SóProvas


ID
5073316
Banca
CESPE / CEBRASPE
Órgão
SEED-PR
Ano
2021
Provas
Disciplina
Filosofia
Assuntos

— Não tens vergonha nenhuma, Sócrates, e interpreta as coisas de maneira a desvirtuares o meu argumento.
— De modo algum, meu excelente amigo. Mas explica mais claramente o que queres dizer.
— Pelo visto não sabes – prosseguiu ele – que, dentre os Estados, há os que vivem sob o regime da monarquia, outros da democracia, e outros da aristocracia?
— Como não havia de sabê-lo?
— Ora, em cada Estado, não é o governo que detém a força?
— Exatamente.
— Certamente que cada governo estabelece as leis de acordo com sua conveniência: a democracia, leis democráticas; a monarquia, monárquicas; e os outros, da mesma maneira. Uma vez promulgadas essas leis, fazem saber que é justo para os governos aquilo que lhes convém, e castigam os transgressores, a título de que violaram a lei e cometeram uma injustiça. Aqui tens, meu excelente amigo, aquilo que eu quero dizer, ao afirmar que há um só modelo de justiça em todos os Estados – o que convém aos poderes constituídos. Ora estes é que detêm a força. De onde resulta, para quem pensar corretamente, que a justiça é a mesma em toda a parte: a conveniência do mais forte.

Platão. A República

Do embate entre Trasímaco e Sócrates é possível constatar que as teses de Trasímaco sobre a justiça

Alternativas
Comentários
  • Lendo o diálogo com atenção, fica fácil discernir que há um contraponto entre as opiniões de Sócrates e de Trasímaco, informação importante, Sócrates não deixou nada escrito, então muitas vezes associam a ele como se fosse um personagem de Platão, principalmente nessa obra a república que é uma coletânea de diálogos.

    Gabarito letra D

  • No diálogo, fica claro que Trasímaco concebia a justiça como uma imposição dos grupos que controlam o Estados, ou seja, dos grupos que detém o poder. Dessa forma, a justiça seria uma conveniência baseada nas condições reais em que a vida se organiza. Essa tese é frontalmente contrária à ideia platônica, que concebia a justiça como algo transcendental que deveria ser encontrada a partir do pensamento sistemático que deveria conduzir o pensamento para além do mundo aparente posto diante dos sentidos.


    Gabarito do Professor: Letra D.
  • Trasímaco, prezando a capacidade de expressão e a vaidade sofista, afirma que “a justiça é a conveniência do mais forte” (338c), e usa o governo como exemplo, por ser este o setor mais forte de uma cidade, já que estabelece as leis de acordo com sua conveniência e detêm a força no Estado (338c, 339a).

    A justiça é o principal conceito desenvolvido em A República. Todo o texto se desenvolve ao redor da tentativa de definição desse conceito por Sócrates e seus interlocutores. Platão acredita que a justiça é a maior de todas as virtudes e compreende que, para que se possa praticá-la, é necessário defini-la.

    De maneira diferente, Aristóteles percebia a justiça como algo presente na ordem natural das coisas, visto que a natureza tem uma finalidade, que é a justiça, mas que só se efetivaria na prática social. A realização da justiça seria confirmada ou não a partir de uma complexa distribuição de cargos e bens sociais.