SóProvas


ID
5219908
Banca
FUNDEP (Gestão de Concursos)
Órgão
CRM - MG
Ano
2021
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Leia o texto a seguir, para responder à questão. 


No fundo, todos estamos nos transformando um

pouco em gatos


“Você acredita que os patos sabem que é Natal?” Essa foi a pergunta que meu amigo Miguel me fez em uma véspera de Ano Novo, enquanto atravessávamos o Campo de São Francisco, em Oviedo. Nem as horas nem o frio convidavam a ficar lá filosofando sobre o assunto, mas o debate continuou ao longo do caminho. Demos como certo que os peixes nos tanques certamente não; os patos e perus, talvez um pouco (tampouco muito); mas os que certamente estavam a par eram os cães e os gatos (não entramos na fauna selvagem, já que o trajeto era curto. Era Oviedo, não Nova York).


Anos depois, nós dois adotamos uma gata. Na quarta-feira de manhã eu lhe mandei uma mensagem perguntando se Lola, a dele, sabia que algo estava acontecendo (obviamente, falando da crise do coronavírus). “Sim, sim, sim, mais carinhosa que nunca, se for possível. Alucinada porque estamos o dia todo em casa”, foi sua resposta.


Mía e Atún — meus gatos — também estão surpresos. Na verdade, fui pegar as roupas da máquina de lavar e, quando saí, encontrei os dois me esperando no corredor, sentados juntos, olhando para mim com cara de “ei, por que você está passando o dia inteiro em casa? Tem algo a nos contar?” Normalmente, quando chego em casa, os dois vêm me encontrar e me fazem um pouco de festa (se deitam de barriga, se esfregam em mim). Estes dias se dedicam a me seguir pelo apartamento, como se suspeitassem de meus atos. E me fazem festa quando saio de casa para levar o lixo ou ir às compras, é claro. Percebo uma certa cara de insatisfação quando veem que volto em cinco minutos.


Há quem diga que quem, como eu, convive com animais e esteja um pouco fraco da cabeça lhes atribui capacidades humanas que eles não têm. Pode ser. Mas o fato é que percebem alguma coisa. Vamos ver, você não precisa ser um gênio para se dar conta de que seu dono está há trocentos dias sem sair de casa, de que na rua só se vê gente com cachorros (falaremos sobre isso mais tarde) ou que se pode ouvir perfeitamente os pássaros ou os sinos das igrejas. Não sei como é com vocês, mas, comigo, quando choro, Mía se aproxima e coloca sua cara contra a minha. Não sei se percebe ou o quê, mas as mudanças de humor chamam sua atenção.


Esses dias também estão servindo para conhecer melhor nossos animais de estimação. Os donos de gatos muitas vezes se perguntam o que eles fazem quando não estamos em casa. Eu já te digo: dormem, basicamente. Dormem de 12 a 16 horas por dia. Ou seja, são seres quase perfeitos para o isolamento. O que não sei é se, quando estou em casa, param de fazer as coisas que normalmente fazem. Nos últimos dias não os vi arranhar o sofá em nenhum momento. Talvez não queiram nos deixar rastros.


Eles também estão se dando melhor. Mía tem quatro anos e Atún, dez meses. Passam o dia às turras. Quando não é um, é o outro. Atún tem a energia da infância e Mía é diligentemente sinuosa para criar problemas: sempre faz Atún parecer culpado. Ultimamente as brigas são mais esporádicas. Até dormem juntos e limpam um ao outro.


Mas, cuidado, isso não quer dizer que vão se adaptar às novas circunstâncias. Atún me acorda todos os dias às 7h25, ou seja, cinco minutos antes do que o despertador normalmente faz. Dizia Jim Davis: “Os gatos sabem instintivamente a hora exata em que seus donos vão acordar, e eles os acordam dez minutos antes”. Atún me deixa esses cinco minutos de cortesia, mas, mesmo em confinamento, ainda continua sendo escrotamente gato.


