A questão é baseada no trecho a seguir:
“[...] Sem alegria nem cuidado, nosso pai
encalcou o chapéu e decidiu um adeus para a gente.
Nem falou outras palavras, não pegou matula e
trouxa, não fez a alguma recomendação. Nossa mãe,
a gente achou que ela ia esbravejar, mas persistiu
somente alva de pálida, mascou o beiço e bramou: -
‘Ce vai, ocê fique, você nunca volte!’. Nosso pai
suspendeu a resposta. Espiou manso para mim, me
acenando de vir também, por uns passos. Temi a ira
de nossa mãe, mas obedeci, de vez de jeito. O rumo
daquilo me animava, chega que um propósito
perguntei: ‘-Pai, o senhor me leva junto, nessa sua
canoa?’. Ele só retornou o olhar em mim, e me botou
a bênção, com gesto me mandando para trás. Fiz que
vim, mas ainda virei, na grota do mato, para saber.
Nosso pai entrou na canoa e desamarrou, pelo remar.
E a canoa saiu se indo – a sombra dela por igual,
feito um jacaré, comprida longa [...]”.
ROSA, João Guimarães. Primeiras estórias. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 2001. p.80.
O texto, extraído do conto “A terceira margem
do rio”, do livro Primeiras estórias, de Guimarães
Rosa, revela que a representação social é uma
grande articuladora no interior de uma narrativa,
transformando-se em um critério para se discutir a
sociedade em um país de grande diversidade cultural,
como é o caso do Brasil.
A propósito das obras de João Guimarães
Rosa, cujo regionalismo se apresenta de forma
bastante acentuada, afirma-se que: