- ID
- 4215643
- Banca
- ADM&TEC
- Órgão
- Prefeitura de Palmeira dos Índios - AL
- Ano
- 2019
- Provas
-
- ADM&TEC - 2019 - Prefeitura de Palmeira dos Índios - AL - Professor de Ciências Biológicas
- ADM&TEC - 2019 - Prefeitura de Palmeira dos Índios - AL - Professor de Educação Física
- ADM&TEC - 2019 - Prefeitura de Palmeira dos Índios - AL - Professor de Geografia
- ADM&TEC - 2019 - Prefeitura de Palmeira dos Índios - AL - Professor de História
- ADM&TEC - 2019 - Prefeitura de Palmeira dos Índios - AL - Professor de Língua Portuguesa
- ADM&TEC - 2019 - Prefeitura de Palmeira dos Índios - AL - Professor de Matemática
- Disciplina
- Português
- Assuntos
PRECONCEITO QUE CALA, LÍNGUA QUE DISCRIMINA
Marcos Bagno, escritor e linguista brasileiro, deixa à mostra a
ideologia de exclusão social e de dominação política pela língua,
típica das sociedades ocidentais. “Podemos amar e cultivar
nossas línguas, mas sem esquecer o preço altíssimo que muita
gente pagou para que elas se implantassem como idiomas
nacionais e línguas pátrias”.
O preconceito linguístico é um preconceito social. Para isso,
aponta a afiada análise do escritor e linguista Marcos Bagno,
brasileiro de Minas Gerais. Autor de mais de 30 livros, entre
obras literárias e de divulgação científica, e professor da
Universidade de Brasília, atualmente é reconhecido sobretudo
por sua militância contra a discriminação social por meio da
linguagem. No Brasil, tornou-se referência na luta pela
democratização da linguagem e suas ideias têm exercido
importante influência nos cursos de Letras e Pedagogia.
A importância de atingir esse meio, segundo ele, é que o
combate ao preconceito linguístico passa principalmente pelas
práticas escolares: é preciso que os professores se
conscientizem e não sejam eles mesmos perpetuadores do
preconceito linguístico e da discriminação. Preconceito mais
antigo que o cristianismo, para Bagno, a língua desde longa data
é instrumentalizada pelos poderes oficiais como um mecanismo
de controle social. Dialeto e língua, fala correta e incorreta: na
entrevista concedida a Desinformémonos, ele desnaturaliza
esses conceitos e deixa à mostra a ideologia de exclusão e de
dominação política pela língua, tão impregnada nas sociedades
ocidentais.
“A língua é um dialeto com exército e marinha”, Max Weinreich.
O controle social é feito oficialmente quando um Estado escolhe
uma língua ou uma determinada variedade linguística para se
tornar a língua oficial. Evidentemente qualquer processo de
seleção implica um processo de exclusão. Quando, em um país,
existem várias línguas faladas, e uma delas se torna oficial, as
demais línguas passam a ser objeto de repressão.
É muito antiga a tradição de distinguir a língua associada ao
símbolo de poder dos dialetos. O uso do termo “dialeto” sempre
foi carregado de preconceito racial ou cultural. Nesse emprego, dialeto é associado a uma maneira errada, feia ou má de se falar
uma língua. Também é uma maneira de distinguir a língua dos
povos civilizados, brancos, das formas supostamente primitivas
de falar dos povos selvagens. Essa forma de classificação é tão
poderosa que se erradicou no inconsciente da maioria das
pessoas, inclusive as que declaram fazer um trabalho
politicamente correto.
De fato, a separação entre língua e dialeto é eminentemente
política e escapa aos critérios que os linguistas tentam
estabelecer para delimitar dita separação. A eleição de um
dialeto, ou de uma língua, para ocupar o cargo de língua oficial,
renega, no mesmo gesto político, todas as outras variedades de
língua de um mesmo território à terrível escuridão do não-ser. A
referência do que vem de cima, do poder, das classes
dominantes, cria aos falantes das variedades de língua sem
prestígio social e cultural um complexo de inferioridade, uma
baixo autoestima linguística, a qual os sociolinguistas catalães
chamam de “auto-ódio”.
Falar de uma língua é sempre mover-se no terreno pantanoso
das crenças, superstições, ideologia e representações. A Língua
é um objeto criado, normatizado, institucionalizado para garantir
a unidade política de um Estado sob o mote tradicional: “um país,
um povo, uma língua”. Durante muitos séculos, para conseguir a
desejada unidade nacional, muitas línguas foram e são
emudecidas, muitas populações foram e são massacradas,
povos inteiros foram calados e exterminados. No continente
americano, temos uma história tristíssima de colonização
construída sobre milhares de cadáveres de indígenas que já
estavam aqui quando os europeus invadiram suas terras
ancestrais e dos africanos escravizados que foram trazidos para
cá contra sua vontade.
Não podemos esquecer que o que chamamos de “língua
espanhola”, “língua portuguesa”, ou “língua inglesa” tem um rico
histórico, não é algo que nasceu naturalmente. Podemos amar e
cultivar essas línguas, mas sem esquecer o preço altíssimo que
muita gente pagou para que elas se implantassem como
idiomas nacionais e línguas pátrias.
(Adaptado. Reforma Ortográfica. Disponível em: http://bit.ly/2oPUuWL)
Com base no texto 'PRECONCEITO QUE CALA, LÍNGUA QUE
DISCRIMINA', leia as afirmativas a seguir:
I. Os falares dos povos considerados selvagens são considerados
dialetos, pois não são línguas com uma estrutura e uma gramática
como as dos povos “civilizados”. Essa ideia fica clara no excerto: “A
eleição de um dialeto, ou de uma língua, para ocupar o cargo de
língua oficial, renega, no mesmo gesto político, todas as outras
variedades de língua de um mesmo território à terrível escuridão do
não-ser”.
II. Conforme pontua o texto, algumas línguas nacionais ou pátrias
que hoje conhecemos e apreciamos foram constituídas à base da
discriminação social realizada pelos povos colonizadores cuja
prática continua legitimada pela escola. Em suma, muitas pessoas
pagaram um preço altíssimo para que elas se implantassem como
idiomas nacionais e línguas pátrias.
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