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ID
5199037
Banca
IESES
Órgão
Prefeitura de Palhoça - SC
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Leia o texto a seguir com atenção.
“[...]Convidei-o a desmontar, a entrar. Disse de não, conquanto os costumes. Conservava-se de chapéu. Via-se que passara a descansar na sela — decerto relaxava o corpo para dar-se mais à ingente tarefa de pensar. Perguntei: respondeu-me que não estava doente, nem vindo à receita ou consulta. Sua voz se espaçava, querendo-se calma; a fala de gente de mais longe, talvez são-franciscano. Sei desse tipo de valentão que nada alardeia, sem farroma. Mas avessado, estranhão, perverso brusco, podendo desfechar com algo, de repente, por um és-não-és. Muito de macio, mentalmente, comecei a me organizar. Ele falou:  
—"Eu vim preguntar a vosmecê uma opinião sua explicada...
[...]Saiba vosmecê que, na Serra, por o ultimamente, se compareceu um moço do Governo, rapaz meio estrondoso... Saiba que estou com ele à revelia... Cá eu não quero questão com o Governo, não estou em saúde nem idade... O rapaz, muitos acham que ele é de seu tanto esmiolado...
[...] Vosmecê agora me faça a boa obra de querer me ensinar o que é mesmo que é: fasmisgerado... fazmegerado... falmisgeraldo... familhas-gerado...?”
— Famigerado?
— “Sim senhor…” — e, alto, repetiu, vezes, o termo, enfim nos vermelhões da raiva, sua voz fora de foco. E já me olhava, interpelador, intimativo — apertava-me. Tinha eu que descobrir a cara. — Famigerado? Habitei preâmbulos. Bem que eu me carecia noutro ínterim, em indúcias. Como por socorro, espiei os três outros, em seus cavalos, intugidos até então, mumumudos. Mas, Damázio: 
— “Vosmecê declare. Estes aí são de nada não. São da Serra. Só vieram comigo, pra testemunho…” Só tinha de desentalar-me. O homem queria estrito o caroço: o verivérbio.
— Famigerado é inóxio, é “célebre”, “notório”, “notável”… 
— “Vosmecê mal não veja em minha grossaria no não entender. Mais me diga: é desaforado? É caçoável? É de arrenegar? Farsância? Nome de ofensa?”
— Vilta nenhuma, nenhum doesto. São expressões neutras, de outros usos…
— “Pois… e o que é que é, em fala de pobre, linguagem de em dia-de-semana?”
— Famigerado? Bem. É: “importante”, que merece louvor, respeito… 
— “Vosmecê agarante, pra a paz das mães, mão na Escritura?”
Se certo! Era para se empenhar a barba. Do que o diabo, então eu sincero disse:
— Olhe: eu, como o sr. me vê, com vantagens, hum, o que eu queria uma hora destas era ser famigerado — bem famigerado, o mais que pudesse!…
— “Ah, bem!…” — soltou, exultante.  
Saltando na sela, ele se levantou de molas. Subiu em si, desagravava-se, num desafogaréu. Sorriu-se, outro. Satisfez aqueles três: — “Vocês podem ir, compadres. Vocês escutaram bem a boa descrição…” — e eles prestes se partiram. Só aí se chegou, beirando-me a janela, aceitava um copo d’água. Disse: — “Não há como que as grandezas machas duma pessoa instruída!” Seja que de novo, por um mero, se torvava? Disse: — “Sei lá, às vezes o melhor mesmo, pra esse moço do Governo, era ir-se embora, sei não…” Mas mais sorriu, apagarase-lhe a inquietação. Disse: — “A gente tem cada cisma de dúvida boba, dessas desconfianças… Só pra azedar a mandioca…” Agradeceu, quis me apertar a mão. Outra vez, aceitaria de entrar em minha casa. Oh, pois. Esporou, foi-se, o alazão, não pensava no que o trouxera, tese para alto rir, e mais, o famoso assunto.”  
(Rosa, Guimarães. O Famigerado. Em: Primeiras Histórias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988, p.13. http://contobrasileiro.com.br/famigerado-conto-de-guimaraes-rosa/)

A partir da leitura acima, podemos afirmar que:  
I. O narrador da história é da área da saúde, possivelmente um médico, e o homem que vem a sua casa vem a cavalo e acompanhado de três cavaleiros. Ele quer saber o significado de uma palavra, dita por um oficial do governo, pelo que podemos entender. Nesta situação, o médico é interpelado pelo homem, que busca saber se essa palavra é uma ofensa ou não. O médico dá uma porção de significados ao homem, mas nenhuma delas dá o significado real com que a palavra deveria ser entendida.
II. O narrador da história hesita, não quer dar o significado da palavra que o cavaleiro pede. No final, o cavaleiro fica satisfeito com a explicação do narrador, que deduzimos ser médico, confiando na sabedoria de seu interlocutor.
III. O cavaleiro busca saber o significado da palavra famigerado pois não teve oportunidade de estudar, por viver em um lugar ermo e de difícil acesso. De forma que, buscando uma pessoa de confiança, procura o narrador, que deduzimos ser médico, pois confiar que ele saberia explicar essa palavra.
IV. O narrador hesita ao dar o significado para o cavaleiro, pois pensa que o homem e seus acompanhantes podem querer fazer mal a ele, caso conheça a real acepção de famigerado. O narrador, nesse caso, dá outras palavras, com conotações positivas, mas mesmo assim os outros cavaleiros ficam desconfiados.  
Assinale a alternativa correta, em relação às assertivas acima:

Alternativas