- ID
- 5182891
- Banca
- Instituto Excelência
- Órgão
- Prefeitura de Taubaté - SP
- Ano
- 2019
- Provas
- Disciplina
- Português
- Assuntos
Leia o texto e responda a questão:
O padeiro
Levanto cedo, faço minhas abluções, ponho a chaleira no
fogo para fazer café e abro a porta do apartamento – mas
não encontro o pão costumeiro. No mesmo instante me
lembro de ter lido alguma coisa nos jornais da véspera
sobre a “greve do pão dormido”. De resto não é bem uma
greve, é um lockout, greve dos patrões, que suspenderam
o trabalho noturno; acham que obrigando o povo a tomar
seu café da manhã com pão dormido conseguirão não sei
bem o que do governo. Está bem. Tomo o meu café com
pão dormido, que não é tão ruim assim. E enquanto tomo
café vou me lembrando de um homem modesto que
conheci antigamente. Quando vinha deixar o pão à porta
do apartamento ele apertava a campainha, mas, para não
incomodar os moradores, avisava gritando: – Não é
ninguém, é o padeiro! Interroguei-o uma vez: como tivera
a ideia de gritar aquilo? “Então você não é ninguém?” Ele
abriu um sorriso largo. Explicou que aprendera aquilo de
ouvido. Muitas vezes lhe acontecera bater a campainha de
uma casa e ser atendido por uma empregada ou outra
pessoa qualquer, e ouvir uma voz que vinha lá de dentro
perguntando quem era; e ouvir a pessoa que o atendera
dizer para dentro: “não é ninguém, não senhora, é o
padeiro”. Assim ficara sabendo que não era ninguém…
Ele me contou isso sem mágoa nenhuma, e se despediu
ainda sorrindo. Eu não quis detê-lo para explicar que
estava falando com um colega, ainda que menos
importante. Naquele tempo eu também, como os padeiros,
fazia o trabalho noturno. Era pela madrugada que deixava
a redação de jornal, quase sempre depois de uma
passagem pela oficina – e muitas vezes saía já levando na
mão um dos primeiros exemplares rodados, o jornal ainda
quentinho da máquina, como pão saído do forno. Ah, eu
era rapaz, eu era rapaz naquele tempo! E às vezes me
julgava importante porque no jornal que levava para casa,
além de reportagens ou notas que eu escrevera sem
assinar, ia uma crônica ou artigo com o meu nome. O
jornal e o pão estariam bem cedinho na porta de cada lar;
e dentro do meu coração eu recebi a lição de humildade
daquele homem entre todos útil e entre todos alegre; “não
é ninguém, é o padeiro!” E assobiava pelas escadas.
(Rubem Braga. Disponível em:
http://www.sul21.com.br/jornal/2013/01/100-anos-do-mestre-da-cronicarubem-braga/)
De acordo com o texto, o que melhor sintetiza a
mensagem transmitida é: