SóProvas


ID
4172548
Banca
FUMARC
Órgão
Prefeitura de Carneirinho - MG
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

UM EXEMPLO 

Sírio Possenti 

Publicado em 25 de novembro de 2016

Ref.: https://blogdosirioblog.wordpress.com/ [adaptado] 


    Uma amiga mexicana me mandou uma imagem: dois homens de terno (o terno indica uma classe social que não é a popular) conversam. Um diz: – Me corrigieran “Ler”. O outro responde: – No lo puedo “Crer”. 
    Não me dei conta, imediatamente, do que estava em jogo (tratando-se de outra língua, a presteza nunca é muito grande). Perguntei detalhes (não vou me imolar aqui…). Ela me deu o contexto, que é o seguinte: 
    Um Secretário de Instrución Pública falava a um grupo de alunos em uma escola e os incentivava a “ler” (ele disse “ler” mais de uma vez). Ao final, uma menina o chamou de lado e lhe informou que não se diz “ler”, “pero ‘leer’”. Ele achou graça, elogiou a aluna etc.
    Depois disso é que surgiu a piada narrada no primeiro parágrafo, uma montagem. A graça está no fato de que, na resposta (no lo puedo “crer”), ocorre o mesmo fenômeno que ocorre em “ler”. 
    Que é o seguinte: em espanhol “culto”, as formas do infinitivo destes dois verbos são “leer” e “creer”. O fato de o Secretário dizer “ler” indica, evidentemente, que esta pronúncia está desaparecendo: “ler” e “crer”.
    Observe-se que o fenômeno ocorre nos dois casos, o que favorece a tese dos sociolinguistas que defendem que, nos mesmos contextos, ocorrem as mesmas variações (ou mudanças).
    Observe-se, também, que esta mudança em curso no espanhol (do México, pelo menos), como o indica a fala do secretário, e depois, a montagem com “crer”, já ocorreu no português.
    Mesmo quem não conhece linguística histórica ou não tem um manual que descreva as mudanças ocorridas pode ver o registro em dicionários como o Houaiss, que fornece uma etimologia mínima (eu grifo leer e creer): 
    ler: cf. esp. leer, it. lèggere, fr. lire; ver le- e leg- e as remissivas aí citadas; f.hist. 1258-1261 leer, sXIII liia, sXIII leer, sXIV leendo, sXIV lyi, sXV le, sXV leese, sXV lia
    crer: pelo lat. vulg. *credére > port. arc. creer; ver cred-; f.hist. sXIII creer, sXIII creo, sXIV creyo, sXV crer, sXV creio

    O fato histórico pode ser atestado. E a variação no espanhol deve ser bem óbvia, pelo menos para muitos falantes. Se não fosse, a piada não funcionaria (como não funcionou comigo). 
    Observe-se, também, por muito relevante, que uma aluna de uma escola modesta aprendeu que se deve dizer “leer”.
   É um fato conhecido que instituições diversas (a escola, a imprensa, a própria escrita) retardam mudanças linguísticas. Pode-se apostar que, se essas instituições não existissem, ou se sua política fosse outra, ninguém mais saberia que as formas verbais em questão são (?) “leer” e “creer”. Aliás, para os falantes menos letrados, e mesmo para letrados em situação informal, já não são essas. 
    A piada seria impossível.
    O que seria lamentável. 

É um fato conhecido que instituições diversas (a escola, a imprensa, a própria escrita) retardam mudanças linguísticas. Pode-se apostar que, se essas instituições não existissem, ou se sua política fosse outra, ninguém mais saberia que as formas verbais em questão são (?) “leer” e “creer”.
Sintetiza o que se afirma sobre a passagem anterior:

Alternativas
Comentários
  • Alguém me explica por favor, obrigado.

  • QUERIA UMA EXPLICAÇÃO, POR FAVOR!

  • Gab. letra D

    Fui por exclusão.

  • No meu humilde entendimento, vejo que o enunciado da questão diz que: " retardam mudanças linguísticas. Pode-se apostar que, se essas instituições não existissem, ou se sua política fosse outra, ninguém mais saberia que as formas verbais em questão", ou seja, que as instituições transcrevem a forma culta e não a usual. Se analisarmos as assertivas

    a) vai contra o pensamento do enunciado, pois a escrita padrão segue a forma culta e não a usual.

    b) as instituições retardam, por manter seu conservadorismo linguístico, ou seja, não mudam.

    c) também vai contra o enunciado, conforme explicação a alternativa A.

    Restando-nos apenas a assertiva D como correta, é uma questão complexa mas com um certo raciocínio é possível chegar a alternativa correta.

  • Entendi foi nada dessa questão...

  • Galera, de acordo com o texto as formas "creer" e "leer", no espanhol, estão desaparecendo porque as pessoas passaram a pronunciar essas duas palavras de outra forma, que é: "crer" e "ler". E elas só não desapareceram, ainda, porque as instituições, de ensino e comunicação, continuam a usar as expressões "creer" e "leer". Assim, quem faz a língua é o povo.

  • Fiz por eliminação, já que todas as alternativas estão erradas. Sendo as três primeiras expressamente erradas e a última sofre de extrapolação.

  • É um fato conhecido que instituições diversas (a escola, a imprensa, a própria escrita) retardam mudanças linguísticas. Pode-se apostar que, se essas instituições não existissem, ou se sua política fosse outra, ninguém mais saberia que as formas verbais em questão são (?) “leer” e “creer”.

    Moral da História

    O povo pronuncia de maneira diferente da escrita.

    As instituições escrevem de forma culta (padrão), se não fosse isso, a forma correta já teria sofrido mudanças.

    Entendi isso..rs

    Gabarito : D

  • oq acontece nessa banca ?

  • O que o texto diz é que as instituições mantém coisas que o povo não usa.

    Isso demonstra que, independente do que se tem em livros, quem faz a língua é o povo, mas as instituições mantém o formato arcaico da língua.