I. Surge então a pergunta: se a fantasia funciona como
realidade; se não conseguimos agir senão mutilando o
nosso eu; se o que há de mais profundo em nós é no fim de
contas a opinião dos outros; se estamos condenados a não
atingir o que nos parece realmente valioso –, qual a
diferença entre o bem e o mal, o justo e o injusto, o certo e
o errado? O autor passou a vida a ilustrar esta pergunta, que
é modulada de maneira exemplar no primeiro e mais
conhecido dos seus grandes romances de maturidade.
II. É preciso todavia lembrar que essa ligação com o problema
geográfico e social só adquire significado pleno, isto é, só
atua sobre o leitor, graças à elevada qualidade artística do
livro. O seu autor soube transpor o ritmo mesológico para a
própria estrutura da narrativa, mobilizando recursos que a
fazem parecer movida pela mesma fatalidade sem saída.
(...) Da consciência mortiça da personagem podem emergir
os transes periódicos em que se estorce o homem esmagado
pela paisagem e pelos outros homens.
Nos fragmentos I e II, aqui adaptados, o crítico Antonio Candido
avalia duas obras literárias, que são, respectivamente,