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ID
5101714
Banca
IPEFAE
Órgão
Prefeitura de Campos do Jordão - SP
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Sobre o ouvir


    O ato de ouvir exige humildade de quem ouve. E a humildade está nisso: saber, não com a cabeça, mas com o coração, que é possível que o outro veja mundos que nós não vemos. Mas isso, admitir que o outro vê coisas que nós não vemos, implica reconhecer que somos meio cegos… Vemos pouco, vemos torto, vemos errado.

    Bernardo Soares diz que aquilo que nós vemos é aquilo que nós somos. Assim, para sair do círculo fechado de nós mesmos, em que só vemos nosso próprio rosto refletido nas coisas, é preciso que nos coloquemos fora de nós mesmos. Nós não somos o umbigo do mundo. E isso é muito difícil: reconhecer que não somos o umbigo do mundo! Para se ouvir de verdade, isso é, para nos colocarmos dentro do mundo do outro, é preciso colocar entre parêntesis, ainda que provisoriamente, as nossas opiniões.

    Minhas opiniões! É claro que eu acredito que as minhas opiniões são a expressão da verdade. Se eu não acreditasse na verdade daquilo que penso, trocaria meus pensamentos por outros. E, se falo, é para fazer com que aquele que me ouve acredite em mim, troque os seus pensamentos pelos meus. É norma de boa educação ficar em silêncio enquanto o outro fala. Mas esse silêncio não é verdadeiro. É apenas um tempo de espera: estou esperando que ele termine de falar para que eu, então, diga a verdade. A prova disto está no seguinte: se levo a sério o que o outro está dizendo, que é diferente do que penso, depois de terminada a sua fala eu ficaria em silêncio, para ruminar aquilo que ele disse, que me é estranho. Mas isso jamais acontece. A resposta vem sempre rápida e imediata. A resposta rápida quer dizer: “Não preciso ouvi-lo. Basta que eu me ouça a mim mesmo. Não vou perder tempo ruminando o que você disse. Aquilo que você disse não é o que eu diria, portanto está errado…”.


Rubem Alves, no livro “Ostra feliz não faz pérola”. Editora Planeta, 2008.

O gênero textual desenvolvido por Rubem Alves autoriza o uso da 1ª. pessoa, em um movimento de subjetividade evidente. Assinale a alternativa em que o termo destacado intensifica essa subjetividade:

Alternativas
Comentários
  • Gab.: C.

    Alguns advérbios têm a função de exprimir o ponto de vista (subjetividade) de quem escreve. São chamados de advérbios modalizadores. No caso da questão, é o advérbio de afirmação "claro" que exerce essa função.

  • gaba C

    É claro que eu acredito que as minhas opiniões são a expressão da verdade.”

    a uma intensificação através do advérbio "claro", logo depois vem a expressão EU acredito.

    que nada mais é que a conjugação verbal do verbo ACREDITAR na 1ª pessoa do singular do presente do indicativo.

    pertencelemos!