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ID
5256463
Banca
CESPE / CEBRASPE
Órgão
PM-TO
Ano
2021
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto 1A1-I

      Apenas dez anos atrás, ainda havia em Nova York (onde moro) muitos espaços públicos mantidos coletivamente nos quais cidadãos demonstravam respeito pela comunidade ao poupá-la das suas intimidades banais. Há dez anos, o mundo não havia sido totalmente conquistado por essas pessoas que não param de tagarelar no celular. Telefones móveis ainda eram usados como sinal de ostentação ou para macaquear gente afluente. Afinal, a Nova York do final dos anos 90 do século passado testemunhava a transição inconsútil da cultura da nicotina para a cultura do celular. Num dia, o volume no bolso da camisa era o maço de cigarros; no dia seguinte, era um celular. Num dia, a garota bonitinha, vulnerável e desacompanhada ocupava as mãos, a boca e a atenção com um cigarro; no dia seguinte, ela as ocupava com uma conversa importante com uma pessoa que não era você. Num dia, viajantes acendiam o isqueiro assim que saíam do avião; no dia seguinte, eles logo acionavam o celular. O custo de um maço de cigarros por dia se transformou em contas mensais de centenas de dólares na operadora. A poluição atmosférica se transformou em poluição sonora. Embora o motivo da irritação tivesse mudado de uma hora para outra, o sofrimento da maioria contida, provocado por uma minoria compulsiva em restaurantes, aeroportos e outros espaços públicos, continuou estranhamente constante. Em 1998, não muito tempo depois que deixei de fumar, observava, sentado no metrô, as pessoas abrindo e fechando nervosamente seus celulares, mordiscando as anteninhas. Ou apenas os segurando como se fossem a mão de uma mãe, e eu quase sentia pena delas. Para mim, era difícil prever até onde chegaria essa tendência: Nova York queria verdadeiramente se tornar uma cidade de viciados em celulares deslizando pelas calçadas sob desagradáveis nuvenzinhas de vida privada, ou de alguma maneira iria prevalecer a noção de que deveria haver um pouco de autocontrole em público? 

Jonathan Franzen. Como ficar sozinho. São Paulo:
Companhia das Letras, 2012, p. 17-18 (com adaptações).

Tendo como referência as ideias e os sentidos do texto 1A1-I, julgue os itens a seguir.

I O autor considera que o celular promove uma invasão do espaço privado pelo espaço coletivo.
II Antes de os celulares se tornarem comuns, o autor admirava as pessoas que circulavam com o telefone pelas ruas de Nova York.
III No trecho “o sofrimento da maioria contida, provocado por uma minoria compulsiva em restaurantes, aeroportos e outros espaços públicos, continuou estranhamente constante”, existe uma relação de oposição entre os vocábulos “contida” e “compulsiva”.

Assinale a opção correta.

Alternativas
Comentários
  • GAB: B) Apenas o item III está certo.

    I (E) O autor considera que o celular promove uma invasão do espaço privado pelo espaço coletivo.

    Foi o inverso do enunciado. Houve uma invasão do espaço coletivo pelo privado.

    "... muitos espaços públicos mantidos coletivamente nos quais cidadãos demonstravam respeito pela comunidade ao poupá-la das suas intimidades banais"

    II (E) Antes de os celulares se tornarem comuns, o autor admirava as pessoas que circulavam com o telefone pelas ruas de Nova York.

    Em todo o texto o autor se encontra incomodado com essa situação.

    III (C) No trecho “o sofrimento da maioria contida, provocado por uma minoria compulsiva em restaurantes, aeroportos e outros espaços públicos, continuou estranhamente constante”, existe uma relação de oposição entre os vocábulos “contida” e “compulsiva”.

    Maioria contida: uma maioria que se controla, que se domina.

    Minoria Compulsiva: uma minoria descontrolada com o uso do celular.

  • Ótima análise Cap Nascimento

  • LETRA: B

    Provocado por uma minoria compulsiva em restaurantes, aeroportos e outros espaços públicos, continuou estranhamente constante.

  • Esta é uma questão de interpretação textual e, portanto, exige leitura atenta do texto. O fragmento aborda as mudanças das interações sociais em função da popularização do aparelho celular em Nova York.

    É importante, nesse momento, analisar todos os itens apresentados.

    I. Incorreto. Na verdade, o autor está defendendo o contrário: que a esfera privada invadiu o espaço público. Com o advento do celular e, portanto, da mobilidade proporcionada por esse tipo de tecnologia, conversas que eram privadas passaram a ocorrer em espaços públicos como restaurantes e aeroportos.

    II. Incorreto. Ao refletir sobre o uso do celular antes da popularização, o autor utiliza termos nada elogiosos como "tagarelar" ou "macaquear". Tais escolhas revelam que o autor considerava esse comportamento uma forma de ostentação ou para forjar uma importância. Logo, não havia admiração pelas pessoas que circulavam utilizando o telefone celular em locais públicos.

    III. Correto. Os vocábulos "contida" e "compulsiva" são utilizados para qualificar os termos antecedentes "maioria" e "minoria", formando uma relação de oposição entre as pessoas que respeitam o espaço público e as que não respeitam. 

    Como o único item correto é o item III, a alternativa correta é a letra B.

    Gabarito da Professora: Letra B.
  • Essa dá pra acertar por exclusão da II, que está claramente errada, haja vista que o autor considera que o motivo de sua irritação mudou.. ou seja, antes era o cigarro e, hoje em dia, o celular. Então, ele não admirava as pessoas que andavam nas ruas antigamente, pelo contrário, se incomodava com elas.