INSTRUÇÃO: A questão refere-se ao texto a seguir. Leia-o, atentamente, antes de marcar a resposta correta.
A nova maneira de organização social, praticada pela sociedade líquido-moderna de consumidores, provoca quase nenhuma dissidência, resistência ou revolta, graças ao expediente de
apresentar o novo compromisso (o de escolher) como sendo a
liberdade de escolha. Seria possível dizer que o mais considerado, criticado e insultado oráculo de Jean-Jacques Rousseau – o
de que “as pessoas devem ser forçadas a ser livres” – tornou-se
realidade, depois de séculos, embora não na forma em que tanto
os ardentes seguidores como os críticos severos de Rousseau esperavam que fosse implementado.
Com muita frequência, a “localidade” a que os indivíduos
permanecem leais e obedientes não entra mais em suas vidas e
se confronta com eles na forma de uma negação de sua autonomia individual, ou de um sacrifício obrigatório. Em vez disso,
apresenta-se na forma de festivais de convívio e pertença comunais, divertidos, prazerosos, realizados em ocasiões como a Copa
do Mundo de futebol. Submeter-se à “totalidade” não é mais
um dever adotado com relutância, incomodidade e muitas vezes
oneroso, mas um “patriotenimento”, uma folia procurada com
avidez e eminentemente festiva.
Carnavais tendem a ser interrupções na rotina diária, breves intervalos animados entre sucessivos episódios de cotidianidade enfadonha, pausas em que a hierarquia mundana de valores é temporariamente invertida, os aspectos mais angustiantes da realidade são suspensos por um breve período e os tipos de
conduta proibidos ou considerados vergonhosos na vida “normal” são ostensivamente praticados e exibidos.
A função (e o poder sedutor) dos carnavais líquido-modernos está no ressuscitamento momentâneo do convívio que
entrou em colapso. Tais carnavais são sessões espíritas para as
pessoas se reunirem, darem as mãos e invocarem do outro mundo o fantasma da falecida comunidade.
(BAUMAN, Zygmunt. Vida para consumo: a transformação de pessoas em mercadoria. Rio
de Janeiro: Zahar, 2008. Adaptado.)
Há características do gênero “ensaio” nesse texto sobretudo porque ele