Gols de Cocuruto
O melhor momento do futebol para um tático é o minuto de silêncio. É quando os times
ficam perfilados, cada jogador com as mãos nas costas e mais ou menos no lugar que
lhes foi designado no esquema - e parados. Então o tático pode olhar o campo como se
fosse um quadro negro e pensar no futebol como alguma coisa lógica e diagramável. Mas
aí começa o jogo e tudo desanda. Os jogadores se movimentam e o futebol passa a ser
regido pelo imponderável, esse inimigo mortal de qualquer estrategista. O futebol
brasileiro já teve grandes estrategistas cruelmente traídos pela dinâmica do jogo. O Tim,
por exemplo. Tático exemplar, planejava todo o jogo numa mesa de botão. Da entrada em
campo até a troca de camisetas, incluindo o minuto de silêncio. Foi um técnico de
sucesso mas nunca conseguiu uma reputação no campo à altura de sua reputação no
vestiário. Falava um jogo e o time jogava outro. O problema do Tim, diziam todos, era que
seus botões eram mais inteligentes do que seus jogadores.
(L. F. Veríssimo, O Estado de São Paulo, 23/08/93).
De acordo com o texto, compreendemos a ideia do autor de que: