- ID
- 5141659
- Banca
- ADM&TEC
- Órgão
- Prefeitura de Palmeira dos Índios - AL
- Ano
- 2019
- Provas
- Disciplina
- Português
- Assuntos
PRECONCEITO QUE CALA, LÍNGUA QUE DISCRIMINA
Marcos Bagno, escritor e linguista brasileiro, deixa à mostra a
ideologia de exclusão social e de dominação política pela língua,
típica das sociedades ocidentais. “Podemos amar e cultivar
nossas línguas, mas sem esquecer o preço altíssimo que muita
gente pagou para que elas se implantassem como idiomas
nacionais e línguas pátrias”.
O preconceito linguístico é um preconceito social. Para isso,
aponta a afiada análise do escritor e linguista Marcos Bagno,
brasileiro de Minas Gerais. Autor de mais de 30 livros, entre
obras literárias e de divulgação científica, e professor da
Universidade de Brasília, atualmente é reconhecido sobretudo
por sua militância contra a discriminação social por meio da
linguagem. No Brasil, tornou-se referência na luta pela
democratização da linguagem e suas ideias têm exercido
importante influência nos cursos de Letras e Pedagogia.
A importância de atingir esse meio, segundo ele, é que o
combate ao preconceito linguístico passa principalmente pelas
práticas escolares: é preciso que os professores se
conscientizem e não sejam eles mesmos perpetuadores do
preconceito linguístico e da discriminação. Preconceito mais
antigo que o cristianismo, para Bagno, a língua desde longa data
é instrumentalizada pelos poderes oficiais como um mecanismo
de controle social. Dialeto e língua, fala correta e incorreta: na
entrevista concedida a Desinformémonos, ele desnaturaliza
esses conceitos e deixa à mostra a ideologia de exclusão e de
dominação política pela língua, tão impregnada nas sociedades
ocidentais.
“A língua é um dialeto com exército e marinha”, Max Weinreich.
O controle social é feito oficialmente quando um Estado escolhe
uma língua ou uma determinada variedade linguística para se
tornar a língua oficial. Evidentemente qualquer processo de
seleção implica um processo de exclusão. Quando, em um país,
existem várias línguas faladas, e uma delas se torna oficial, as
demais línguas passam a ser objeto de repressão.
É muito antiga a tradição de distinguir a língua associada ao
símbolo de poder dos dialetos. O uso do termo “dialeto” sempre
foi carregado de preconceito racial ou cultural. Nesse emprego,
dialeto é associado a uma maneira errada, feia ou má de se falar
uma língua. Também é uma maneira de distinguir a língua dos
povos civilizados, brancos, das formas supostamente primitivas
de falar dos povos selvagens. Essa forma de classificação é tão
poderosa que se erradicou no inconsciente da maioria das
pessoas, inclusive as que declaram fazer um trabalho
politicamente correto.
De fato, a separação entre língua e dialeto é eminentemente
política e escapa aos critérios que os linguistas tentam
estabelecer para delimitar dita separação. A eleição de um
dialeto, ou de uma língua, para ocupar o cargo de língua oficial,
renega, no mesmo gesto político, todas as outras variedades de
língua de um mesmo território à terrível escuridão do não-ser. A
referência do que vem de cima, do poder, das classes
dominantes, cria aos falantes das variedades de língua sem
prestígio social e cultural um complexo de inferioridade, uma
baixo autoestima linguística, a qual os sociolinguistas catalães
chamam de “auto-ódio”.
Falar de uma língua é sempre mover-se no terreno pantanoso
das crenças, superstições, ideologia e representações. A Língua
é um objeto criado, normatizado, institucionalizado para garantir
a unidade política de um Estado sob o mote tradicional: “um país,
um povo, uma língua”. Durante muitos séculos, para conseguir a
desejada unidade nacional, muitas línguas foram e são
emudecidas, muitas populações foram e são massacradas,
povos inteiros foram calados e exterminados. No continente
americano, temos uma história tristíssima de colonização
construída sobre milhares de cadáveres de indígenas que já
estavam aqui quando os europeus invadiram suas terras
ancestrais e dos africanos escravizados que foram trazidos para
cá contra sua vontade.
Não podemos esquecer que o que chamamos de “língua
espanhola”, “língua portuguesa”, ou “língua inglesa” tem um rico
histórico, não é algo que nasceu naturalmente. Podemos amar e
cultivar essas línguas, mas sem esquecer o preço altíssimo que
muita gente pagou para que elas se implantassem como
idiomas nacionais e línguas pátrias.
(Adaptado. Reforma Ortográfica. Disponível em:
http://bit.ly/2oPUuWL)
Com base no texto 'PRECONCEITO QUE CALA, LÍNGUA QUE
DISCRIMINA', leia as afirmativas a seguir:
I. Como mostra o texto, a língua sempre foi um instrumento de
poder, pois, ao elencar uma língua ou uma variedade linguística
para se tornar oficial, um Estado acaba gerando um processo de
exclusão. Ou seja, o controle social será exercido por essa nova
escolha, pois em uma nação onde convivem várias línguas, se uma
delas se torna oficial, as demais passarão a ser objeto de
repressão.
II. É pertinente afirmar, a partir do texto, que o uso da palavra
“língua” está relacionado a uma ideologia da exclusão social, visto
que esse vocábulo sempre foi ligado a um modo errado, feio ou
mal de se falar um dialeto. Ademais, também é uma maneira de
distinguir a língua dos povos civilizados, brancos, das formas
supostamente primitivas de falar dos povos selvagens.
Marque a alternativa CORRETA: