua serve para comunicar. Bem, isso você já sabia.

Mesmo assim, pense nisto: quando nos comunicamos, produz-se outro dos “mistérios linguísticos”, pois lançamos ao ar um conjunto de sons que são portadores de sentidos. Nosso interlocutor, se sabe nossa língua, apreende esses sons e interpreta grande parte dos sentidos que quisemos transmitir. Aí dizemos que ele “captou a mensagem”. Ninguém sabe como explicar direito esse emparelhamento entre som e sentido. Daí ter-se considerado como arbitrária a ligação som-sentido. A relação som-sentido é uma convenção que estabelecemos entre nós. E por aqui teremos de ficar, até que os neurologistas e os neurolinguistas entendam melhor o funcionamento do cérebro, e nos apresentem uma explicação para esse mistério.

Ataliba T. de Castilho. Disponível em: http://museudalinguaportuguesa.org.br/wp-content/uploads/2017/09/O-que-se-entende-por-língua-elinguagem.pdf. Acesso em 28/10/2019. Adaptado. 

O sinal indicativo de crase está corretamente empregado no seguinte enunciado:

Alternativas
Comentários
  • Quando os  “a qual” e “as quais” exercem a função de complemento de termo que exija a preposição “a”:

    Assertiva C

    Referência:

    https://brasilescola.uol.com.br/gramatica/crase.htm#:~:text=Crase%20%C3%A9%20o%20nome%20que,o%20nome%20de%20acento%20grave.

  • A questão é sobre crase e quer que marquemos a alternativa em que o sinal indicativo de crase está CORRETAMENTE empregado. Vejamos:

     .

    A) A capacidade de comunicar é comum à todas as línguas que existem.

    Errado. O certo seria "... é comum A todas as línguas...". Comum A + todas = comum A todas.

     .

    B) Como pensamos em uma dada língua, é impossível separar à língua e o pensamento.

    Errado. "Separar", nesse caso, não exige preposição: "separar 'isso' e 'aquilo'". Logo, o certo seria ".... é impossível separar A língua e o pensamento."

     .

    C) Língua sem falantes: não imagino a língua à qual você se refere.

    Certo. Quem se refere se refere A +A QUAL = À QUAL

     .

    D) Depois de ler o texto, a conclusão à que chego é que toda língua é bastante complexa.

    Errado. O certo seria "a conclusão A que chego é que...", pois NUNCA ocorre crase diante de pronome demonstrativo, indefinido, relativo ou interrogativo. Ex.: Não sei responder a essa pergunta. / Vocês chegaram a alguma conclusão? / Trata-se de professores a quem respeito muito. / O aluno se destina a que concurso?

     .

    E) Certamente, a língua que falo hoje não é mais àquela dos meus antepassados.

    Errado. O certo seria "não é mais AQUELA dos meus antepassados...". Nesse caso, "aquela" refere-se à "língua".

     .

    CRASE ocorre mediante a fusão da preposição "a" com:

     

    a) o artigo feminino "a" ou "as"

    Ex.: Fui à faculdade. (Fui A + A faculdade)

     

    b) o “a” dos pronomes demonstrativos “aquele (s), aquela (s), aquilo"

    Ex.: Você compareceu àquele cursinho? (Compareceu A + Aquele cursinho)

     

    c) o “a” dos pronomes relativos “a qual / as quais”

    Ex.: A aluna à qual me referi passou em primeiro lugar. (Quem se refere se refere A alguma coisa, A alguém + A qual)

     

    d) o pronome demonstrativo “a / as” (= aquela, aquelas)

    Ex.: Esta gramática é semelhante à que me deste. (Semelhante A + A que me deste)

     .

    Gabarito: Letra C

  • GABARITO-C

    A troca do feminino pelo masculino não é regra absoluta, mas ajuda a resolver 99% das questões de crase...

    A) A capacidade de comunicar é comum à todas as línguas que existem.

    NÃO USAMOS A CRASE:

    Antes de pronomes indefinidos que não admitem artigo (seguidos ou não de “s”): alguém, alguma, nenhuma, cada, certa, determinada, pouca, quanta, tal, tamanha, tanta, toda, ninguém, muita, outra, tudo, qual, qualquer, quaisquer.

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    B) Como pensamos em uma dada língua, é impossível separar à língua e o pensamento.

    É impossível separa o falante / É impossível separar a língua.

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    C) Língua sem falantes: não imagino a língua à qual você se refere.

    Fazendo a substituição:

    Não imagino o padrão ao qual você se refere.

    a língua à qual vc se refere..

    É PRONOME RELATIVO E MESMO ASSIM ADMITE CRASE.. VC DEVE AVALIAR CASO A CASO.

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    E) Certamente, a língua que falo hoje não é mais àquela dos meus antepassados.

    Para saber se há crase.. troque o aquele / aquela/ aquilo por "a este/ a esta/ a isto".

  • Usa-se crase antes de que ou de sempre que o a tiver valor de aquela ou subentender palavra feminina.