Salas de aula transformando o sertanejo
1º Ao longo de anos, o sertão do Rio Grande do Norte foi subjugado às intempéries da seca
que expulsou milhares de sertanejos de suas origens em busca de água e sobrevivência.
Numa revolução inimaginável para a maioria dos moradores das terras mais áridas do
estado, cujas precipitações médias anuais são inferiores a 800 milímetros, a educação se
tornou o meio de transformação social, cultural e econômica. Hoje, por entre os cactos que
povoam a caatinga, surgem institutos federais, faculdades, universidades e a primeira Escola
Multicampi de Ciências Médicas do Brasil. Em uma década, o número de instituições de
ensino superior no estado cresceu 33,3% e expandiu o número de vagas em 125,38%. O
sertão do flagelo da seca se transformou no chão das oportunidades e do resgate de
sonhos.
2º “Não existia perspectiva. Meu pai era analfabeto. Eu cresci estudando em escola pública e
numa família carente”, relembra Anderson Fernandes, 26 anos, formado em Odontologia pela
Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN-Campus Caicó). Nascido numa
família que enfrentou inúmeras dificuldades ao longo dos anos, a falta de perspectiva de
mudança não fez o estudante esmorecer, como se diz em Caicó. Formado há dois anos, hoje
servidor público e aluno do Curso de Mestrado em Saúde Coletiva da Universida de Federal
do Rio Grande do Norte (UFRN), Fernandes é apenas um exemplo dos milhares de jovens do
interior do estado que se beneficiaram com o processo de interiorização da educação
superior. De 2006 a 2016, o número de instituições de ensino desse perfil saiu das 21 para
28, entre públicas e privadas, conforme dados mais recentes do Censo da Educação
Superior do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
3º A UERN, na qual Anderson Fernandes se formou, abriu os cursos de Odontologia e
Enfermagem, em Caicó, em 2006. “A UERN tem papel crucial na interiorização do ensino
superior. Ela foi pioneira na instalação de cursos da área da Saúde no Seridó”, destaca
Álvaro Lima, diretor do Campus da UERN em Caicó. Desde então, os al unos que antes
migravam para outras cidades potiguares ou até mesmo para a Paraíba passaram a
permanecer em Caicó.
4º Na mesma década, o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do
Norte, o IFRN, multiplicou por 10,5 o número de unidades instaladas no estado. Em 2006,
eram apenas duas – uma em Natal e outra em Mossoró. Hoje, 21 institutos oportunizam a
entrada de milhares de alunos no ensino médio, no técnico, na graduação e na pósgraduação.
5º No âmbito da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), o processo de
interiorização do ensino superior remonta à década de 1970, com a abertura dos cursos de
Letras, Administração, Estudos Sociais, Pedagogia, História e Engenharia de Minas em
Caicó. Naquela época, os cursos eram ministrados num prédio cedido pela Diocese de
Caicó. Anos depois, com a inauguração do Centro de Ensino Superior do Seridó (CERES),
com três blocos de aulas num terreno de 10 hectares, ocorreu a ampliação do número de
graduações e de professores e a expansão das atividades para a cidade vizinha, Currais
Novos.
6º No Oeste do Rio Grande do Norte, a Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA)
iniciou um processo de expansão com a transformação em universidade federal em 2005.
Antes, funcionava como Escola Superior de Agricultura de Mossoró (ESAM). Desde então,
criou novos cursos e abriu três campi avançados em Angicos, Caraúbas e Pau dos Ferros.
Na atualidade, a UFERSA oferece 22 cursos de graduação e 24 de pós -graduação. A
comunidade estudantil é de 10.345 alunos somente nos cursos presenciais. “A interiorização
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do ensino superior pode ser considerada o maior programa de inclusão do Governo Federal,
na medida em que tem levado pesquisa, ensino e desenvolvimento a locais que antes
estavam longe de grandes centros universitários. A UFERSA é um profícuo exemplo disso”,
declara o reitor José de Arimatea de Matos.
7º Expandir a interiorização do Ensino Superior, principalmente nos cursos da área da Saúde,
deve ser uma meta prioritária da UFRN. Um dos objetivos da Escola Multicampi de Ciências
Médicas é ter, em seu quadro, 86 docentes. Para isso, alguns desafios deverão ser
vencidos. Um deles é o financeiro. Em comum, a UERN, a UFERSA e a UFRN sofrem com a
falta de recursos. O custeio para o Curso de Medicina de Caicó, por exemplo, foi zerado em
2018. Por ano, de acordo com George Dantas de Azevedo, a UFRN repassa R$ 1,3 milhão
para pagamento de despesas básicas. O desafio deste ano será financiar o internato dos
estudantes da primeira turma, iniciada em 2014, que migrarão para a prática acadêmica no
Hospital Universitário Ana Bezerra, em Santa Cruz. Na UERN, o orçamento aprovado para
este ano é R$ 71 milhões menor que o previsto para 2017.
Disponível em: . Acesso em: 05 jul. 2018. [Excerto adaptado]
O propósito comunicativo principal do texto é