Porque não deixam de ser gatos, é claro. Nos últimos dias comecei um jogo de xadrez virtual, mas real, com meu amigo Jaime. Isto é: o tabuleiro é físico, e enviamos fotos um ao outro com os movimentos de ambos, de tal forma que é necessário mover as brancas e as pretas (já deixo claro). Bem, agora minha casa é um xadrez. Uma torre no quarto, um peão no banheiro, o rei forçosamente sob cobertura atrás de uma planta e Mía, é claro, sentada no centro do tabuleiro, entre as pretas e as brancas. Xeque-Mate.


Também há dias para aprofundar o debate sobre se é melhor ter como mascote um cão ou um gato. Não vamos nos deixar levar pela euforia do momento. Hoje, os cães são um bem valioso, porque te permitem sair a caminhar. Uma espécie de salvo-conduto. Tenho amigos que saem com ele cinco vezes por dia. Mas não são tempos de confronto, e sim para estar unidos. Os cães, pelo que me dizem, também surtam com o que está acontecendo. Eles só veem cães na rua e os parques estão fechados. Também não é preciso ser um lince (felino) para perceber que está acontecendo alguma coisa. Da altivez que provém da convivência com um gato, nós, que compartilhamos a vida com um, cumprimentamos os donos de cães e nos congratulamos que os ajudem nessa situação que, mesmo que seja pequena, compensa de alguma forma por todo esse cair da cama e essas noites de chuva em que também é preciso sair à rua.


São dias estranhos. De 24 horas em casa. Dos gatos aparecendo nas reuniões de teletrabalho (e arrancando um sorriso dos participantes), e já se sabe que não há nada que deva ser interposto entre a atenção de um e o felino. No fundo, todos estamos nos transformando um pouco em gatos. Agora sabemos como é difícil racionar as visitas à geladeira-comedor se você fica o dia inteiro em casa. E como é fácil cair no sono no sofá assim que o dia de trabalho termina. Mas são dias precisamente para isso: para ser gatos. Não é uma estratégia tão ruim: é o único animal que conseguiu dominar a internet sem precisar manejar a tecnologia. Por alguma razão estará dando tão certo para eles.


Disponível em: <https://bit.ly/2xwO2YZ>.

Acesso em: 27 mar. 2020 (Adaptado).

Esse texto é, predominantemente, um(a)

Alternativas
Comentários
  • nossa, jurava que fosse crônica

  • O que vêm a ser a crônica ?

    • crônica é um gênero textual curto escrito em prosa, geralmente produzido para meios de comunicação, por exemplo, jornais, revistas, etc. Além de ser um texto curto, possui uma "vida curta", ou seja, as crônicas tratam de acontecimentos corriqueiros do cotidiano.

    O artigo de fato se trata de um ''artigo de opinião''. Tendo em vista que o autor expõe sua opinião em diversas passagens e além disso, refere-se em primeira pessoa em várias passagens do texto.

    Exemplo: ''Bem, agora minha casa é um xadrez. Uma torre no quarto, um peão no banheiro, o rei forçosamente sob cobertura atrás de uma planta e Mía, é claro, sentada no centro do tabuleiro, entre as pretas e as brancas. Xeque-Mate.''

  • Heinsenberg, não entendi. A crônica não pode ser escrita em primeira pessoa?

  • Vejo crônica.

  • Não concordo com sobre a explicação de primeira pessoa

    "As crônicas narrativas envolvem os mais diversos tipos de narrador (foco narrativo) e, portanto, podem ser narradas em primeira ou terceira pessoa."

    A resposta é artigo de opinião desde o título "No fundo, todos estamos nos transformando um pouco em gatos", ou seja, essa é a opinião dele e depois ele manda uma coisa parecida como crônica/narrativa para justificar.

  • ARGUMENTATIVO - DISSERTATIVO: Defende uma tese, argumenta para validar opinião.

