SóProvas


ID
5006731
Banca
CONSULPLAN
Órgão
CODEVASF
Ano
2008
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Missa do Galo (excertos)


    Nunca pude esquecer a conversação que tive com uma senhora, há muitos anos, contava eu dezessete, ela trinta. Era noite de Natal. Havendo ajustado com um vizinho irmos à missa do galo, preferi não dormir; combinei que eu iria acordá-lo à meia-noite.

   A casa em que eu estava hospedado era a do escrivão Meneses, que fora casado, em primeiras núpcias, com uma de minhas primas. A segunda mulher, Conceição, e a mãe desta acolheram-me bem, quando vim de Mangaratiba para o Rio de Janeiro, meses antes, a estudar preparatórios. Vivia tranqüilo, naquela casa assobradada da Rua do Senado, com os meus livros, poucas relações, alguns passeios. A família era pequena, o escrivão, a mulher, a sogra e duas escravas. Costumes velhos. Às dez horas da noite toda a gente estava nos quartos; às dez e meia a casa dormia. Nunca tinha ido ao teatro, e mais de uma vez, ouvindo dizer ao Meneses que ia ao teatro, pedi-lhe que me levasse consigo. Nessas ocasiões, a sogra fazia uma careta, e as escravas riam à socapa; ele não respondia, vestia-se, saía e só tornava na manhã seguinte. Mais tarde é que eu soube que o teatro era um eufemismo em ação. Meneses trazia amores com uma senhora, separada do marido, e dormia fora de casa uma vez por semana. Conceição padecera, a princípio, com a existência da comborça; mas, afinal, resignara-se, acostumara-se, e acabou achando que era muito direito.

   Boa Conceição! Chamavam-lhe “a santa”, e fazia jus ao título, tão facilmente suportava os esquecimentos do marido. Em verdade, era um temperamento moderado, sem extremos, nem grandes lágrimas, nem grandes risos. No capítulo de que trato, dava para maometana; aceitaria um harém, com as aparências salvas. Deus me perdoe, se a julgo mal. Tudo nela era atenuado e passivo. O próprio rosto era mediano, nem bonito nem feio. Era o que chamamos uma pessoa simpática. Não dizia mal de ninguém, perdoava tudo. Não sabia odiar; pode ser até que não soubesse amar.


(ASSIS, Machado de. Missa do Galo. In Contos Consagrados – Rio de Janeiro: Ediouro; São Paulo: Publifolha, 1997. P. 75)

Metonímia é uma figura de linguagem que consiste na troca de uma palavra por outra, havendo entre elas uma relação real, concreta, objetiva. Há um exemplo de metonímia em:

Alternativas
Comentários
  • A CASA TOMA O TODO PELA PARTE ( AS PESSOAS QUE LÁ ESTAVAM)

  • Gabarito: Letra D.

    Complementando

    Metonímia é uma  ou de palavra que consiste na substituição de uma palavra ou expressão por outra, havendo entre elas algum tipo de ligação. 

    Usos da metonímia:

     

    Parte pelo todo: cabeças de gado.

    Causa pelo efeito: fiz o trabalho com meu suor. (quem trabalha, sua)

    Autor pela obra: Camões.

    Inventor pelo Invento: Ford.

    Marca pelo produto: miojo

    Matéria pelo objeto: Cheiramos flores de medo

    Singular pelo plural: O cidadão (quando se referir a cidadãos)

  • ACHO QUE A LETRA C DÁ MARGEM TAMBÉM A OUTRA INTERPRETAÇÃO, EX: PERSONIFICAÇÃO/PROSOPOPEIA. POIS NA FRASE "A CASA DORMIA" ESTÁ ATRIBUINDO CARACTERÍSTICA DE SER ANIMADO A SER INANIMADO. ASSIM FICOU CONFUSA A QUESTÃO, PELO MENOS PARA MIM.

  • C é metárofa.