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ID
5036308
Banca
CESPE / CEBRASPE
Órgão
CODEVASF
Ano
2021
Provas
Disciplina
Psicologia
Assuntos

Caso clínico 13A1-I

         Denis, de 15 anos de idade, estudante, foi encaminhado pela escola para avaliação psicológica. De acordo com os pais dele, Denis sempre foi um menino muito agitado e “esquisito”, mas que "fazia o que precisava fazer" e parecia conseguir lidar bem com isso. No atendimento psicológico, a mãe iniciou com o seguinte relato: “Doutor, as coisas foram só piorando. Primeiro, ele nunca gostou de dormir. Mexia e remexia a noite toda desde pequeno. Sempre muito agressivo e impaciente. A gente percebia que ele era mais agitado que o normal, pois temos outra filha e ela era completamente diferente dele quando tinha a mesma idade. O medo, Denis só apresentou depois; na verdade, o pavor veio depois que a irmã se trancou, sem querer, no quarto. Denis ficou incontrolável. Chorava e se batia, dizendo que nunca mais veria a irmã. Nessa época, ele tinha 4 anos. Depois dessa situação, ficou com muito medo de tudo. Certa vez, ele disse que não entraria no carro, pois tinha medo de que colidisse contra um ônibus. Mas cada dia era uma coisa diferente. Procuramos ajuda na época, e ele foi acompanhado por psiquiatra e psicólogo. Depois de 1 ano, recebeu alta. Mas ele sempre foi um menino diferente. Na escola, as coisas pioraram de um ano pra cá: o rendimento dele caiu, ele não consegue acompanhar as aulas e não faz tarefas. Esse ano mesmo, já é repetente... é a terceira vez que faz. Nunca teve amigos. Seu círculo social é pobre e não se sustenta. É imaturo demais. Chama de amigo o garoto que conheceu há dois dias na Internet. Passa muito tempo trancado no quarto, envolvido com jogos e redes sociais. Está mais calado e na dele. Já peguei Denis falando sozinho algumas vezes. Tem uns comportamentos estranhos: há 3 meses, aproximadamente, estávamos todos dormindo em casa. Era tarde da noite. Nossa filha sentiu o cheiro de velas e correu pro quarto dele. A única coisa que ele dizia era: 'Frente à treva, só a luz... Eu sou a luz do mundo!’, enquanto segurava velas — e tinha mais umas 15 acessas em toda a casa. Foi preciso chamar o Corpo de Bombeiros. Ninguém segurava ele" (sic). 
        O pai de Denis acrescentou: "Tem épocas que ele está mais tranquilo. Mas já me disse que tem algo na sua cabeça que não o deixa descansar, mas que não pode falar muito a respeito ‘por motivos de segurança’. Ontem, a coordenadora da escola nos contatou. Pensávamos que tivesse relação com a queda de rendimento, mas ela nos pediu que comparecêssemos à escola. Na reunião agendada, nos contou que Denis foi pego se autolesionando na hora do intervalo. Ao ser interrompido, não falava coisa com coisa. Só dizia: 'Não me interrompam. Tenho uma missão! Vocês saberão qual será minha verdadeira identidade'" (sic).

Considerando as contribuições da psicanálise, julgue o item subsequente, referente ao caso clínico 13A1-I.

Denis apresenta uma estrutura condizente com a não inscrição do nome-do-pai.

Alternativas
Comentários
  • Certo, o sujeito se desenvolve como se o nome do pai não fosse inscrito!

  • Correto. Denis apresenta características dos transtornos do espectro da esquizofrenia, portanto considera-se que sua estrutura é psicótica. Na concepção psicodinâmica, a castração do psicótico se dá pelo processo de Foraclusão, que implica na não inscrição do nome-do-pai.

  • Alguém consegue explicar sucintamente esse conceito de "NOME-DO-PAI" já bebi de inúmeras fontes e cada vez que assim o faço, fico mais confuso rs

    Esse termo só acontece com o sujeito psicótico??

    Abraços!

  • A questão requer conhecimentos acerca das alterações psicopatológicas.

    Com relação ao caso hipotético, Dênis tem apresentado diversos comportamentos, que foram evoluindo em seu quadro, tais como:


    • hiperatividade e agressividade;
    • Fobias
    • isolamento e retraimento social
    • falta de rendimento escolar 
    • comportamentos considerado “esquisitos" (como acender diversas velas pela casa)
    • delírios (com falas desconexas) 
    • e o escutar vozes, que foi relatado pelo pai

    O quadro revela que Denis pode estar apresentando início de um transtorno mental grave, possivelmente um quadro esquizofrênico.


    O nome-do-pai é o termo lacaniano que retoma a lei paterna (aspectos de interdição, proibição, moral e ordem) necessário para a constituição psíquica do sujeito, articulando o complexo de édipo ao complexo de castração. Através dele, é possível que a criança inaugure sua chegada a ordem simbólica. Quando não presente, diz-se que o nome-do-pai está foracluído, há uma interdição do sujeito ao campo simbólico, característica das psicoses e seus sintomas como delírios e alucinações.


    Nesse sentido, considerando a sintomatologia de Dênis, que revela possível psicose (esquizofrenia), conclui-se que o nome-do-pai  está foracluído ou não inscrito na sua estrutura psíquica. 



    Gabarito da Professora: CERTO.


  • Lacan é uma coisa muito difícil de entender, muito confuso... mas sobre a forclusão do nome do pai esse artigo me ajudou a entender um pouco.

    ARAGAO E RAMIREZ, Heloísa Helena.

    Sobre a metáfora paterna e a foraclusão do nome-do-pai: uma introdução.

     Mental [online]. 2004, vol.2, n.3, pp. 89-105. ISSN 1679-4427.