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ID
4218733
Banca
IF-MT
Órgão
IF-MT
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto 02

A psicanálise do açúcar


O açúcar cristal, ou açúcar de usina,

mostra a mais instável das brancuras:

quem do Recife sabe direito o quanto,

e o pouco desse quanto, que ela dura.

Sabe o mínimo do pouco que o cristal

se estabiliza cristal sobre o açúcar,

por cima do fundo antigo, de mascavo,

do mascavo barrento que se incuba;

e sabe que tudo pode romper o mínimo

em que o cristal é capaz de censura:

pois o tal fundo mascavo logo aflora

quer inverno ou verão mele o açúcar.


Se os bangüês que-ainda purgam ainda

o açúcar bruto com barro, de mistura;

a usina já não o purga: da infância,

não só depois de adulto, ela o educa;

em enfermarias, com vácuos e turbinas,

em mãos de metal de gente indústria,

a usina o leva a sublimar em cristal

o pardo do xarope: não o purga, cura.

Mas como a cana se cria ainda hoje,

em mãos de barro de gente agricultura,

o barrento da pré-infância logo aflora

quer inverno ou verão mele o açúcar.

(João Cabral de Melo Neto. Obro completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994, p. 356). 

No nível das estruturas narrativas, as operações da etapa fundamental, no percurso gerativo do sentido na construção semiótica do texto, devem ser examinadas como transformações operadas por sujeitos. Dessa forma, em "Psicanálise do açúcar", só NÃO é correto afirmar que:

Alternativas
Comentários
  • Letra E não condiz com o poema

    A) Mudam-se as qualificações do sujeito "açúcar", ora "puro" ora "sujo", transformando sua competência para a ação. Correto O açúcar cristal, ou açúcar de usina, mostra a mais instável das brancuras a usina transforma o açúcar

    B) Tanto a usina quanto o tempo ou o banguês são responsáveis pelas alterações das qualificações do sujeito. Correto Se os bangüês que-ainda purgam ainda o açúcar bruto com barro, de mistura. a usina o leva a sublimar em cristal o pardo do xarope: não o purga, cura

    C) A usina manipula o sujeito sobretudo pela intimidação das "mãos de metal", para que ele aja de modo "útil", "puro" e "racional", sem os impulsos ou os instintos "sujos". Correto a usina já não o purga: da infância,

    não só depois de adulto, ela o educa

    D) À usina opõe-se ao tempo, ao inverno ou ao verão que "melam o açúcar", ou seja, que desqualificam o sujeito para a ação pretendida pela usina. Correto o barrento da pré-infância logo aflora quer inverno ou verão mele o açúcar.

    E) O tempo faz saber que a pureza é superficial e esconde o ser do sujeito moldado pelas "mãos de barro de gente agricultura". Faz-se, com isso, o percurso inverso, da essência à aparência. Errado a usina o leva a sublimar em cristal o pardo do xarope: não o purga, cura. A usina transforma o açúcar em xarope mostrando que há pureza antes havia só aparência e transformou-se na essência cana e xarope