SóProvas


ID
4832059
Banca
INSTITUTO AOCP
Órgão
MJSP
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

O cinzeiro


Mário Viana


Procura-se um martelinho de ouro. Aceitam-se indicações de profissionais pacientes e com certa delicadeza para restaurar um cinzeiro que está na família há mais de cinco décadas. Não se trata de joia de valor financeiro incalculável, mas de uma peça que teve seus momentos úteis nos tempos em que muita gente fumava. Hoje, é apenas o símbolo de uma época.

Arredondado e de alumínio, o cinzeiro chegou lá em casa porque meu pai o ganhara de presente de seu patrão, o empresário Baby Pignatari – como ficou mais conhecido o napolitano Francisco Matarazzo Pignatari (1917- 1977). Baby misturou na mesma medida as ousadias de industrial com as estripulias de playboy. No corpo do cinzeiro destaca-se um “P” todo trabalhado em relevo.

Nunca soube direito se meu pai ganhou o cinzeiro das mãos de Baby ou de sua mulher, a dona Ira – era assim que a princesa e socialite italiana Ira von Furstenberg era conhecida lá em casa. Só muitos anos depois, já adulto e jornalista formado, descobri a linha de nobreza que fazia de dona Ira um celebridade internacional.

[...]

Pois esse objeto que já passou pelas mãos de uma princesa – italiana, mas principessa, que diacho – despencou outro dia do 12º andar até o térreo. Amassou, coitado. A tampa giratória ficou toda prejudicada E o botão de borracha que era pressionado também foi para o devido beleléu.

Mesmo assim, não acredito em perda total. Tenho fé em que um bom desamassador dê um jeito e devolva o cinzeiro, se não a seus dias de glória, pelo menos a uma aparência menos miserável. É o símbolo de uma trajetória, afinal de contas, há que respeitar isso.

Praticamente aposentado – a maioria dos meus amigos e eu deixamos de fumar –, o cinzeiro ocupava lugar de destaque na memorabilia do meu hipotético museu pessoal. Aquele que todos nós criamos em nosso pensamento mais secreto, com um acervo repleto de pequenos objetos desimportantes para o mundo.

Cabem nessa vitrine imaginária o primeiro livro sério que ganhamos, com a capa rasgada e meio desmontado; o chaveiro que alguém especial trouxe de um rolê mochileiro pelos Andes; o LP com dedicatória de outro alguém ainda mais especial; uma caneca comprada na Disney; o calção usado aos 2 anos de idade... e o velho cinzeiro carente de reparo.

Adaptado de: <https://vejasp.abril.com.br/cidades/mario-viana-ocinzeiro/>. Acesso em: 10 set. 2020.

Em relação ao texto, é correto afirmar que

Alternativas
Comentários
  • Gabarito: D

    Tenho fé em que um bom desamassador dê um jeito e devolva o cinzeiro, se não a seus dias de glória, pelo menos a uma aparência menos miserável. É o símbolo de uma trajetória, afinal de contas, há que respeitar isso.

  • Se fosse FGV, estaria errada. Pois ele tem certeza de que o concerto não faráo cinzeiro voltar ao seu estado anterior.

  • Letra E tbm não está incorreta, pois "restaurar um cinzeiro que está na família há mais de cinco décadas", e o texto é de 2018.

  • Gabarito: D.

    a) Errado. Na segunda linha do texto: "Não se trata de joia de valor financeiro incalculável".

    b) Errado. Típica extrapolação textual. Quem é aposentado e não fuma mais é o narrador. Não há nenhuma informação a respeito de seus familiares.

    c) Errado. No terceiro parágrafo: "Nunca soube direito se meu pai ganhou o cinzeiro das mãos de Baby ou de sua mulher".

    d) Gabarito. Extraindo um trecho que permita confirmar: "Tenho fé em que um bom desamassador dê um jeito e devolva o cinzeiro, se não a seus dias de glória, pelo menos a uma aparência menos miserável. É o símbolo de uma trajetória, afinal de contas, há que respeitar isso." Ele tem uma esperança de que o cinzeiro possa voltar a sua condição original, mas caso não possa, que volte a ficar o mais parecido possível.

    e) Errado. Extrapolação textual novamente. Pelo item C nós sabemos que não há certeza de quem foi que deu o isqueiro. Ademais, não há forma de se ter estimativa de quando que o isqueiro foi recebido pelo pai do narrador. Sobre o comentário da colega Lucineide, acredito que há equívoco. Primeiro pelo fato de a prova não fornecer o ano do texto, e sim o ano de acesso. Ela conseguiu tal informação buscando na internet. Além disso, o autor fala que o texto está em sua família há mais de 5 décadas, certo? Então, considerando o ano de 2018 - 50 anos = 1968. Porém, como fala que está há mais de 5 décadas, nós não sabemos se são 6, 7, enfim, o total exato. Portanto, não há como concluir o que a assertiva pede.

    Bons estudos!

  • o narrador não tem total certeza de que o conserto do cinzeiro fará com este retorne exatamente ao que era antigamente.

    o correto não seria "esse"? alguém pode me confirmar?

  • Mesmo assim, não acredito em perda total. Tenho fé em que um bom desamassador dê um jeito e devolva o cinzeiro, se não a seus dias de glória, pelo menos a uma aparência menos miserável. É o símbolo de uma trajetória, afinal de contas, há que respeitar isso.

  • GAB D

    Vejamos o trecho: Tenho fé em que um bom desamassador dê um jeito e devolva o cinzeiro, se não a seus dias de glória, pelo menos a uma aparência menos miserável. É o símbolo de uma trajetória, afinal de contas, há que respeitar isso.

    Não há uma certeza por parte do narrador.

    Estratégia.

  • Foco na Missão Guerreiros, que aprovação é certa!

  • ler esse texto mata um tempo !

  • Não o "P" em relevo do cinzeiro do PIGNATARI, não é pq ele tinha esse nome...

    E se a mulher dele deu pra o amante, o cinzeiro não é mais dele, afinal...

    #TáSertu

  • LETRA: D

    "Tenho fé em que um bom desamassador dê um jeito e devolva o cinzeiro, se não a seus dias de glória, pelo menos a uma aparência menos miserável."

  • Gab: D

    Mesmo assim, não acredito em perda total. Tenho fé em que um bom desamassador dê um jeito e devolva o cinzeiro, se não a seus dias de glória, pelo menos a uma aparência menos miserável. É o símbolo de uma trajetória, afinal de contas, há que respeitar isso.

  • Errei por falta de atenção... sigamos.

  • Sobre a letra C: deduzir o P era até fácil, mas estaríamos INTERPRETANDO, já que o texto não fala nada, de modo direto! E o enunciado é claro '' em relação ao texto'', ou seja, COMPREENSÃO

  • Letra C está incorreta:

    o cinzeiro foi entregue pessoalmente ao pai do narrador por Baby Pignatari, por isso o objeto tinha a letra “P” em relevo.

    Resposta:

    Nunca soube direito se meu pai ganhou o cinzeiro das mãos de Baby ou de sua mulher, a dona Ira..... 

    Letra D está correta:

    o narrador não tem total certeza de que o conserto do cinzeiro fará com este retorne exatamente ao que era antigamente.

    Resposta:

    Mesmo assim, não acredito em perda total. Tenho fé em que um bom desamassador dê um jeito e devolva o cinzeiro, se não a seus dias de glória, pelo menos a uma aparência menos miserável. É o símbolo de uma trajetória, afinal de contas, há que respeitar isso.