SóProvas


ID
4839502
Banca
SUGEP - UFRPE
Órgão
UFRPE
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português

Sozinhos na multidão: a solidão na era das redes sociais

Solidão. Essa parece ser uma palavra recorrente e uma constante no comportamento das pessoas no século XXI, o século em que o ser humano nunca esteve, teoricamente, mais conectado aos seus semelhantes em toda a sua história, através do mundo digital da Web e das redes sociais.

Por mais estranho que possa parecer, ao mesmo tempo em que a Internet abriu um mundo novo e revolucionou praticamente todas as formas conhecidas de relacionamento entre pessoas, comunidades e países, as pessoas nunca estiveram mais solitárias, e nunca foram registradas tantas ocorrências de doenças psíquicas, como os diversos transtornos de ansiedade, comportamentos compulsivos originados de quadros de carência afetiva aguda e fratura narcísica, além do impressionante aumento de queixas de depressão, nos mais diversos níveis.

Todos estão conectados, linkados e interligados aos outros através das redes sociais como Facebook, Google+ e outras muitas plataformas existentes com a mesma finalidade (teoricamente): aproximar pessoas. Entretanto, nunca estivemos tão distantes da conexão real entre as pessoas, seja afetiva ou socialmente. As pessoas hoje preferem passar mais tempo conectadas através do computador, tablet, celular ou qualquer outro dispositivo, móvel ou não, do que se encontrar fisicamente para poderem interagir no mundo real.

Pode-se ter uma medida disso ao se observar comportamentos de famílias em restaurantes, grupos de adolescentes no shopping, amigos/amigas/colegas de trabalho almoçando juntos. Chega a ser impressionante o tempo dedicado por todos aos seus dispositivos eletrônicos para envio de mensagens ou e-mails, acompanhar as atualizações feitas pelos seus respectivos “amigos” e conhecidos nas diversas redes sociais, ao invés de dedicar o mesmo tempo para tentar desenvolver algum tipo de interação ou de conexão afetiva real. No caso dos grupos de adolescentes esse fenômeno chega a ser mais impressionante (ou diria, talvez, mais preocupante).

As crianças, ao invés de se relacionarem e brincarem umas com as outras, passam a interagir umas com as outras através de seus tablets e smartphones (dados por pais que não param para avaliar se os filhos já têm idade para serem expostos ao mundo digital desta forma), mandando mensagens (ao invés de conversarem ao vivo e a cores) entre si, jogando online. Com os adolescentes, a cena não é muito diferente: numa mesma mesa pode-se ver a interação sendo feita através de smartphones e tablets, com o envio de mensagens de um para o outro (ao invés de tentar simplesmente conversar), ou através das atualizações de suas respectivas atividades no “Face” (diminutivo de Facebook, porque dá muito trabalho falar Facebook, segundo esses adolescentes, cuja marca registrada é um imenso e constante cansaço).

A este panorama, de pessoas altamente conectadas com tudo e todos à sua volta e, por si só, bastante para desencadear a ansiedade e o aparecimento de neuroses diversas nessa sociedade global do século XXI, adicione-se o surgimento de uma sociedade em que nunca se viu um contingente tão grande de solitários e de laços afetivos tão fluidos e instáveis, a era do chamado “amor líquido”. Uma era em que é mais fácil deletar do que tentar resolver obstáculos e conflitos dentro dos relacionamentos, em que todos estão ligados a todo mundo, mas poucos conseguem estabelecer relações estáveis e saudáveis, seja do ponto de vista afetivo ou sexual.

Isso me leva a concluir que, neste novo mundo de relações digitais e fluidas, está se criando uma nova geração, na qual os relacionamentos virtuais – diferentes dos relacionamentos reais, pesados, lentos e confusos – são muito mais fáceis de entrar e sair; eles parecem inteligentes e limpos, fáceis de usar, compreender e manusear. Quando o interesse acaba, ou a situação chega a determinado ponto que exige pelo menos elaboração, sempre se pode apertar a tecla “delete”. Não sem consequências psíquicas ou com tanta leveza quanto aparenta, já que a modernidade não chega com essa velocidade ao psiquismo.

O que vemos é cada vez mais casos de pacientes com discursos fragmentados, ocorrências de dissociação de personalidade (um resultado nítido das alter personalidades tão usuais no mundo digital), quadros de carência afetiva aguda e comportamentos compulsivos diversos (muito provavelmente originados pelo abandono dos pais pós-modernos), além de transtornos de ansiedade e depressão, nos mais diversos níveis. Vivemos em um mundo onde as pessoas não só estão mais sozinhas, como estão deprimidas, ansiosas (todas buscando aceitação, acolhimento, conexões afetivas e amor), compulsivas e, paradoxalmente, conectadas com o mundo. Ou seja, ao contrário do ditado, não basta estar sozinho, mas sozinho, apesar de acompanhado.

