SóProvas


ID
5171794
Banca
IPEFAE
Órgão
Prefeitura de Campos do Jordão - SP
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Educação hipster ou não?


Leandro Karnal, O Estado de S. Paulo

20 de fevereiro de 2019 | 02h00


O ano letivo engrena e chega a um novo momento para pensar na imensa tarefa de educar. Se você é mãe ou pai responsável, deve ter medo. Se você for um professor de qualidade, pode estar apreensivo.

Quem sabe a responsabilidade da escola na definição do futuro de alguém tem apreensões.

Não existe receita. Vamos trazer dados objetivos para que cada mãe e cada pai, cada escola e cada professor possam acrescentar sua visão de mundo e complementar (ou contradizer) o que proponho a seguir.


1) Alguém é educado da mesma maneira que alguém peca na liturgia católica: “Por pensamentos e palavras, atos e omissões”. Você educa pelo que diz, pelo que omite, pelo que faz e até por pensamentos, já que eles provocam marolas no olhar ou são pais de gestos concretos. Ao dirigir, você está educando um filho que está na cadeirinha do banco de trás. Ao entrar na sala de aula, sua roupa, seu tom de voz, sua postura, seu sorriso ou seu azedume estão educando. O chamado “currículo oculto” é, quase sempre, o mais poderoso da educação.


2) Educação deve ser um equilíbrio entre o prazer lúdico que produz muito conhecimento e, por vezes, a insistência do esforço que não está acompanhado de resultado imediato. Focar em sorrisos 100% do tempo atende o aluno-consumidor e não ao ser humano maduro. É errado supor que tudo deva ser sofrimento e equivocado dizer que só tem valor quando fazemos com gargalhadas. A “chatice” nunca é um bom projeto, mas o gosto do esforço deve e pode ser estimulado.


3) A sala de aula e as atividades culturais declaradas são importantes, porém existe a autonomia do indivíduo. O desejo de consumo, por exemplo, é quase igual para todos os alunos ao emergirem do Ensino Médio. Nenhuma aula disse que o smartphone X era o melhor, mas o mundo inteiro disse algo assim. Isso deve nos deixar um pouco menos preocupados: fazemos muito, não controlamos tudo. Nem todos os desejos e as repulsas dos alunos derivam do gosto dos pais ou da orientação dos professores.


4) Muitos pais de classe média e alta dão celulares bem cedo para os filhos sob o argumento de que “todos os colegas possuem um”. A ida para a Disney segue lógica similar. Uma roupa da moda acaba sendo imposta porque a criança/adolescente ficaria deslocada/do em outro traje. Quem pensa assim está produzindo uniformidade, time, torcida ou batalhão militar. Uma parte do sucesso no futuro dependerá de autonomia, inteligência, originalidade. Em resumo, querer tudo igual torna seu filho e sua filha iguais em demasia e, como tal, mais aptos à repetição. Ser “hipster” no sentido original e positivo da palavra, é uma estratégia boa de sucesso. Pensar de forma autônoma dá mais futuro.


5) Se alguém de 14 anos fosse maduro e equilibrado, soubesse aprender por si e fosse sábio, pais e professores poderiam ser dispensados. Um médico é procurado por doentes. Educar é lidar com imaturidade, inconstância, crises artificiais, egoísmos, narcisos feridos, incapacidade de ver o outro e uma insegurança brutal que se traveste de arrogância. Pais e mães têm poder sobre os filhos porque os filhos necessitam do poder. São seres únicos, ainda que sejam na teoria e na prática incapazes judicialmente. Professores estão ali para fazer parte do processo longo, penoso e desgastante de pressionar o carvão para que surja algum diamante. É por serem difíceis que a criança e o jovem necessitam de você.


6) Não cansarei de repetir: não educo para suprir dores da minha educação, para sublimar o que ouvi no passado ou para ressignificar minhas frustrações. Educo um ser único, especial, parte da minha biografia, todavia autônomo nas coisas boas e ruins. Educo para o futuro, educo-me junto, reaprendo valores, entendo que gerações anteriores tinham vantagens e defeitos e, por fim, pratico a suprema lição ecológica: amparar o animal selvagem ferido é, exclusivamente, para reinseri-lo na natureza. O grande objetivo de toda educação é liberar o educando no mundo selvagem e complicado. O cativeiro protege e imbeciliza. A jaula é desejo de controle do proprietário, raramente um anelo do bicho. Bichos/animais no mesmo parágrafo que alunos e filhos? Se alguma fera lê o Estadão eu peço desculpas. Foi um pleonasmo didático.


