- ID
- 4888477
- Banca
- RBO
- Órgão
- Câmara de Itatiaia - RJ
- Ano
- 2017
- Provas
- Disciplina
- Português
- Assuntos
Leia o texto abaixo e responda à questão:
ENTÃO, ADEUS!
(Lygia Fagundes Telles)
Isto aconteceu na Bahia, numa tarde em que eu visitava
a mais antiga e arruinada igreja que encontrei por lá, perdida na
última rua do último bairro. Aproximou-se de mim um padre
velhinho, mas tão velhinho, tão velhinho que mais parecia feito
de cinza, de teia, de bruma, de sopro do que de carne e osso.
Aproximou-se e tocou o meu ombro:
— Vejo que aprecia essas imagens antigas — sussurrou-me com sua voz débil. E descerrando os lábios murchos num
sorriso amável: - Tenho na sacristia algumas preciosidades. Quer
vê-las?
Solícito e trêmulo foi-me mostrando os pequenos
tesouros da sua igreja: um mural de cores remotas e tênues como
as de um pobre véu esgarçado na distância; uma Nossa Senhora
de mãos carunchadas e grandes olhos cheios de lágrimas; dois
anjos tocheiros que teriam sido esculpidos por Aleijadinho, pois
dele tinham a inconfundível marca nos traços dos rostos severos
e nobres, de narizes já carcomidos... Mostrou-me todas as
raridades, tão velhas e tão gastas quanto ele próprio. Em
seguida, desvanecido com o interesse que demonstrei por tudo,
acompanhou-me cheio de gratidão até a porta.
— Volte sempre — pediu-me.
— Impossível — eu disse. — Não moro aqui, mas, em todo
o caso, quem sabe um dia... — acrescentei sem nenhuma
esperança.
— E então, até logo! — ele murmurou descerrando os
lábios num sorriso que me pareceu melancólico como o destroço
de um naufrágio.
Olhei-o. Sob a luz azulada do crepúsculo, aquela face
branca e transparente era de tamanha fragilidade, que cheguei a
me comover. Até logo?... “Então, adeus!”, ele deveria ter dito. Eu
ia embarcar para o Rio no dia seguinte e não tinha nenhuma ideia
de voltar tão cedo à Bahia. E mesmo que voltasse, encontraria
ainda de pé aquela igrejinha arruinada que achei por acaso em
meio das minhas andanças? E mesmo que desse de novo com
ela, encontraria vivo aquele ser tão velhinho que mais parecia um
antigo morto esquecido de partir?!...
Ouça, leitor: tenho poucas certezas nesta incerta vida,
tão poucas que poderia enumerá-las nesta breve linha. Porém,
uma certeza eu tive naquele instante, a mais absoluta das
certezas: “Jamais o verei.” Apertei-lhe a mão, que tinha a mesma
frialdade seca da morte.
— Até logo! - eu disse cheia de enternecimento pelo seu
ingênuo otimismo.
Afastei-me e de longe ainda o vi, imóvel no topo da
escadaria. A brisa agitava-lhe os cabelos ralos e murchos como
uma chama prestes a extinguir-se. “Então, adeus!”, pensei
comovida ao acenar-lhe pela última vez. “Adeus.”
(...)
Durante o jantar ruidoso e calorento, lembrei-me de
Kipling. “Sim, grande e estranho é o mundo. Mas principalmente
estranho...”
Meu vizinho da esquerda quis saber entre duas garfadas:
— Então a senhora vai mesmo nos deixar amanhã?
Olhei para a bolsa que tinha no regaço e dentro da qual
já estava minha passagem de volta com a data do dia seguinte.
E sorri para o velhinho lá na ponta da mesa.
— Ah, não sei... Antes eu sabia, mas agora já não sei.
http://www.releituras.com/lftelles_entaoadeus.asp - acesso em 11/01/2017
Ao ler o texto apresentado, podemos notar que:
I. a personagem principal se despediu do padre,
acreditando nunca mais o ver, por isso disse Adeus.
II. a personagem principal se despediu dizendo Adeus,
pois não se identificou com a cidade visitada.
III. o padre se mostrou uma pessoa pouco simpática.
É correto o que se afirma apenas em