Marcelo Bernstein. Disponível em: http://desacato.info/sozinhos-na-multidao-a-solidao-na-era-das-redes-sociais. Acesso em 16/04/2019. Adaptado.

Assinale a alternativa em que as normas de regência (nominal e verbal) estão em conformidade com o padrão culto da língua.

Alternativas
Comentários
  • GABARITO -C

    A) O aumento de doenças psíquicas é devido o exagero de tempo no mundo virtual.

    Devido /  exige a preposição “a”, quando tem o sentido de “por causa de”, “por motivo de

    DEVIDO AO EXAGERO

    ---------------------------------------

    B) Os dispositivos móveis chegam no Brasil com a mesma velocidade com que são lançados.

    OS VERBOS CHEGAR E IR SÃO REGIDOS COM A PREPOSIÇÃO ( A)

    Chegaram ( AO ) Brasil

    --------------------------------------------

    C) Os jovens se esquecem facilmente de que os amigos são importantes na nossa caminhada.

    OS VERBOS ESQUECER E LEMBRAR PODEM SER REGIDOS DA SEGUINTE MANEIRA:

    VTD - ESQUECI SEU NOME

    VTI ( PRECISA DA PREPOSIÇÃO + PRONOME )

    ESQUECI DO SEU NOME ( ERRADO)

    ESQUECI-ME SEU NOME ( ERRADO)

    ESQUECI-ME DO SEU NOME ( CORRETO )

    -----------------------------------------------

    D) Estabelecer relações com o outro é inerente da condição himana.

    inerente a

    INERENTE ( A)

    --------------------------------

    E) É incrível como as crianças que nascem hoje já são peritas com as redes sociais.

    'Perito é um substantivo na forma masculina que tem perita como forma feminina. Por isso, estas duas formas constituem um substantivo biforme. Exemplos: «Ela é perita em medicina chinesa» e «ele é perito em cozinha japonesa».'

    in Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/sobre-o-substantivo-perito/20413 [consultado em 20-10-2020]

  • regência verbal trata da transitividade de verbo, que pode ser intransitivo (dispensa complementos verbais), transitivo direto (requer complemento verbal direto), transitivo indireto (requer complemento verbal indireto) ou ainda bitransitivo (requer concomitantemente um complemento verbal direto e outro indireto). Nestas duas últimas, o verbo reclama preposição (a, de, em, por, sobre, etc.)

    VTI: Verbo Transitivo Indireto

    Por seu turno, a regência nominal difere da verbal, pois o teor é tratar da relação entre termos regentes (adjetivo, advérbio e substantivo) e regidos (complementos), feita também por meio de preposições.

    a) O aumento de doenças psíquicas é devido o exagero de tempo no mundo virtual.

    Incorreto. O adjetivo "devido", segundo Celso Pedro Luft, em Dicionário Prático de Regência Nominal, rege preposição "a", embora esta, na língua moderna, tem sido abandonada. Correção: "(...) devido ao exagero te tempo no mundo virtual";

    b) Os dispositivos móveis chegam no Brasil com a mesma velocidade com que são lançados.

    Incorreto. Celso Pedro Luft, em Dicionário Prático de Regência Verbal, "chegar", na acepção de atingir o movimento de ida ou vinda, pode ser VI. Em tela, é VTI e complemento deve ser introduzido por preposição "a", a despeito de ser muito comum, mormente na língua falada, a preposição "em". Correção: "(...) chegam ao Brasil (...)";

    c) Os jovens se esquecem facilmente de que os amigos são importantes na nossa caminhada.

    Correto. Tanto a regência verbal quanto a nominal estão integralmente corretas;

    d) Estabelecer relações com o outro é inerente da condição humana.

    Incorreto. Para Celso Pedro Luft, em Dicionário Prático de Regência Nominal, p.289, o adjetivo "inerente" rege duas preposições: "a" e "em". Correção: "(...) inerente à/na condição humana";

    e) É incrível como as crianças que nascem hoje já são peritas com as redes sociais.

    Incorreto. O adjetivo "perito" rege uma única preposição: "em" e não "com". Correção: "(...) peritas em redes sociais".

    Letra C

  • GAB: C

    VERBOS: ESQUECER E LEMBRAR COM PRONOME COM PREPOSIÇÃO

    ESQUECER E LEMBRAR SEM PRONOME SEM PREPOSIÇÃO.