- ID
- 5141671
- Banca
- ADM&TEC
- Órgão
- Prefeitura de Palmeira dos Índios - AL
- Ano
- 2019
- Provas
- Disciplina
- Português
- Assuntos
PRECONCEITO QUE CALA, LÍNGUA QUE DISCRIMINA
Marcos Bagno, escritor e linguista brasileiro, deixa à mostra a
ideologia de exclusão social e de dominação política pela língua,
típica das sociedades ocidentais. “Podemos amar e cultivar
nossas línguas, mas sem esquecer o preço altíssimo que muita
gente pagou para que elas se implantassem como idiomas
nacionais e línguas pátrias”.
O preconceito linguístico é um preconceito social. Para isso,
aponta a afiada análise do escritor e linguista Marcos Bagno,
brasileiro de Minas Gerais. Autor de mais de 30 livros, entre
obras literárias e de divulgação científica, e professor da
Universidade de Brasília, atualmente é reconhecido sobretudo
por sua militância contra a discriminação social por meio da
linguagem. No Brasil, tornou-se referência na luta pela
democratização da linguagem e suas ideias têm exercido
importante influência nos cursos de Letras e Pedagogia.
A importância de atingir esse meio, segundo ele, é que o
combate ao preconceito linguístico passa principalmente pelas
práticas escolares: é preciso que os professores se
conscientizem e não sejam eles mesmos perpetuadores do
preconceito linguístico e da discriminação. Preconceito mais
antigo que o cristianismo, para Bagno, a língua desde longa data
é instrumentalizada pelos poderes oficiais como um mecanismo
de controle social. Dialeto e língua, fala correta e incorreta: na
entrevista concedida a Desinformémonos, ele desnaturaliza
esses conceitos e deixa à mostra a ideologia de exclusão e de
dominação política pela língua, tão impregnada nas sociedades
ocidentais.
“A língua é um dialeto com exército e marinha”, Max Weinreich.
O controle social é feito oficialmente quando um Estado escolhe
uma língua ou uma determinada variedade linguística para se
tornar a língua oficial. Evidentemente qualquer processo de
seleção implica um processo de exclusão. Quando, em um país,
existem várias línguas faladas, e uma delas se torna oficial, as
demais línguas passam a ser objeto de repressão.
É muito antiga a tradição de distinguir a língua associada ao
símbolo de poder dos dialetos. O uso do termo “dialeto” sempre
foi carregado de preconceito racial ou cultural. Nesse emprego,
dialeto é associado a uma maneira errada, feia ou má de se falar
uma língua. Também é uma maneira de distinguir a língua dos
povos civilizados, brancos, das formas supostamente primitivas
de falar dos povos selvagens. Essa forma de classificação é tão
poderosa que se erradicou no inconsciente da maioria das
pessoas, inclusive as que declaram fazer um trabalho
politicamente correto.
De fato, a separação entre língua e dialeto é eminentemente
política e escapa aos critérios que os linguistas tentam
estabelecer para delimitar dita separação. A eleição de um
dialeto, ou de uma língua, para ocupar o cargo de língua oficial,
renega, no mesmo gesto político, todas as outras variedades de
língua de um mesmo território à terrível escuridão do não-ser. A
referência do que vem de cima, do poder, das classes
dominantes, cria aos falantes das variedades de língua sem
prestígio social e cultural um complexo de inferioridade, uma
baixo autoestima linguística, a qual os sociolinguistas catalães
chamam de “auto-ódio”.
Falar de uma língua é sempre mover-se no terreno pantanoso
das crenças, superstições, ideologia e representações. A Língua
é um objeto criado, normatizado, institucionalizado para garantir
a unidade política de um Estado sob o mote tradicional: “um país,
um povo, uma língua”. Durante muitos séculos, para conseguir a
desejada unidade nacional, muitas línguas foram e são
emudecidas, muitas populações foram e são massacradas,
povos inteiros foram calados e exterminados. No continente
americano, temos uma história tristíssima de colonização
construída sobre milhares de cadáveres de indígenas que já
estavam aqui quando os europeus invadiram suas terras
ancestrais e dos africanos escravizados que foram trazidos para
cá contra sua vontade.
Não podemos esquecer que o que chamamos de “língua
espanhola”, “língua portuguesa”, ou “língua inglesa” tem um rico
histórico, não é algo que nasceu naturalmente. Podemos amar e
cultivar essas línguas, mas sem esquecer o preço altíssimo que
muita gente pagou para que elas se implantassem como
idiomas nacionais e línguas pátrias.
(Adaptado. Reforma Ortográfica. Disponível em:
http://bit.ly/2oPUuWL)
Com base no texto 'PRECONCEITO QUE CALA, LÍNGUA QUE
DISCRIMINA', leia as afirmativas a seguir:
I. De acordo com o texto, as crenças, superstições, ideologia e
representações encontram-se manifestadas na língua, tanto em
sua constituição gramatical como naquilo que se manifesta
discursivamente por meio dela. Ou seja, as variedades de prestígio
serão sempre aquelas escolhidas para unificação política.
II. É correto admitir, a partir do texto, que o uso da palavra “dialeto”
está ligado a uma ideologia da exclusão social, visto que esse
vocábulo sempre foi relacionado a um modo errado, feio ou mal de
se falar uma língua. Além disso, também é uma maneira de
distinguir a língua dos povos civilizados, brancos, das formas
supostamente primitivas de falar dos povos selvagens.
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