7) Há pais, professores, mães e outros educadores que criam fronteiras e regras bem demarcadas. Há quem prefira laços mais frouxos. Há os que ligam de meia em meia hora e há os que se controlam. As linhas variam e dependem de muitos fatores. Só existe uma questão que jovens não perdoarão no futuro: a indiferença. Dá para superar um pai controlador, difícil encarar o omisso. Educar é um projeto enorme e duradouro. Já escrevi que há mais gente fértil no mundo do que vocações autênticas de pai e de mãe. Há mais gente com diploma de licenciatura do que professores de verdade. Sua linha pode variar. O que nunca será esquecido é se você esteve presente, integral, empenhado e com todo o seu corpo e alma no momento. Pode errar junto, nunca distante.


A escola e a família podem muito, mas não podem tudo. Você é responsável e seu papel fundamental, todavia o mundo lhe excede, o futuro não lhe pertence e o ser humano não é determinado pelos pais e professores. Tente fazer o melhor, haverá erros e lacunas enormes, mas tudo pode ser reparado se existiu um projeto genuíno de estimular liberdade, conhecimento, curiosidade e valores coerentes. O resto? Devemos dar uma chance profissional a terapeutas e psicólogos. A vida sempre será o maior professor de todos nós. É preciso ter esperança.


FONTE: https://cultura.estadao.com.br/noticias/geral,educacao-hipster-ou-nao,70002727727

Assinale a alternativa em que a palavra foi formada por parassíntese.

Alternativas
Comentários
  • gabarito C - enriquecer - pelo mesmo motivo da palavra empobrecer explicado a seguir...

    As palavras derivam-se por prefixação, sufixação, prefixação e sufixação, parassíntese e, ainda, derivação imprópria ou regressiva. Em nosso estudo, enfocaremos os processos de derivação parassintética e derivação prefixal e sufixal.

    Pensemos na palavra entardecer, ela é primitiva ou derivada? Considerando o significado dessa palavra, é possível entender que ela é derivada, pois se originou da palavra tarde, considerada primitiva, porque é a origem. A seguir, dividiremos a palavra entardecer em morfemas para facilitar o estudo.

    ENTARDECER

    • Todo afixo colocado antes do radical recebe o nome de prefixo (destacado de azul);
    • O morfema que transmite a informação lexical é o radical; no exemplo, está em vermelho;
    • sufixo (destacado em verde) aparece sempre após o radical.

    A presença dos afixos (prefixo e sufixo) na palavra entardecer indica que ela é derivada, mas por qual processo? Pela parassíntese ou derivação prefixal e sufixal?

    O primeiro passo é entender o que há em comum entre os dois processos. Ambos são formados através do uso de prefixo e sufixo. Veja alguns exemplos e perceba que em todos os dois afixos aparecem:

    1. Infelizmente;
    2. Empobrecer;
    3. Anoitecer;
    4. Ensaboar.

     Agora, analisemos em que se diferenciam. No primeiro exemplo, a palavra primitiva é feliz. Existe a palavra infeliz? E se eliminarmos só o prefixo, existe felizmente? Sim, ambas as palavras fazem parte do nosso léxico. Se fizermos o mesmo processo com a palavra empobrecer, continuará fazendo sentido se eliminarmos um dos afixos? Analise:

    Empobre pobrecer

    Claro que o sentido da palavra ficou comprometido sem os afixos. Está aqui a diferença entre a derivação parassintética e a prefixal e sufixal. Na parassíntese, é impossível retirar um dos afixos sem que haja perda de sentido. Já no segundo processo, é possível retirar um deles e, ainda assim, a palavra manter seu significado.

    Sintetizando:

    Derivação parassintética ou parassíntese = não é possível retirar os afixos.

    Derivação prefixal e sufixal = permite a retirada de um dos afixos.

    https://www.preparaenem.com/portugues/parassintese-ou-derivacao-prefixal-sufixal.htm

  • gab. C.

    rapidinho...

    a derivação parassintética ocorre quando é adicionada um prefixo e um sufixo à palavra e, na retirada de um desses, a palavra deixará de existir.

    ex: Anoitecer (caso eu retire um prefixo ou sufixo a palavra deixar de existir). Assim como Enriquecer.

    FICA LIGADO!

    Existe a derivação prefixal e sufixal em que é adicionada à palavra um prefixo e um sufixo, porém, se eu retirar um deles, a palavra ainda existirá.

    ex: incapacidade

  • GABARITO - C

    Enriquecer

    Na derivação parassintética a retirada de um dos afixos ( Prefixo / Sufixo ) compromete

    a existência da palavra.

    EX:

    Enraivecer

    Raivecer ❌ 

    Na derivação prefixal e sufixal a retirada de um dos afixos não compromete a existência da palavra.

    Infelizmente

    Felizmente 

    Infeliz