  • discordo, kkkkkk, "artigo de opinião", os artigos de opinião objetivam lançar mão de opiniões sobre o mundo concreto, ou seja, seu foco está em uma questão de cunho político, religioso, cotidiano etc., existe um direcionamento , um engajamento, claro que há subjetividade, pois é o ponto de vista racionalizado do autor, mas essa subjetividade tende à objetividade, pois a opinião se reflete sobre coisas concretas do mundo, ou seja, o autor não pode fugir do verossímil, sua opinião é transmitida de forma CLARA, não há abundância de figuras de linguagem, pois o artigo de opinião tende, como eu já disse, à objetividade.

    ___________

    o texto da questão é claramente uma CRÔNICA, algumas passagens deixem transparecer opiniões do autor, e é exatamente isso que ocorre numa crônica, uma crônica parte de elementos subjetivos e geralmente experimentados pelo autor no seu dia a dia para servir-lhe de base para divagações, desabafos, tudo muito rico em subjetividade, em drama, em seriedade, tudo muito propenso a mudar de foco, as opiniões são quase sempre disfarçadas , intrincadas, seu objetivo principal não é informar ou opinar, mas sim desafogar a própria produção literária que se pretende fazer existir, tornando-a esteticamente franca, atraente aos olhos dos que se familiarizam, dos que conseguem captar a carga emocional do autor. É, definitivamente, uma crônica. NÃO UM ARTIGO DE OPINIÃO.

  • recurso neles XD

  • GABARITO ERRADO É CRÔNICA

    Crônica é um gênero textual curto escrito em prosa, geralmente produzido para meios de comunicação, por exemplo, jornais, revistas, etc.

    Além de ser um texto curto, possui uma "vida curta", ou seja, as crônicas tratam de acontecimentos corriqueiros do cotidiano.

    Do latim, a palavra “crônica” (chronica) refere-se a um registro de eventos marcados pelo tempo (cronológico); e do grego (khronos) significa “tempo”.

    Portanto, elas estão extremamente conectadas ao contexto em que são produzidas, por isso, com o passar do tempo ela perde sua “validade”, ou seja, fica fora do contexto.

    As características das crônicas

    ·        narrativa curta;

    ·        uso de uma linguagem simples e coloquial;

    ·        presença de poucos personagens, se houver;

    ·        espaço reduzido;

    ·        temas relacionados a acontecimentos cotidianos.

    Tipos de crônicas

    Embora seja um texto que faz parte do gênero narrativo (com enredo, foco narrativo, personagens, tempo e espaço), há diversos tipos de crônicas que exploram outros gêneros textuais.

    Podemos destacar a crônica descritiva e a crônica dissertativa. Além delas, temos:

    ·        Crônica Jornalística: mais comum das crônicas da atualidade são as crônicas chamadas de “crônicas jornalísticas” produzidas para os meios de comunicação, onde utilizam temas da atualidade para fazerem reflexões. Aproxima-se da crônica dissertativa.

    ·        Crônica Histórica: marcada por relatar fatos ou acontecimentos históricos, com personagens, tempo e espaço definidos. Aproxima-se da crônica narrativa.

    ·        Crônica Humorística: Esse tipo de crônica apela para o humor como forma de entreter o público, ao mesmo tempo que utiliza da ironia e do humor como ferramenta essencial para criticar alguns aspectos seja da sociedade, política, cultura, economia, etc.

  • Para ser crônica não teria que ser um texto curto?

    Entre as principais características da crônica, é possível destacar a linguagem simples, objetiva e o texto curto.crônica é um tipo de texto que chama atenção pelo seu tom mais leve, muitas vezes irônico e humorístico, prendendo a atenção do leitor por contar a história de forma rápida e sem grandes detalhamentos.

  • Apesar de se parecer com uma crônica, a banca quis que o aluno notasse que o autor passou todo o texto defendo a tese que de "No fundo, todos estamos nos transformando um pouco em gatos", ou seja, um texto do tipo dissertativo de gênero Artigo de opinião

  • Achei que fosse crônica, mas indo à fonte da notícia, no próprio texto do "el país" diz que se trata de um texto de opinião.

    OPINIÃO

    i

    Texto em que o autor defende ideias e chega a conclusões basadas na sua interpretação dos fatos e dados ao seu dispor