SóProvas


ID
4869397
Banca
PM-MG
Órgão
PM-MG
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Leia, atentamente, os textos I e II e, em seguida, responda a questão proposta.


TEXTO I


A regreção da redassão


Carlos Eduardo Novaes


    Semana passada recebi um telefonema de uma senhora que me deixou surpreso. Pedia encarecidamente que ensinasse seu filho a escrever.

    - Mas, minha senhora, - desculpei-me -, eu não sou professor.

    - Eu sei. Por isso mesmo. Os professores não têm conseguido muito.

    - A culpa não é deles. A falha é do ensino.

    - Pode ser, mas gostaria que o senhor ensinasse o menino. O senhor escreve muito bem.

    - Obrigado - agradeci -, mas não acredite muito nisso. Não coloco vírgulas e nunca sei onde botar os acentos. A senhora precisa ver o trabalho que dou ao revisor.

    - Não faz mal – insistiu -, o senhor vem e traz um revisor.

    - Não dá, minha senhora – tornei a me desculpar -, eu não tenho o menor jeito com crianças.

    - E quem falou em crianças? Meu filho tem 17 anos.

    Comentei o fato com um professor, meu amigo, que me respondeu: “Você não deve se assustar, o estudante brasileiro não sabe escrever”. No dia seguinte, ouvi de outro educador: “O estudante brasileiro não sabe escrever”. Depois li no jornal as declarações de um diretor de faculdade: “O estudante brasileiro escreve muito mal”. Impressionado, saí à procura de outros educadores. Todos disseram: “acredite, o estudante brasileiro não sabe escrever”. Passei a observar e notei que já não se escreve mais como antigamente. Ninguém faz mais diário, ninguém escreve em portas de banheiros, em muros, em paredes. Não tenho visto nem aquelas inscrições, geralmente acompanhadas de um coração, feitas em casca de árvore. Bem, é verdade que não tenho visto nem árvore.

    - Quer dizer – disse a um amigo enquanto íamos pela rua – que o estudante brasileiro não sabe escrever? Isto é ótimo para mim. Pelo menos diminui a concorrência e me garante o emprego por mais dez anos.

    - Engano seu – disse ele. – A continuar assim, dentro de cinco anos você terá que mudar de profissão.

    - Por quê? – espantei-me. – Quanto menos gente sabendo escrever, mais chance eu tenho de sobreviver.

    - E você sabe por que essa geração não sabe escrever?

    - Sei lá – dei com os ombros –, vai ver que é porque não pega direito no lápis.

    - Não senhor. Não sabe escrever porque está perdendo o hábito de leitura. E quando perder completamente, você vai escrever para quem?

    Taí um dado novo que eu não havia considerado. Imediatamente pensei quais as utilidades que teria um jornal no futuro: embrulhar carne? Então vou trabalhar em açougue. Serviria para fazer barquinhos, para fazer fogueira nas arquibancadas do Maracanã, para forrar sapato furado ou para quebrar um galho em banheiro de estrada? Imaginei-me com uns textos na mão, correndo pelas ruas para oferecer às pessoas, assim como quem oferece um bilhete de loteria:

    - Por favor amigo, leia – disse, puxando um cidadão pelo paletó.

    - Não, obrigado. Não estou interessado. Nos últimos cinco anos a única coisa que leio é a bula de remédio.

    - E a senhorita não quer ler? - perguntei, acompanhando os passos de uma universitária. – A senhorita vai gostar. É um texto muito curioso.

    - O senhor só tem escrito? Então não quero. Por que o senhor não grava o texto? Fica mais fácil ouvi-lo no meu gravador.

    - E o senhor, não está interessado nuns textos?

    - É sobre o quê? Ensina como ganhar dinheiro?

    - E o senhor, vai? Leva três e paga um.

    - Deixa eu ver o tamanho – pediu ele.

    Assustou-se com o tamanho do texto:

    - O quê? Tudo isso? O senhor está pensando que sou vagabundo? Que tenho tempo para ler tudo isso? Não dá para resumir tudo isso em cinco linhas?

NOVAES, Carlos Eduardo. In: A cadeira do dentista & outras crônicas. São Paulo: Ática, 1999. Para gostar de ler, vol. 15.


    TEXTO II


O fragmento de texto reproduzido a seguir faz parte da crônica “A menina que falava em internetês, escrito por Rosana Hermann. Na crônica, Wanda, uma mãe que gostava de acreditar-se moderna, compra um computador e, navegando, pela internet, inicia uma conversa “on-line” com a filha adolescente. Quase ao final do diálogo, mãe e filha escrevem: 


“[...]

    _ Antes de ir para casa eu vou passar no supermercado. O que você quer que compre para... para... para vc? É assim que se diz em internetês.

