A vida às vezes é como um jogo brincado na rua:
estamos no último minuto de uma brincadeira bem quente
e não sabemos que a qualquer momento pode chegar um
mais velho a avisar que a brincadeira já acabou e está na
hora de jantar. A vida afinal acontece muito de repente
— nunca ninguém nos avisou que aquele era mesmo o
último Carnaval da Vitória. O Carnaval também chegava
sempre de repente. Nós, as crianças, vivíamos num tempo
fora do tempo, sem nunca sabermos dos calendários de
verdade. [...] O “dia da véspera do Carnaval", como dizia
a avó Nhé, era dia de confusão com roupas e pinturas a
serem preparadas, sonhadas e inventadas. Mas quando
acontecia era um dia rápido, porque os dias mágicos
passam depressa deixando marcas fundas na nossa
memória, que alguns chamam também de coração.
ONDJAKI. Os da minha rua. Rio de Janeiro Língua Geral. 2007
As significações afetivas engendradas no fragmento
pressupõem o reconhecimento da