SóProvas


ID
5141668
Banca
ADM&TEC
Órgão
Prefeitura de Palmeira dos Índios - AL
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

PRECONCEITO QUE CALA, LÍNGUA QUE DISCRIMINA

Marcos Bagno, escritor e linguista brasileiro, deixa à mostra a ideologia de exclusão social e de dominação política pela língua, típica das sociedades ocidentais. “Podemos amar e cultivar nossas línguas, mas sem esquecer o preço altíssimo que muita gente pagou para que elas se implantassem como idiomas nacionais e línguas pátrias”.

O preconceito linguístico é um preconceito social. Para isso, aponta a afiada análise do escritor e linguista Marcos Bagno, brasileiro de Minas Gerais. Autor de mais de 30 livros, entre obras literárias e de divulgação científica, e professor da Universidade de Brasília, atualmente é reconhecido sobretudo por sua militância contra a discriminação social por meio da linguagem. No Brasil, tornou-se referência na luta pela democratização da linguagem e suas ideias têm exercido importante influência nos cursos de Letras e Pedagogia.

A importância de atingir esse meio, segundo ele, é que o combate ao preconceito linguístico passa principalmente pelas práticas escolares: é preciso que os professores se conscientizem e não sejam eles mesmos perpetuadores do preconceito linguístico e da discriminação. Preconceito mais antigo que o cristianismo, para Bagno, a língua desde longa data é instrumentalizada pelos poderes oficiais como um mecanismo de controle social. Dialeto e língua, fala correta e incorreta: na entrevista concedida a Desinformémonos, ele desnaturaliza esses conceitos e deixa à mostra a ideologia de exclusão e de dominação política pela língua, tão impregnada nas sociedades ocidentais. 

“A língua é um dialeto com exército e marinha”, Max Weinreich. 

O controle social é feito oficialmente quando um Estado escolhe uma língua ou uma determinada variedade linguística para se tornar a língua oficial. Evidentemente qualquer processo de seleção implica um processo de exclusão. Quando, em um país, existem várias línguas faladas, e uma delas se torna oficial, as demais línguas passam a ser objeto de repressão.

É muito antiga a tradição de distinguir a língua associada ao símbolo de poder dos dialetos. O uso do termo “dialeto” sempre foi carregado de preconceito racial ou cultural. Nesse emprego, dialeto é associado a uma maneira errada, feia ou má de se falar uma língua. Também é uma maneira de distinguir a língua dos povos civilizados, brancos, das formas supostamente primitivas de falar dos povos selvagens. Essa forma de classificação é tão poderosa que se erradicou no inconsciente da maioria das pessoas, inclusive as que declaram fazer um trabalho politicamente correto.

De fato, a separação entre língua e dialeto é eminentemente política e escapa aos critérios que os linguistas tentam estabelecer para delimitar dita separação. A eleição de um dialeto, ou de uma língua, para ocupar o cargo de língua oficial, renega, no mesmo gesto político, todas as outras variedades de língua de um mesmo território à terrível escuridão do não-ser. A referência do que vem de cima, do poder, das classes dominantes, cria aos falantes das variedades de língua sem prestígio social e cultural um complexo de inferioridade, uma baixo autoestima linguística, a qual os sociolinguistas catalães chamam de “auto-ódio”. 

Falar de uma língua é sempre mover-se no terreno pantanoso das crenças, superstições, ideologia e representações. A Língua é um objeto criado, normatizado, institucionalizado para garantir a unidade política de um Estado sob o mote tradicional: “um país, um povo, uma língua”. Durante muitos séculos, para conseguir a desejada unidade nacional, muitas línguas foram e são emudecidas, muitas populações foram e são massacradas, povos inteiros foram calados e exterminados. No continente americano, temos uma história tristíssima de colonização construída sobre milhares de cadáveres de indígenas que já estavam aqui quando os europeus invadiram suas terras ancestrais e dos africanos escravizados que foram trazidos para cá contra sua vontade. 

Não podemos esquecer que o que chamamos de “língua espanhola”, “língua portuguesa”, ou “língua inglesa” tem um rico histórico, não é algo que nasceu naturalmente. Podemos amar e cultivar essas línguas, mas sem esquecer o preço altíssimo que muita gente pagou para que elas se implantassem como idiomas nacionais e línguas pátrias.

(Adaptado. Reforma Ortográfica. Disponível em: http://bit.ly/2oPUuWL)

Com base no texto 'PRECONCEITO QUE CALA, LÍNGUA QUE DISCRIMINA', leia as afirmativas a seguir:

I. Pode-se afirmar, a partir da leitura do texto, que existe uma discriminação pela linguagem e o preconceito em torno dessa problemática está ligada a uma ideologia de exclusão social.
II. A língua sempre foi um instrumento de dominação, em diversos aspectos. Tanto que, em algumas populações, idiomas sofreram um silenciamento sob a égide da supremacia do colonizador, em nome de uma identidade nacional. Portanto, a língua é um objeto criado, normatizado, institucionalizado para garantir a unidade política de um Estado sob o mote tradicional: “um país, um povo, uma língua”.

Marque a alternativa CORRETA:

Alternativas
Comentários
  • I. Pode-se afirmar, a partir da leitura do texto, que existe uma discriminação pela linguagem e o preconceito em torno dessa problemática está ligada a uma ideologia de exclusão social.

    R.: Correto.

    • 1º parágrafo: "(...)deixa à mostra a ideologia de exclusão social e de dominação política pela língua,(...)";
    • 2º parágrafo: "O preconceito linguístico é um preconceito social."

    II. (1) A língua sempre foi um instrumento de dominação, em diversos aspectos. (2)Tanto que, em algumas populações, idiomas sofreram um silenciamento sob a égide da supremacia do colonizador, em nome de uma identidade nacional. (3) Portanto, (4) a língua é um objeto criado, normatizado, institucionalizado para garantir a unidade política de um Estado sob o mote tradicional: “um país, um povo, uma língua”.

    R.:

    • (1) 1ª Parágrafo: "Marcos Bagno, (...), deixa à mostra a ideologia (...) e de dominação política pela língua"; "Preconceito mais antigo que o cristianismo, (...), a língua desde longa data é instrumentalizada pelos poderes oficiais como um mecanismo de controle social.";
    • (2) 8º parágrafo: "A Língua é um objeto criado, normatizado, institucionalizado para garantir a unidade política de um Estado (...). Durante muitos séculos, para conseguir a desejada unidade nacional, muitas línguas foram e são emudecidas, (...). No continente americano, temos uma história tristíssima de colonização construída sobre milhares de cadáveres de indígenas (...).";
    • (3) "Portanto" é uma conjunção conclusiva, ou seja, a oração coordenada sindética conclusiva que se segue é uma consequência de tudo que fora dito anteriormente;
    • (4) Foi assim mesmo que o autor concluiu sobre tudo que fora exposto. "A Língua é um objeto criado, normatizado, institucionalizado para garantir a unidade política de um Estado sob o mote tradicional: 'um país, um povo, uma língua'."

    GABARITO (A)

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    Boa sorte e bons estudos.