    _ refri e bisc8

    _ Refrigerante e biscoito? Biscoito? Filha, francamente, que linguagem é essa? Você estuda no melhor colégio, seu pai paga uma mensalidade altíssima, e você escreve assim na internet? Sem vogais, sem acentos, sem completar as palavras, sem usar maiúsculas no início de uma frase, com orações sem nexo e ainda por cima usando números no lugar de sílabas? Isso é inadmissível, Maria Eugênia! “

    _ xau mãe, c ta xata.”

     _ Maria Eugênia! Chata é com ch.

    _

    _ Maria Eugênia?

    _

    _ Desligou. [...]’’ 

    

HERMANN, Rosana. Lições de Gramática para que gosta de literatura. São Paulo: Panda Books, 2007.



O efeito de humor, no trecho transcrito do texto II, foi provocado, sobretudo pelo diálogo entre mãe e filha usando, testando um canal, um suporte de comunicação, fato característico da função:

Alternativas
Comentários
  • Função fática: cria um elo com o interlocutor.

    GAB: C.

  • Na linguística, uma expressão fática é a comunicação que tem uma função social, como brincadeiras sociais que não buscam ou oferecem informações de valor intrínseco, mas podem sinalizar disposição para observar as expectativas locais convencionais de educação.

    função fática da linguagem está presente nas conversas ao telefone, nos cumprimentos, nas conversas de elevador e em outras situações. ... As conversas telefônicas, por exemplo, também costumam ser pontuadas por expressões como “Está me ouvindo?” em que se testa o canal (no caso, a linha telefônica).

    Gab: C

  • Função fática: A intenção é testar o canal, manter o contato entre os interlocutores do ato comunicativo.

  • Função fática: evidência ao canal de comunicação. Revela preocupação com se o canal está bem estabelecido.

  • RESUMO - FUNÇÕES DA LINGUAGEM

    EMOTIVA/EXPRESSIVA: comover

    CONATIVA/APELATIVA: convencer

    REFERENCIAL: informar

    POÉTICA: enfeitar

    FÁTICA: manter contato (emissor e receptor)

    METALINGUÍSTICA: autoexplicar (exemplo: dicionário).

  • Função Fática

    • o canal (contato) é o centro da mensagem;

    • essa linguagem se manifesta quando a finalidade é testar, estabelecer ou encerrar o contato entre o emissor e o receptor (como em ligações telefônicas, saudações, cumprimentos etc.);

    • tal função cria as condições básicas para que ocorra a interação verbal;

    • algumas marcas linguísticas: “Bom dia/tarde/noite”, “Oi”, “Olá”, “Fala...”, “E aí”, “Estou entendendo”, “Vamos lá?”, “Pronto”, “Atenção”, “Sei...”, “Fui”, “Valeu”, “Tchau” etc.

    Exemplo:

    – “Fala, galera! Beleza? Boa noite a todos. Bem... vamos lá...” (um professor, antes de iniciar a aula)

    – “Alô? Entendeu?”__

  • RESUMO - FUNÇÕES DA LINGUAGEM

    EMOTIVA/EXPRESSIVA: comover

    CONATIVA/APELATIVA: convencer

    REFERENCIAL: informar

    POÉTICA: enfeitar

    FÁTICA: manter contato (emissor e receptor)

    METALINGUÍSTICA: autoexplicar (exemplo: dicionário).

    Camilla Mourão

  • LETRA - C

    FUNÇÕES DA LINGUAGEM:

    EMOTIVA/EXPRESSIVA: COMOVER. PREDOMINÂNCIA DA PRIMEIRA PESSOA. EX: DIÁRIO.

    CONATIVA/APELATIVA: CONVENCER. VERBOS NO IMPERATIVO; EX: PROPAGANDAS

    REFERENCIAL: INFORMAMR. TEXTO DENOTATIVO. EX: JORNAIS, TEXTO CIENTÍFICO.

    POÉTICA: ESTÉTICA. TEXTO POÉTICO. EX: POESIA, RIMAS.

    FÁTICA: CONTATO.  EXPRESSÕES QUE MANTÉM CONTATO. EX: PUXA!, ALÔ!, AH!, NOSSA!, HÂ! HEIN! EITA!

    METALINGUÍSTICA: AUTOEXPLICAÇÃO. EX: UM FILME QUE FALA DE FILME.

  • SEGUNDO O GRANDE CEGALLA, A FUNÇÃO FÁTICA É UTILIZADA EM DIÁLOGOS PARA FAZER CONTATO COM O INTERLOCUTOR OU REFORÇAR SEU ENTENDIMENTO QUANTO Á MENSAGEM QUE ESTÁ SENDO EMITIDA. POR EXEMPLO, DEPOIS DE FALAR SOBRE DETERMINADO ASSUNTO, QUESTIONAR O RECEPTOR: VC ENTENDEU? , TUDO CERTO ? SÓ ISSO

  • nem precisa ler o texto...